Novas obras de Paulo Nozolino

Em 2022, o CAM adquiriu para a sua Coleção duas obras fundamentais de Paulo Nozolino.
01 fev 2023

Paulo Nozolino é uma das figuras maiores da fotografia contemporânea. O seu percurso internacional começana década de 1970 em Londres, cidade para onde vai viver e estudar, na London College of Printing. No final dos anos de 1980, e na década seguinte, instala-se em Paris, deslocando-se com regularidade ao mundo árabe e na Europa, depois da queda do muro de Berlim.

As suas fotografias de viagem não são reportagens nem documentários. Usa uma Leica, fotografa a preto e branco, em analógico, resistindo à violência do progresso, à dependência das tecnologias, ao digital, à aceleração.

As obras Penumbra – uma coleção de fotografias realizadas em países árabes, como Egito, Síria, Marrocos, Iémen, Mauritânia, Jordânia e Líbano – e Solo –um conjunto de fotografias realizadas durante 15 anos na Europa – são exemplos das suas preocupações políticas, críticas da evolução da sociedade.

 

Paulo Nozolino, «Obs. 1», 2008. Inv. 22FP758

 

Depois de uma retrospetiva na Maison européenne de la photographie, intitulada Nada, regressa a Portugal em 2002. É convidado para uma nova retrospetiva – Far Cry – no Museu de Serralves de Porto, em 2005, que pela primeira vez recebe o trabalho de um fotógrafo contemporâneo português.No mesmo ano é-lhe atribuído o 3.º Prémio Nacional de Fotografia.

Paulo Nozolino pertence a uma constelação de artistas, de rigor, de exigência, de redução, de escavar o real até ao esqueleto. Le reste est ombre é o título de uma recente exposição no Centre Pompidou, em Paris, 2022, onde participou com Pedro Costa e Rui Chafes.

O seu trabalho como fotógrafo, Paulo Nozolino assume-o como uma «prova de vida». História, decadência, pureza, eternidade, ruína, cicatrizes, morte, temposão algumas das palavras que as suas imagens evocam. O seu trabalho obriga a ver, a ver o real e em diálogo com a consciência. Como o artista afirma: «as minhas fotografias são como uma faca na água. Podem não servir para mudar o mundo,mas são alfinetadas para nos manter despertos. (…) a fotografia é a minha única maneira de lutar contra a desmemória, a minha maneira de estar vivo e a única coisa que tenho para dar».

 

Paulo Nozolino, «Agrigento», 2019. Inv. 22FP757

 

Regressando à essência das suas escolhas, não há cor neste trabalho, nunca houve. A verdade e a inclemência das imagens, situam-se neste espectro de redução ao essencial.

Em 2022, o CAM adquiriu duas obras de Nozolino para a sua Coleção: Agrigento e Obs.1. Agrigento é uma fotografia que nasce do acaso, no momento fugaz da passagem de um animal. O bode surgiu ao artista na noite siciliana como uma aparição, com a sua carga simbólica e luminosa de resistência e espiritualidade, atravessando o negro. Obs.1 é uma obra em duas partes, dilacerada por tensões contrárias. Paulo Nozolino utiliza uma figura de retórica clássica, próxima da ideia de oxímero e cria um díptico entre a vida e a morte. À esquerda, o traçado de luz e de energia nas linhas purificadores do fogo, em frente a um vulto; à direita, a figura do pai, na última imagem que dele guardou, no hospital, com a aura de uma outra luz, muito próxima da morte. Obs.1 vem complementar a obra Obs.5, adquirida em 2009, um díptico no qual o artista representa o fim de vida de sua mãe.

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