Três esculturas de Belén Uriel
Belén Uriel (1974) nasceu em Madrid, onde se licenciou, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade Complutense. Posteriormente, fez o Mestrado no Chelsea College of Arts and Design em Londres, cidade onde viveu entre 2003 e 2008, altura em que se mudou para Lisboa, onde atualmente vive e trabalha.
Invocando um legado modernista, a prática artística de Belén Uriel propõe uma reflexão sobre os objetos do quotidiano e de consumo (mobília, roupa, acessórios, utensílios) na sua relação com o corpo e com os espaços habitados, e a forma como estes objetos condicionam os nossos hábitos sociais. Esta relação e negociação entre corpo, objeto, design e arquitetura, leva a artista a trabalhar e a interrogar igualmente os próprios espaços museológicos e expositivos, reflexão que se estende às práticas do display, jogando com as formas de expor a sua obra.
Focando-se nas qualidades escultóricas de materiais como o papel, o metal ou, mais recentemente, o vidro, com o qual tem trabalhado de forma consistente nos últimos anos. o seu trabalho procura estudar as relações entre o corpo humano e os objetos que cria, originalmente desenhados para proteger, segurar, envolver e empoderar o corpo.
Recentemente, a artista iniciou uma colaboração com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que lhe permitiu consolidar a técnica do vidro, conduzindo a novas séries de esculturas, entre as quais se incluem as três obras adquiridas para a Coleção do CAM: os biombos Quão I e Quão II, ambos criados em 2022, e a pequena escultura The Fairy Place, datada de 2018.
Uma das primeiras esculturas da artista em vidro, The Fairy Place inspira-se no Glasbauspiel, o jogo de construção composto por blocos de vidro coloridos, criado pelo arquiteto, urbanista e ensaísta alemão Bruno Taut cujo projetos carregam uma forte componente visionária e utópica. Esta obra cruza a pedagogia, o design industrial e a arquitetura, remetendo para o Pavilhão de Vidro desenhado pelo arquiteto em 1914.
A aquisição destas obras marca a entrada da artista na Coleção do CAM, representando um reforço na área da escultura, minoritária em relação à pintura e ao desenho. Tratando-se de uma artista espanhola a viver em Portugal, esta incorporação revela ainda uma atenção à cena artística nacional, que em anos recentes tem contado com um número crescente de artistas estrangeiros, permitindo estabelecer diálogos com artistas portugueses.