Joe Tilson (1928-2023)

Faleceu o artista Joe Tilson, figura maior da arte britânica do pós-guerra, representado na coleção do CAM com nove obras.
13 dez 2023

Joe Tilson faleceu a 9 de novembro de 2023 com 95 anos. O artista, figura maior da arte britânica do pós-guerra, teve um papel determinante no movimento da Pop Art nos anos de 1960, e encontra-se presente na coleção do CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian com nove obras representativas dessa era – desde os seus característicos e pequenos relevos iniciais em madeira como Wooden Relief n. 10 (1960), a uma série de pinturas do expressionismo abstrato inspiradas nas tonalidades e nas texturas da paisagem da Toscânia com Summer (1959) ou September (1959), até às suas celebradas construções Pop de cores vibrantes, como Xanadu (1962). Aclamado em tempos como “o rei esquecido da arte Pop Britânica”, o seu percurso idiossincrático tinha sido celebrado nos últimos meses em Londres com duas grandes exposições antológicas, e o lançamento da primeira monografia sobre o seu trabalho.

Foi no sul de Londres que nasceu e acabou por crescer, após um ataque nazi destruir um dos navios em que era suposto emigrar com a família para o Canadá. Começou por trabalhar como carpinteiro e marceneiro entre 1944 e 1946, e serviu na força aérea britânica (RAF) entre 1946 e 1949. Depois de cumprir o serviço militar obrigatório, regressou a Londres para estudar na St. Martin’s School of Art (1949-52), na qual se deu um encontro decisivo com os colegas Leon Kossoff e Frank Auerbach – como Tilson fez notar, «seria como dizer que estive na Holanda e me cruzei com um sujeito chamado Rembrandt.» Foi estudar de seguida para o Royal College of Art (1952-55), onde se aproximou de artistas emergentes como Peter Blake, Allen Jones, Patrick Caulfield e David Hockney, abandonando o trabalho de feição construtivista em madeira, cimento ou tecido, para se associar a essa primeira geração da arte Pop através do uso da fotografia, serigrafia e colagem. Um dos artistas mais inventivos da sua geração no confronto das belas artes com a arte popular, conquistou o Rome Prize (1955) e foi viver para Itália durante dois anos. Após ganhar o Prémio da Fundação Calouste Gulbenkian em 1960, teve a primeira exposição individual em Londres, em 1962, e representou a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza de 1964. A primeira retrospetiva do seu trabalho teve lugar no Museu Boymans van Beuningen de Roterdão (1971). Teve a primeira exposição individual em Londres, em 1962, e seria escolhido para o pavilhão britânico na Bienal de Veneza de 1964. Após uma breve temporada em Nova Iorque, o crescente desencanto com a promiscuidade entre a cultura norte-americana, a máquina de guerra e a sociedade de consumo, provocou uma radicalização política da sua arte no final da década de 1960. Nos anos de 1970, decidiu mudar-se para a zona rural de Wiltshire, e cortou as ligações com os grandes centros urbanos e a cultura Pop para se dedicar a temáticas relacionadas com a mitologia grega e com as comunidades indígenas das Américas e da Austrália, aliando a intensidade colorida das suas abstrações a uma dimensão eminentemente simbólica e ecológica, próxima dos elementos da terra. Desde então, e numa busca incessante por novas direcções geográficas e artísticas, viveu a maior parte do tempo em Itália, e o foco foi recaindo essencialmente sobre trabalhos em papel ou vidro.

Em paralelo a um trabalho ininterrupto de artista por mais de setenta anos, deu ainda aulas na St. Martin’s School of Art e na Slade School of Fine Art em Londres, no King’s College em Newcastle upon Tyne, na School of Visual Arts em Nova Iorque, e na Hochschule für Bildende Kunste em Hamburgo. Na década de 2000, Tilson regressou a Londres, mantendo os seus estúdios em Cortona e em Veneza. Após ser eleito Royal Academician em 1991, tornou-se Senior Academician em 2003, um ano depois da Royal Academy ter montado a maior retrospetiva do seu trabalho. Foi um dos artistas recentemente escolhidos para integrar a coleção da residência oficial do primeiro-ministro britânico em Downing Street, e as suas obras podem ser encontradas em espaços públicos e em prestigiados museus de arte contemporânea a nível global. 

Afonso Dias Ramos
(IHA/NOVA FCSH/IN2PAST)

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