«Close» na Coleção do CAM
Videoinstalação criada por Julião Sarmento e o realizador Atom Egoyan, inaugurada na Bienal de Veneza de 2001 por convite de Harald Szeemann. Close é composta por um filme onde se sucedem planos de pormenor de uma mulher a cortar as unhas dos pés para a boca de um homem. Por vezes, surgem planos médios das pernas da mulher, sentada numa cadeira, e da cabeça do homem que se encontra deitado à sua frente.
A instalação, projetada em larga escala com um mínimo de 4,6 x 6 metros num corredor escuro e estreito de cerca de 60 centímetros de largura, não permite ao observador ver a imagem na sua totalidade. Ao longo do filme, uma mulher diz um monólogo em que, partindo de memórias de infância acerca de um amuleto de perna de coelho, vai divagando sobre o porquê de este ser considerado um objeto de sorte ou acerca de um coelho de estimação e dos seus berros, semelhantes aos de uma criança, quando ela o feriu ao cortar-lhe as unhas.
O texto termina com uma versão da Cinderela para adultos, onde a madrasta corta os pés da filha para que estes caibam no sapato de cristal, confrontando finalmente o espectador com o seu silêncio.
O texto de Close aborda temas recorrentes ao longo da obra de Julião Sarmento, como a ideia de metamorfose homem-animal, a memória, os modos de atribuição de significados ou a obliteração de excertos de filmes ou narrativas. Nesta obra é exacerbado o voyeurismo e perversidade que se associa a uma parte importante da obra do artista português e ao cinema de Egoyan.
Close realiza um duplo movimento de aproximação (da câmara e do observador) e expansão (do ecrã) que visa perturbar o próprio ato percetivo. Algo que Julião Sarmento já havia ensaiado em peças anteriores, pela dilatação do tempo, pelo recurso ao close-up ou pela retrogradação da película.
* Texto publicado em Julião Sarmento – The Complete Film Works, Porto Universidade Católica Portuguesa, Escola das Artes; Lisboa: Documenta, 2021, p. 217.
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