Obras de Fayga Ostrower no CAM
Gravadora, pintora, desenhadora, ilustradora, teórica da arte e professora, Fayga Ostrower (1920-2001) nasceu em Lodz, na Polónia, e viveu na Alemanha de 1921 a 1933, fugindo para o Brasil em 1934, no seguimento da ascensão do regime nazi. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde frequentou o curso de Artes Gráficas na Fundação Getúlio Vargas, sendo aluna de Axl Leskoschek, Carlos Oswald, Hanna Levy-Deinhard, entre outros.
A sua primeira exposição individual foi realizada na Galeria Itapetininga, em São Paulo, e apresentava obras da fase figurativa expressionista, entre as quais se encontravam desenhos, gravuras em metal, linóleos e xilogravuras. Em 1955, depois de receber uma bolsa da Fulbright, a artista mudou-se para Nova Iorque durante um ano, onde estudou gravura com o conhecido gravador Stanley Hayter.
Entre 1954 e 1970, foi professora no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, lecionou no Spelman College, em Atlanta, e na Slade School of Fine Art da Universidade de Londres, além de ter sido professora em várias universidades brasileiras. Durante estes anos, desenvolveu cursos para operários em centros comunitários, com o objetivo de divulgar a arte.
Em 1977, a Fundação Gulbenkian dedicou-lhe uma exposição, no seguimento da qual foram adquiridas duas gravuras que hoje fazem parte da Coleção o Centro de Arte Moderna. Cerca de uma década mais tarde, a artista participou numa exposição de gravura brasileira no Edifício Sede da Fundação. Realizou também várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no estrangeiro, tendo recebido importantes prémios.
O Instituto Fayga Ostrower foi fundado em 2002, após a morte da artista, com o objetivo de divulgar e preservar a sua obra. Em torno do centenário do seu nascimento, que decorreu em 2020, o Instituto doou à Fundação um conjunto de gravuras da sua autoria, selecionadas tendo em conta as duas obras abstratas que foram adquiridas em 1977 (invs. GE629 e GE630).
Fayga associa-se ao Expressionismo alemão, quer por razões de afinidades linguísticas e culturais, quer pelo crescimento e pela expansão da gravura no Brasil. A sua obra aproxima-se da artista alemã Käthe Kollwitz, que aborda temáticas sociais, sobretudo relacionadas com o feminino: é precisamente neste sentido que se desdobram quatro das gravuras doadas datadas do início da década de 1950 – Cabeça de Mulata, Mulheres da favela, Maternidade e Sem título (Duas mulheres e uma criança) –, dedicadas à mulher, ao trabalho e à maternidade.
A xilogravura 5822 (1958), já com um registado totalmente diferente do anterior, de cariz abstratizante, faz parte do conjunto de obras doadas e teve um exemplar exposto na XXIX Bienal de Veneza, em 1958.