«Sun & Sea»: imersos na ansiedade do colapso climático
Numa praia instalada no palco do Auditório Emílio Rui Vilar, na Culturgest, encontramos o que pode ser descrito como um dia normal de férias de verão, durante o qual várias personagens descansam das suas vidas quotidianas. De cima de andaimes, o público observa brincadeiras de crianças, grupos que conversam, jogam cartas, veraneantes que leem…
Ruídos de fundo evocam o rebentar de ondas, os aviões a passar e as atividades comerciais típicas da época veraneante. Corpos suados, relaxados e cobertos de protetor solar convivem, enquanto partilham as frustrações dos seus estilos de vida ou descrevem o que veem à sua volta.
À primeira vista, as personagens parecem apenas partilhar simples preocupações, desejos para o futuro ou memórias passadas. Solos e duetos são intercalados pelo coro, que ecoa o que acabou de ser dito, ou há uma repetição de avisos– como usar protetor solar e não deixar as crianças sozinhas, – ou os veraneantes contam sobre a erupção de um vulcão ou dos seus fatos de banho a apanharem cada vez mais algas.
O cenário e a apresentação desta ópera-performance oferecem ao público uma experiência imersiva. No desenrolar da ópera-performance, o público vai-se apercebendo da profundidade das causas e das consequências do que é partilhado: as alterações climáticas. Estamos diante de um tema presente e urgente, aqui abordado de uma maneira indireta, mas que cria várias tensões nas personagens.
A ópera-performance Sun & Sea é uma criação das artistas lituanas Rugilė Barzdžiukaitė, realizadora e diretora de teatro, Vaiva Grainytė, poeta e dramaturga, e Lina Lapelytė, compositora e música. Com a curadoria de Lucia Pietroiusti, esta é a segunda colaboração entre as três artistas, marcada pela forma como exploraram as relações entre as suas áreas profissionais.
Foi apresentada pela primeira vez em 2017, na National Gallery de Vilnius, e em 2019 foi selecionada para representar a Lituânia na 58.ª edição da Bienal de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro. Desde aí já foi apresentada em vários países, mesmo durante a pandemia, integrando agora a edição de 2022 do Alkantara Festival.