Artistas Mulheres na Coleção Moderna
Isabel Laginhas, Maria Gabriel e Marina Mesquita são apenas três das artistas portuguesas que usufruíram destas bolsas de estudo, durante as décadas de 1960 e 1970, no estrangeiro ou em território nacional.
Numa altura em que Portugal atravessava o austero período da ditadura, estudar fora do país ganhava uma importância acrescida, permitindo aos artistas entrar em contacto com as novas tendências artísticas internacionais, bem como experimentar diferentes técnicas, materiais, ambientes e vivências.
Marina Mesquita
Marina Mesquita (1940-2006), escultora e mulher do artista Ângelo de Sousa, foi bolseira na St. Martin’s School of Art, em Londres, em 1967/1968. No seu boletim de inscrição afirmou que com a bolsa procurava «trabalhar numa escola de reconhecida reputação internacional».
Frank Martin, o responsável pelo Departamento de Escultura, elogiou largamente a aluna, pela qualidade e pela originalidade dos trabalhos que produziu. Fica ainda claro que Marina Mesquita entrou em contacto com novos conceitos, como o conceptualismo, e experimentou novos materiais, como o alumínio, o poliéster e o poliuterano expandido.
Umas das suas esculturas, em aço inoxidável e de cariz minimalista, esteve em exposição no Canning House de Londres, em 1970. Em junho de 1971, a Fundação adquire essa obra, que se encontra agora em exposição na nave da Coleção Moderna.
Maria Gabriel
Maria Gabriel (1937) foi várias vezes bolseira da Fundação.
Em 1968/1969 estagiou na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, em Lisboa, sob a orientação de João Navarro Hogan, procurando aperfeiçoar a gravura em metal e a xilogravura. Em 1973, recebeu outra bolsa com o objetivo de explorar a técnica da litografia, na Hochschule für Bildende Kunst, em Hamburgo, na Alemanha.
Por fim, ganhou um subsídio para, juntamente com Alice Jorge, desenvolver um manual sobre Técnicas da Gravura Artística, publicação que viria a ser editada em 1986.
A Fundação tem dezenas de obras desta artista, entre gravuras e pintura, uma delas em exposição no piso 1 da Coleção Moderna.
Isabel Laginhas
Isabel Laginhas (1942-2018), à semelhança de Maria Gabriel, obteve vários subsídios da Fundação.
Em 1976, ganhou uma bolsa para desenvolver o seu trabalho na área da tapeçaria moderna, tendo realizado obras inovadoras, de grandes dimensões, que extravasam o conceito tradicional de tapeçaria, tornando-a tridimensional.
Em 1978 conseguiu um novo subsídio para participar na Bienal de Tapeçaria de Lausanne, na Suíça.
Em 1981, obteve fundos para desenvolver as primeiras obras em camurça e em cabedal, materiais fulcrais para a consolidação da sua identidade artística, e apresentou alguns destes trabalhos na Bienal de Cerveira de 1982.
Por fim, em 1990, foi-lhe concedida uma bolsa de especialização em escultura, através da qual continuou o trabalho dedicado às esculturas-objeto. As obras atualmente expostas na nave da Coleção Moderna seguem esta linguagem.
Artistas Bolseiras
À semelhança dos casos de estudo aqui apresentados, o impacto das bolsas atribuídas pela Fundação Calouste Gulbenkian revelou-se, frequentemente, basilar para a formação e consolidação dos artistas nacionais. Também outras artistas em exposição obtiveram financiamento para aprofundarem as suas pesquisas, como Paula Rego, Fátima Vaz, Maria Beatriz, Menez ou Teresa Magalhães.