Embora o meu percurso tenha sido muito associado, principalmente nos anos 90, ao kitsch e ao sublime, a partir de certa altura interessaram-me temáticas mais «vulgares». Isso manifestou-se em várias séries de trabalhos, com temas como: animais de estimação, cadeiras, gadgets, banda-desenhada, pornografia, snapshots, retratos, comida… e carnes.
Esta pintura foi a última de uma série iniciada em 2002, com temas do quotidiano (comida/alimentação). Nesse ano realizei uma exposição, chamada Dia a dia, em que exibi pinturas a óleo sobre tela, de grande formato, e em que, dada a composição e a ampliação dos motivos, os alimentos ganhavam uma dimensão paisagística.
Rosa Carvalho, «Posta», 2013. Inv. 19P1906
No seguimento dessa série foram surgindo, ao longo dos anos, outros trabalhos (de pequeno formato sobre papel) em que a temática alimentar se restringiu à representação da «carne» na sua dimensão mais crua (vísceras, postas e ossos). Os motivos, aí, já não tinham um cunho paisagístico, surgindo antes isolados sobre um fundo neutro.
A pintura Posta corresponde a um retomar do jogo de escala e das grandes dimensões dos primeiros trabalhos, mas incidindo na representação da «carne» como elemento brutal e desmesurado.
Série
Novas leituras
Nesta rubrica, artistas, curadores, historiadores e investigadores convidados refletem sobre a Coleção do CAM, explorando diferentes perspetivas e criando relações por vezes inesperadas. Partindo de uma obra, de um artista ou de uma temática específica, estes textos propõem novas formas de ver e pensar a Coleção à luz do contexto histórico atual.