Nova obra de Lisa Santos Silva na Coleção do CAM

O CAM conta com mais uma obra da artista Lisa Santos Silva, doada para a Coleção em 2022.
05 abr 2023

Fruto de uma doação, a Coleção do CAM recebeu, em junho de 2022, uma nova pintura de Lisa Santos Silva. Realizada em 1972, só agora é disponibilizada ao grande público, tendo pertencido sempre a uma coleção particular.

Lisa Santos Silva produziu esta obra pouco depois de concluir os estudos na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, antes de se mudar definitivamente para Paris. Já aqui são visíveis elementos que associamos à sua produção artística mais tardia: a cor vermelha, as figuras femininas deformadas e, principalmente, a referência a pintores clássicos.

Se por um lado reconhecemos nesta pintura os rostos desfigurados típicos da obra de Francis Bacon, por outro lado os fragmentos de corpos remetem, especificamente, para Saturno devorando a su hijo, de Francisco Goya. Foi com apenas 13 anos que Lisa Santos Silva teve o primeiro contacto com a obra de Goya, quando viajou de Angola, país onde viveu em criança, para Madrid: «Uma vez perdida a infância africana, descobriu, no Prado, que a sua pátria era Goya.»[1] A artista relembra sempre este encontro e a maneira como, anos mais tarde, irá marcar a sua obra.

 

Lisa Santos Silva, Sem título, 1972. Inv. 22P1965

 

Isabel Carlos assinala no catálogo da exposição individual da artista, Are you ready Lola?, realizada na Delegação da Fundação Gulbenkian em França, em 2011, que «Após ter olhado uma pintura de Lisa Santos Silva, reconheceremos sempre uma outra pintura sua porque é uma obra radicalmente única em termos de imaginário e um magistral exercício de pintura.»[2] É precisamente na cor vermelha, uma clara referência à pintura clássica, em particular Velázquez, e aos pintores das escolas holandesas e flamengas que encontramos o grande fio condutor da sua obra.

Realizada em 1972, esta obra é uma referência à pintura clássica que encontramos no seu trabalho. Na outra pintura da artista na Coleção do CAM, realizada cerca de 10 anos depois, este imagético típico da sua obra surge ainda mais depurado. O olhar da mulher que nos encara é o mesmo dos seus outros retratos, é o olhar intemporal que fixava o seu espectador já na pintura clássica e que Lisa Santos Silva tão bem sabe recuperar.


[1] João Paulo Cotrim, «Horta Seca, Lisboa 26 Maio», Jornal Macau, 2018.

[2] Isabel Carlos, «Are you ready Lola?» in catálogo da exposição «Are you ready Lola?». Paris: Centre Culturel Calouste Gulbenkian, 2011.

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