A conservação e restauro da obra Citymobil, de Costa Pinheiro
António Costa Pinheiro nasceu em Moura, no Alentejo, em 1932. Em Lisboa, estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e, posteriormente, na Escola Superior de Belas Artes, onde compartilhou experiências artísticas e criativas com René Bertholo e Lourdes Castro. Com esses companheiros, fundou o grupo KWY (“Ká Wamos Yndo”), que se tornaria um marco na vanguarda artística portuguesa. No final dos anos de 1950, Costa Pinheiro começou a expor as suas obras de inspiração abstrata em Lisboa e no Porto. Contudo, a sua trajetória artística não se limita à abstração, mas é também marcada por mudanças frequentes, com fases de intensa experimentação. Costa Pinheiro desenha com frequência e, nas suas telas, alterna entre uma pintura gestual e vigorosa e uma abordagem mais refinada, explorando delicadas nuances caligráficas.
Nos anos de 1960, já em Munique, Costa Pinheiro abandona temporariamente a pintura sobre tela para explorar um campo mais conceptual. O seu olhar volta-se agora para as questões urbanísticas e arquitetónicas desenvolvendo conceitos de city-painting, magic-city e Citymobil, das quais resultam maquetas físicas com móbiles lúdicos, criados para permitir que cada visitante monte, reorganize e imagine a sua cidade ideal e futurista. O projeto Citymobil teve destaque na exposição SUB-ARTE, realizada numa estação de metro em Munique. O trabalho foi calorosamente recebido pela crítica e pela Academia alemã, ganhando relevância numa década marcada pelo entusiasmo da corrida espacial.[1]
A obra Citymobil, adquirida pelo CAM em dezembro de 2021, é divertida de observar e desperta uma sensação lúdica, quase convidando à interação. Composta por uma série de 55 pequenas construções feitas de materiais variados, como cartão, acetato, madeira, plástico, borracha, metal e tinta, a peça apresenta um panorama futurista único.
Em relação ao estado de conservação da obra e após uma análise mais cuidadosa, a peça revelou sinais de degradação. Iniciou-se uma verificação mais profunda de modo a avaliar o estado de conservação de cada elemento. Efetuou-se um registo minucioso, desde as dimensões às inscrições do próprio artista, e aos materiais constituintes.
Após uma limpeza superficial, cada elemento foi desmontado e tratado individualmente. Muitos deles exibiam manchas, deformações acentuadas dos suportes, corrosão metálica, além de vários destacamentos de tinta.
Além disso, algumas estruturas tridimensionais e articuláveis, equipadas com dobradiças metálicas e parafusos, mostravam intensa oxidação, comprometendo os suportes aos quais estavam fixas. Para conservar e restaurar a estabilidade de alguns elementos como as naves, «muros de brincar» e cubos, foram aplicados reforços de madeira e cartão no seu interior, procurando minimizar as deformações.
Durante três meses, todos elementos foram consolidados, reforçados e onde necessário retocados. Cada etapa seguiu uma abordagem que priorizou a conservação estética e material da obra, utilizando produtos de conservação e restauro adequados à variedade de materiais constituintes.
O CAM exibe no âmbito da exposição Linha de Maré. Coleção do CAM «Citymobil», uma cidade futurista concebida por Costa Pinheiro há quase seis décadas, permitindo que todas as pessoas desfrutem da sua visão inovadora e envolvente.
[1] Pinheiro, Costa – Imaginação & Ironia. São Roque – Sistema Solar ½ Documenta – Antiguidades e Galeria de Arte, 1ª Edição, 2015. ISNB 978-989-8618-93-1. p. 32