A Escultura no Estado Novo
Na procura de uma atualização da arte produzida em Portugal no início dos anos de 1930, persistente no seu atavismo oitocentista, António Ferro (1895-1956), ideólogo da arte do Estado Novo, impõe o modernismo como estilo oficial do regime. A sociedade, maioritariamente rural e analfabeta, governada por um regime político ditatorial ansioso de estabilização, criou as condições para que a escultura ganhasse protagonismo como veículo de propaganda de um Estado de pendor nacionalista.
Este modernismo domesticado – nos seus termos um paradoxo – encontrou condições para se impor através da vasta campanha de obras públicas lançada por Salazar (1889-1970), a partir dos anos 30, que manteve até ao estertor do regime. Por todo o território nacional, incluindo as colónias, surge, em monumentos, estátuas ou programas decorativos de edifícios públicos, a fixação em pedra ou bronze de personalidades da história de Portugal, com particular destaque para os heróis do período dos Descobrimentos, mas também escritores, poetas ou figuras religiosas. Uma estratégia de poder repetida em outros regimes totalitários da Europa e que ficou conhecida em Portugal como a Política do Espírito. Epítome dessa estratégia, a Exposição do Mundo Português, de 1940, glorificava a singularidade da ação dos portugueses no mundo, celebrando a paz num período em que a guerra assolava todo o continente europeu. No Centro de Artes das Caldas da Rainha está concentrada significativa coleção de escultura do Estado Novo, com quatro museus monográficos dedicados a escultores deste período: Leopoldo de Almeida, Barata Feyo, António Duarte e João Fragoso.