Obras da Coleção do CAM na exposição dedicada a Siza Vieira
Após uma doação por parte do arquiteto em 2018, cerca de cem obras pertencentes ao espólio de Maria Antónia Siza (1940-1973) passaram a integrar a Coleção do CAM. Este conjunto inclui maioritariamente desenhos em guache e tinta-da-china, assim como alguns estudos e bordados realizados pela artista e mulher de Álvaro Siza Vieira.
Na exposição Siza, podemos observar um total de dez obras de Maria Antónia Siza provenientes desta integração, em que o guache e a tinta-da-china sobre papel são o veículo principal da criação de trabalhos que inquietamente exploram a fragilidade da condição humana. Desenhos de carácter figurativo e linear contrastam com o branco vazio da folha de papel, e fazem uso de temas sobretudo ligados à maternidade, à transfiguração e à multiplicação de si mesma. Artista que nos deixou prematuramente aos 32 anos, deixa também um longo espólio de silhuetas angustiadas e figuras contorcidas que muito inspiraram a obra de Siza Vieira. Também é apresentada uma única pintura a óleo da Coleção do CAM.
De um modo muito singular, o trabalho do arquiteto foi e é muito influenciado pelo modernismo português. Deste modo, três obras de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), figura de referência da primeira geração do movimento, fazem parte também da exposição. Neste conjunto domina novamente a figura humana que flutua na folha inabitada que representa a importância do desenho no movimento e na criação artística em geral. Siza Vieira, com uma produção que se expande ao longo de seis décadas, faz uso destas referências para o desenvolvimento de desenhos, mas também plantas e peças de design também aqui expostos demonstrando a sua ligação, e a continuidade que deu, ao movimento modernista.
Com curadoria de Carlos Quintáns Eiras, Siza reflete sobre o volumoso conjunto de obras do arquiteto, produção que podemos entender como um preencher dos fundos muitas vezes inóspitos das obras daqueles que o influenciaram. As obras da Coleção do CAM de Maria Antónia Siza e Amadeo de Souza-Cardoso refletem as fortes referências artísticas de Álvaro Siza, o mais premiado arquiteto contemporâneo português.