Novas obras de Paulo Nozolino
Paulo Nozolino é uma das figuras maiores da fotografia contemporânea. O seu percurso internacional começana década de 1970 em Londres, cidade para onde vai viver e estudar, na London College of Printing. No final dos anos de 1980, e na década seguinte, instala-se em Paris, deslocando-se com regularidade ao mundo árabe e na Europa, depois da queda do muro de Berlim.
As suas fotografias de viagem não são reportagens nem documentários. Usa uma Leica, fotografa a preto e branco, em analógico, resistindo à violência do progresso, à dependência das tecnologias, ao digital, à aceleração.
As obras Penumbra – uma coleção de fotografias realizadas em países árabes, como Egito, Síria, Marrocos, Iémen, Mauritânia, Jordânia e Líbano – e Solo –um conjunto de fotografias realizadas durante 15 anos na Europa – são exemplos das suas preocupações políticas, críticas da evolução da sociedade.
Depois de uma retrospetiva na Maison européenne de la photographie, intitulada Nada, regressa a Portugal em 2002. É convidado para uma nova retrospetiva – Far Cry – no Museu de Serralves de Porto, em 2005, que pela primeira vez recebe o trabalho de um fotógrafo contemporâneo português.No mesmo ano é-lhe atribuído o 3.º Prémio Nacional de Fotografia.
Paulo Nozolino pertence a uma constelação de artistas, de rigor, de exigência, de redução, de escavar o real até ao esqueleto. Le reste est ombre é o título de uma recente exposição no Centre Pompidou, em Paris, 2022, onde participou com Pedro Costa e Rui Chafes.
O seu trabalho como fotógrafo, Paulo Nozolino assume-o como uma «prova de vida». História, decadência, pureza, eternidade, ruína, cicatrizes, morte, temposão algumas das palavras que as suas imagens evocam. O seu trabalho obriga a ver, a ver o real e em diálogo com a consciência. Como o artista afirma: «as minhas fotografias são como uma faca na água. Podem não servir para mudar o mundo,mas são alfinetadas para nos manter despertos. (…) a fotografia é a minha única maneira de lutar contra a desmemória, a minha maneira de estar vivo e a única coisa que tenho para dar».
Regressando à essência das suas escolhas, não há cor neste trabalho, nunca houve. A verdade e a inclemência das imagens, situam-se neste espectro de redução ao essencial.
Em 2022, o CAM adquiriu duas obras de Nozolino para a sua Coleção: Agrigento e Obs.1. Agrigento é uma fotografia que nasce do acaso, no momento fugaz da passagem de um animal. O bode surgiu ao artista na noite siciliana como uma aparição, com a sua carga simbólica e luminosa de resistência e espiritualidade, atravessando o negro. Obs.1 é uma obra em duas partes, dilacerada por tensões contrárias. Paulo Nozolino utiliza uma figura de retórica clássica, próxima da ideia de oxímero e cria um díptico entre a vida e a morte. À esquerda, o traçado de luz e de energia nas linhas purificadores do fogo, em frente a um vulto; à direita, a figura do pai, na última imagem que dele guardou, no hospital, com a aura de uma outra luz, muito próxima da morte. Obs.1 vem complementar a obra Obs.5, adquirida em 2009, um díptico no qual o artista representa o fim de vida de sua mãe.