«Arco-íris» de Augusto Alves da Silva chega ao CAM

A Coleção do Centro de Arte Moderna integra uma nova fotografia de Augusto Alves da Silva, candidata ao prémio BES PHOTO 2006.
Leonor Nazaré 17 mai 2021 2 min
Obras da Coleção do CAM

Augusto Alves da Silva foi candidato ao Prémio BES PHOTO 2006 com Rainbow, obra recentemente adquirida para integrar o acervo da Coleção do CAM. Quando o artista expôs esta fotografia, com mais de dois metros de largura, no CCB, colocou um banco diante dela que permitia observá-la com tempo. O assistente de sala disse-lhe que as pessoas que ficavam mais tempo eram os idosos, o que agradou ao artista.

A imagem foi capturada em 2001, na Islândia, na mesma viagem em que fotografou parte da série Shelter, série de 35 fotografias, realizadas em Portugal e na Islândia (ver texto de Emília Tavares).

Numa plataforma vedada que serve de miradouro (talvez num barco, mas, de qualquer modo, junto ao mar, indiciado pela boia de salvação), alguém fotografa um arco-íris imenso, quase vertical, junto do qual se vislumbra um duplo esbatido na cortina de nevoeiro cerrado.

O gradeamento branco divide o espaço em dois grandes territórios: um porto seguro e uma zona favorável à evasão e à fantasia. A luz avassaladora que se desenha é obra da natureza, mas na composição do fotógrafo é obra do ponto de vista fixo e da sensibilidade plástica e deslumbrada que nos propõe.

Augusto Alves da Silva «Rainbow», 2001. Cortesia do artista

O perfecionismo técnico na realização e nas condições de perceção das fotografias faz parte das preocupações constantes do artista – de modo a preservar e a defender a emoção estética, a par da eficácia máxima da imagem. Como escreve Emília Tavares, «o purismo formal aproxima-o da escola alemã. A rigidez de enquadramento colide com as metáforas contemplativas da paisagem e qualquer relação verosímil é iludida. Os limites documentais da fotografia são expandidos, as imagens relacionam o abstrato e o real, o natural e o construído».

O artista coloca-nos na posição do observador de quem, na fotografia, observa e fotografa, assim como daquilo que é observado, à distância de uma interrogação sobre o seu grau de verdade, construção e verosimilhança. Cenário real ou «fabricado» – ou feliz coexistência de ambas as coisas –, este é um lugar suspenso entre a viagem e a memória, a paragem do tempo e o enaltecimento de uma experiência visual repetidamente conjugada no presente.

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