Manuel Cargaleiro (1927-2024)
Dezenas de obras do artista integram a Coleção do CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, entre elas pintura, desenho, gravura, um painel de azulejos e uma tapeçaria produzida na Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, refletindo a relação que a Fundação manteve com Manuel Cargaleiro desde o início da sua carreira, nos anos de 1950.
Cargaleiro nasceu a 16 de março de 1927, em Vila Velha de Rodão, e frequentou a Faculdade de Ciências e a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Dedicou-se desde cedo à cerâmica sob a orientação do pintor-ceramista Jorge Barradas, tendo recebido em 1954 o Prémio Nacional de Cerâmica e, um ano depois, o Diploma de honra da Academia Internacional de Cerâmica no Festival de Cannes.
Enquanto bolseiro da Fundação Gulbenkian em Paris, em 1958, começa também a dedicar-se à pintura. Mais tarde, a Fundação Gulbenkian vai apoiar igualmente uma série de exposições do artista; em 1972, ainda enquanto bolseiro, expõe numa mostra individual 45 guaches, datados de 1971 e 1972, fortemente inspirados no azulejo tradicional português, veículo de expressão fundamental para Cargaleiro. Em 1980, apresenta uma exposição de 30 óleos na Delegação da Fundação em Paris; quatro anos depois, em Lisboa, a exposição individual Cargaleiro – VI International Symposium on Morphological Sciences, no edifício Sede da Fundação, apresenta um importante núcleo de obras do artista. Durante a visita de Estado a França do Presidente Mário Soares, em 1989, integra a exposição Dacosta, Pomar, Cargaleiro, Jorge Martins: 4 Pintores Portugueses em Paris, organizada pela União Latina e pelo CAM, que se realizou no Palais de Tokyo.
Em junho de 2009, o CAM organizou uma exposição coletiva, com curadoria de Jorge Molder, que incluiu um vasto conjunto de desenhos dos anos de 1960, em que o artista utilizou técnicas e materiais variados, como marcadores, lápis de cor, lápis de cera, pastel, aguarela, guache, grafite.
Na sua longa e produtiva carreira, Cargaleiro usou as formas geométricas na estilização de motivos vegetais e na construção de paisagens arquitetónicas, tendo a exploração da cor sido uma constante na sua pesquisa artística. Das construções estruturadas, comummente intituladas “cidades”, aos gestos expressivos das suas “flores”, em cada obra, a complexidade da composição é apaziguada pelos jogos de cor, luz e sombra.
Imagem principal: Manuel Cargaleiro, «Rhodes 2», 1962. CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, inv. DP86