Altina Martins na Coleção do CAM

Em 2020, o CAM adquiriu a tapeçaria «Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade» da autoria de Maria Altina Martins. A artista portuguesa tem vindo a trabalhar este tipo de peças desde a década de 1960 até aos dias de hoje, muitas vezes desafiando as fronteiras entre a tapeçaria e a escultura.
02 ago 2021

Apesar de a Coleção do CAM albergar obras em tapeçaria, raramente terá estado na sua agenda a aquisição de tapeçaria contemporânea, aquela que foi desenvolvida a partir do final dos anos de 1960 pelo Grupo 3.4.5. (1978-2002) e pela Associação ARA (1975-1977), fundada por onze mulheres, com destaque para nomes como Gisella Santi, Flávia Monsaraz e Rosa Oliveira.

Altina Martins é uma das protagonistas dessa história e tem continuado a trabalhar até hoje, em alguns casos em técnicas de tapeçaria tradicional, mas em muitos casos na fronteira entre a tapeçaria e a escultura.

 

Maria Altina Martins, «Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade», 1997. Inv. 20TP20. Foto: Inês Galvão Teles

 

Tendo considerado oportuna a abertura de espaço a esta área criativa na Coleção, o CAM integrou recentemente uma obra sua que corresponde a esse perfil. O título, Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade, coloca-nos perante uma espécie de arquivo ou compêndio de memórias que atravessam o início de vida e se suspendem no momento da maturidade que, por definição, se estende indefinidamente.

Por entre linhas verticais de fios atados e cruzados com outros que os serpenteiam em teceduras toscas e elementares, surgem chinelos, um par de velhos patins, pedaços de madeira e de redes finas. Na moldura policromada em cujo retângulo coabitam, esses objetos tornam-se «nós» górdios duma trama que se abre e se deslaça, deixando muito espaço vazio e trazendo à superfície a evocação de momentos essenciais no percurso de vida que o título evoca.

 

Maria Altina Martins, «Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade» (pormenor), 1997. Inv. 20TP20. Foto: Inês Galvão Teles
Maria Altina Martins, «Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade» (pormenor), 1997. Inv. 20TP20. Foto: Inês Galvão Teles

 

Fora da parede, e exposto no espaço tridimensional de uma sala, este objeto singular pode ser considerado uma obra têxtil, mas também uma escultura ou a premissa de uma instalação.

Entre 1972 e 1975, Altina Martins fez o curso de Design no Centro de Arte e Comunicação Visual (Ar.Co), em Lisboa. Em 1978/1979, investigou métodos naturais de tecelagem e tintagem nas regiões de Coimbra, Minho e Trás-os-Montes como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e em 1982/1983, realizou um estágio de pesquisa de Tecelagem Tradicional, em Benares, na Índia.

 

Maria Altina Martins, «Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade» (pormenor), 1997. Inv. 20TP20. Foto: Inês Galvão Teles
Maria Altina Martins, «Tempo – Infância, Adolescência, Maturidade» (pormenor), 1997. Inv. 20TP20. Foto: Inês Galvão Teles

 

Em 1995/1996, a artista fez uma especialização em Tapeçaria de Alto-Liço, na Manufacture Nationale des Gobelins, em Paris, novamente como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.  Em 1998/1999, ingressou no curso de Tecelagem, Fiação e Tinturaria Natural, no Museu Nacional do Traje, Lisboa. É Professora de Nomeação Provisória/Professora do Quadro de Nomeação Definitiva do Setor Têxtil da Escola Secundária Artística António Arroio, em Lisboa, desde 1988 e tem participado em vários eventos de formação e reflexão sobre a tapeçaria contemporânea.

 

Leonor Nazaré
Curadora

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