Amadeo de Souza-Cardoso, Título desconhecido «(Entrada)» (detalhe), 1917. CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, inv. 77P9.
Amadeo em Paris
Centre Pompidou, Paris: 03 de abril a 09 de setembro de 2024
Alguns anos depois da grande retrospetiva de Amadeo de Souza-Cardoso no Grand Palais, o artista português volta a ser destacado numa exposição em Paris, agora no Centre Pompidou, nas galerias do museu e numa estratégia de apresentação de coleções em diálogo.
Com curadoria de Helena de Freitas, do CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, e de Angela Lampe e Sophie Goetzmann do Centre Pompidou, Amadeo de Souza-Cardoso, Sonia e Robert Delaunay – Correspondência explora a relação de cumplicidade artística entre Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e o casal Sonia (1885-1979) e Robert Delaunay (1885-1941), mergulhando o visitante no âmago das ligações e trocas entre estas três grandes figuras da modernidade europeia.
O Centre Pompidou tem na sua coleção obras de Sonia e Robert Delaunay que resultam de uma doação de Sonia e do seu filho Charles, em 1964, e é também detentor de uma pintura de Amadeo de Souza-Cardoso, intitulada Cavaleiros (Cavaliers), de 1913. A exposição reúne cerca de 30 obras dos três artistas: 15 trabalhos de Amadeo, cinco de Sonia e seis de Robert Delaunay.
Em 1912, Sonia e Robert Delaunay foram surpreendidos na sua casa, em Paris, por um jovem que lhes bateu à porta e se apresentou dizendo «eu sou o pintor português Amadeo de Souza-Cardoso», marcando o início de uma longa relação de cumplicidade artística, que se expandiu no tempo e na geografia.
Entre 1915 e 1917, o casal Delaunay, refugiado da Grande Guerra, instalou-se em Vila do Conde, na casa designada por Sonia Delaunay de La Simultanée. Durante este período, o casal reforçou os laços com Amadeo de Souza-Cardoso, que havia regressado a Portugal em 1914, e com outros elementos do chamado grupo Futurista português.
Muitos projetos nasceram desta convergência geográfica, todos eles em torno de experiências plásticas que, de diferentes modos, aprofundavam o movimento simultaneísta, desenvolvido pelo casal Delaunay com o objetivo preciso de lançar expositions mouvantes [exposições itinerantes] na Europa. Estas foram as primeiras ações artísticas de resistência à centralidade de Paris e de ensaio de outros modos de fazer e de circular experiências plásticas em torno da luz e da cor, no contexto das vanguardas de rutura do início do século XX.
O foco desta exposição não é apenas o conjunto de obras escolhidas, mas também a correspondência trocada, de 1913 a 1917, entre Sonia Delaunay, Robert Delaunay e Amadeo de Souza-Cardoso e a sua importância para a compreensão mais contextualizada dos trabalhos expostos.
O catálogo que acompanha a exposição inclui a reprodução, da correspondência trocada entre os artistas, pela primeira vez traduzida para português. O tom da correspondência, que aos poucos vai arrefecendo, está relacionado com as contingências da guerra e com alguns desencontros trazidos pelo acaso, mas também com a absoluta resistência de Amadeo na aceitação de um espírito de grupo e de escola. A leitura desta troca, em diálogo com as obras expostas, perspetiva novas possibilidades interpretativas, principalmente sobre o tempo em que Sonia e Robert viveram em Vila do Conde.
O catálogo analisa ainda esta relação triangular através de uma conversa (epistolar) entre Helena de Freitas e Angela Lampe, sobre o sentido estratégico e a oportunidade deste formato de exposição; um ensaio da curadora do CAM Ana Vasconcelos, que volta a abordar este tema depois do sucesso da exposição O Círculo Delaunay (CAM, 2015); um ensaio da investigadora Marta Soares que se debruça sobre a teoria do animismo na obra de Amadeo; e um texto de Sophie Goetzmann dedicado ao estudo da correspondência trocada entre estes artistas e amigos.
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