Obra de Fernanda Fragateiro no CAM
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Em 2016, a iniciativa Convidados de Verão levou artistas contemporâneos ao Museu Gulbenkian / Coleção do Fundador, de 23 de junho a 3 de outubro, propondo novos contextos expositivos que sublinhavam a transversalidade, as relações inesperadas e a proximidade formal ou conceptual de obras de épocas diferentes.
O encontro das obras era estabelecido a partir da marcação metonímica de um aspeto (Asta Gröting ou Francisco Tropa), a citação desviante (Miguel Branco, Miguel Palma ou Pedro Cabral Santo), a evocação de uma função ou natureza (Wiebke Siem ou Patrícia Garrido), o comentário hiperbólico (Wiebke Siem); a deriva e a ressonância formais (Bela Silva, Yale Bartana, Rui Chafes, Diogo Pimentão); a questão arqueológica (Vasco Araújo); ou a integração duma «paisagem permeável e duma transformação suspensa» na zona de mobiliário (Susanne Themlitz).
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Fernanda Fragateiro pontuou com intervenções escultóricas alguns dos locais em que os eventos do Festival de Verão aconteceram no Jardim, para além de outros por si selecionados.
O trabalho de Fernanda Fragateiro está frequentemente ligado a uma matriz arquitetónica de desenho, construção, instalação e marcação do espaço.
O espelho, e posteriormente o aço inoxidável polido, surgem na sua obra para potenciar nele qualidades selecionadas: passagens sublinhadas entre os planos bidimensionais da imagem e tridimensional do lugar; «ecrãs» virtuais que o multiplicam; experiências sensoriais de alteração térmica e tátil; interrupção surpreendente de esquadrias e contornos por outros que se lhes sobrepõem; indagação estética que o usufruto prático também exige.
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As referências construtivista e minimalista no seu trabalho têm sido referidas por quem sobre ele se debruça – a eficácia do corte, a essencialidade das escolhas abstratas, a teatralização repentina, sóbria mas vigorosa, daquilo que nos propõe em espaços públicos.
Os bancos de cimento desenhados por Ribeiro Telles e existentes no jardim desde 1969 acolheram, neste projeto, chapas de aço coladas sobre o assento e laterais. A artista selecionou dez, num percurso que ia do Edifício Sede à zona de piqueniques, passando pelos roseirais, pelo pinhal em frente do edifício do CAM e contornando o lago. Este é um percurso muito frequente para quem deambula pelo Jardim e aí se inscreviam alguns dos eventos de Jardim de Verão (23-6 a 3-7 de 2016).
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No Jardim Gulbenkian, nesses lugares, as pessoas tornavam-se visitantes contemplativos convidados a participar e empenhados observadores – do passado histórico muito recente deste património, do presente incerto que a imagem móvel sobre estas superfícies polidas lhes devolvia, da natureza e do artifício, da permanência e da efemeridade.
Leonor Nazaré
Curadora