Teresa Magalhães (1944-2023)
A artista está representada na Coleção do CAM com 35 obras que deixam ver um trabalho fundamentalmente dedicado à cor e à abstração, na esteira do expressionismo abstrato norte-americano do pós-guerra.
Uma artista multifacetada, mulher lutadora e livre, aqui lembrada nas palavras da curadora Ana Vasconcelos:
«Pintora da cor, do movimento ágil de vida, da festa partilhada e da alegria em cada pincelada e em cada abraço. Teresa Magalhães ficará para sempre connosco através da vida que imprimiu às suas obras. Foi uma lutadora, uma mulher preocupada em conservar a liberdade da sua produção artística e também atenta aos outros, em especial, à obra de outras artistas mulheres para quem comissariou uma exposição pioneira, no Leal Senado de Macau, em 1990.
A Fundação Gulbenkian atribui-lhe um subsídio de investigação, entre 1976 e 1979, durante o qual produziu uma ampla série de pinturas abstratas intitulada “Gestos da Cor – Sinais da Terra”, a partir de uma “identificação” de cariz estético e antropológico da paisagem de um país em transformação. Contudo, nos primeiros anos do seu trabalho, e ainda enquanto estudante finalista de Pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa em finais da década de 1960, Teresa Magalhães realizou uma série de trabalhos de marcada influência pop, anos de juventude irrequieta e de revolta contra “um país cinzento”, como disse por ocasião da exposição coletiva Pós-Pop. Fora do lugar-comum, realizada na Fundação Gulbenkian em 2018. Voltará à figuração, com uma intenção memorialista, nas séries de pintura que expõe a partir de 2012, nas quais conjuga fragmentos de imagens da sua vida e obra em colagem e pintura, num repertório de cariz fortemente autobiográfico.
Teresa Magalhães conjugava com extrema graça e ironia subtil o mundo em seu redor: “sou”, “gosto”, “vejo”, “pinto”, “posso”. Como escreve Emília Ferreira no catálogo de uma sua exposição individual em Chaves, em 2021, “sempre que me encontro com a obra de Teresa Magalhães penso em resistência. E, de acordo com as suas próprias palavras, essa resistência tem sido um modo de se reinventar, visualmente, através da sua obra”. A partir de um país cinzento, Teresa Magalhães encheu o mundo de cor, em grandes e pequenos formatos, em figuras e em traços, riscos e manchas, explosões de alegria e movimento, a sua força de vida contagiosa que partilhou com todos com quem se cruzou e que deixa agora um pouco mais sozinhos mas certamente mais ricos.
Nas palavras de José Saramago, que sobre ela escreveu em 2005, “O mundo como caleidoscópio, o sentido como movimento, eis o que julgo ver na pintura de Teresa Magalhães.”»
Entrevista a Teresa Magalhães realizada no âmbito da exposição «Pós-pop. Fora do lugar-comum», 2018