Fernando Lemos (1926-2019)
1940 – 1949
O início da carreira em Portugal1943
Frequenta a Escola de Artes Decorativas António Arroio entre 1938 e 1943, ingressando de seguida na Sociedade Nacional de Belas-Artes para estudar pintura.
Dedica-se intensamente à fotografia entre o final da década de 1940 e o início da década de 1950, fotografando intelectuais e artistas, alguns deles ligados ao movimento surrealista português, enquanto trabalha como desenhador em litografias industriais e colabora com poemas e ilustrações nos cinco números das publicações Córnio (Unicórnio, Bicórnio, Tricórnio, Tetracórnio, Pentacórnio), fundadas e editadas por José-Augusto França.
1950 – 1959
De Portugal para o Brasil1952
Com Marcelino Vespeira e Fernando Azevedo, realiza uma importante exposição de pintura, desenho, objetos, colagens e fotografia na Casa Jalco, em Lisboa. No ano seguinte, publica a série de poemas «Teclado Universal» nos Cadernos de Poesia.
1953
Opondo-se ao regime salazarista, Lemos abandona Portugal e estabelece-se no Brasil, onde se dedica mais ao desenho e à pintura, apresentando uma produção não figurativa. Contudo, no mesmo ano, expõe as suas fotografias no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
1957
Na IV Bienal de São Paulo, é premiado como melhor desenhador brasileiro. Nesta bienal, entra em contacto com a obra de vários artistas japoneses, entre os quais Yuichi Inoue, que irá influenciar a sua obra como pintor e artista gráfico.
1960 – 1969
Do Brasil para o Japão1960
Casa-se com Claudia Thereza Guimarães de Lemos, a mãe dos seus filhos José Augusto, Maria Teresa e Anamaria.
No início desta década, começa a desenvolver trabalho nas áreas da comunicação visual e do planeamento gráfico, gerindo, com Décio Pignatari, o estúdio de criação Maitiry, em São Paulo, que reunia profissionais de várias áreas da comunicação e das artes gráficas.
Lemos também leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e participa na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
1962
Com o escritor Sidónio Muralha funda a editora Giroflé focada na publicação de obras de literatura infantil.
1963
A Fundação Calouste Gulbenkian atribui a Fernando Lemos uma bolsa para estudar caligrafia no Japão, onde visita ateliês de artistas e calígrafos locais.
Participa numa exposição coletiva na Sociedade Internacional de Artes Plásticas e Audiovisuais no Japão.
É convidado a participar na V Feira Internacional de Tóquio, para a qual cria o projeto visual do pavilhão do Brasil, cujo projeto arquitetónico é do português Manuel Kosciusko Correa. No âmbito da Feira Internacional, cria ainda todo o material gráfico de identificação visual do pavilhão da VARIG e do pavilhão do Instituto Brasileiro do Café.
1964
Sabendo do seu interesse pelo Japão, o então ministro das Relações Exteriores do Governo brasileiro, Wladimir Murtinho, recomenda Lemos para fazer parte do projeto de construção de um complexo cultural em Hakone. São também convidados Wilson Reis Neto, arquiteto do estúdio de Oscar Niemeyer, e Manuel Kosciusko Correa. Lemos desenha os vitrais para a capela que seria construída no local, usando como ateliê as caves da Embaixada do Brasil. O governador de Hakone, que tinha feito deste complexo um instrumento político, não é reeleito, e o projeto é cancelado.
Ainda nesse ano, ganha o concurso para a realização de uma tapeçaria para as lojas da TAP (Transportes Aéreos Portugueses) no Brasil.
1966
Fernando Lemos participa, com o texto «Estrutura Plástica e Gráfica da Caligrafia», no Colóquio Brasil_Japão, organizado pela Universidade de São Paulo, ao lado de intelectuais, artistas e arquitetos brasileiros como Walter Zanini, Jean-Claude Bernardet, Ulpiano Toledo Bezerra de Menezes, Julio Katinsky, Júlio Gomes Machado, Aracy Amaral, João Rodolfo Stroeter. Participam ainda o então diretor da Universidade de Tóquio, Ren Ito, e o arquiteto Takamasa Yoshizaka.
1968
Inicia a sua carreira de professor de desenho na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo e assume a presidência da Associação Brasileira de Desenho Industrial (ABDI), da qual é membro fundador.
1970 – 1979
A influência do Japão1970
Casa-se pela segunda vez em 1970, com Beatrix Overmeer, a mãe dos seus filhos, Rodrigo e Paula.
Profundamente influenciado pela cultura japonesa, o trabalho artístico de Lemos adquire características da caligrafia e do pensamento orientais, traduzidas pelo uso do preto e branco, da tinta da China, do papel feito à mão e das pinceladas livres.
1975
Participa, com Maria Eugênia Franco, na criação do Centro de Pesquisa do IDART (Departamento de Informação e Documentação Artísticas da Secretaria Municipal da Cultura), instituto pioneiro na inventariação, pesquisa e documentação da produção artística brasileira.
1977
Volta ao Japão, após receber o convite para participar no projeto do Museu Namban, em Nagasáqui, onde se encontra o maior acervo de obras que registam a passagem dos portugueses pelo Japão. Este convite é feito por Mário Soares, que, não conseguindo estabelecer uma parceria entre os Museus do Japão e de Portugal, pede ajuda a Fernando Lemos. Lemos viaja até Tóquio, Quioto e Nara, acompanhado de uma intérprete e de Agostinho da Silva. Ainda que o projeto não tivesse seguimento, Lemos consegue visitar o Palácio Imperial, tendo acesso a esta coleção de biombos através de Vinholes, então adido cultural de Portugal no Japão.
1980 – 1989
Livro de poemas1985
Publica o livro de poemas Cá & Lá – reedição de Teclado Universal, originalmente publicado em 1953.
1990 – 1999
Exposição retrospetiva no CAM «À Sombra da Luz»1994
O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian apresenta a exposição À Sombra da Luz, uma retrospetiva das fotografias que Fernando Lemos fez em Portugal, entre 1949 e 1952, antes de se radicar no Brasil.
2000 – 2009
Exposição de fotografia no Brasil2004
A Pinacoteca de São Paulo promove a primeira mostra das fotografias de Lemos, obras que na sua totalidade eram até então desconhecidas no Brasil.
2010 – 2019
Retrospetivas2010
A exposição Isto é isto na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva mostra ao público as páginas do caderno com o mesmo nome (Isto é isto), que reúne 154 desenhos de Fernando Lemos. O caderno era uma espécie de diário no qual o desenho assume o protagonismo.
2011
A exposição Lá e Cá, com a curadoria de Vera d’Horta, reúne numa retrospetiva as diversas técnicas utilizadas pelo artista, na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
2019
Em Lisboa, a convite de Bárbara Coutinho, diretora do Museu do Design e da Moda, a exposição Fernando Lemos Designer é a primeira mostra dedicada aos seus trabalhos na área do design gráfico.
Em junho, inaugura a exposição Máscaras do Tempo, na Galeria Ratton, dedicada aos padrões em azulejos que Lemos criara em 1972, a convite da empresa de cerâmica brasileira São Caetano de São Paulo. No mesmo mês, inaugura a exposição Mais ou Menos, na Galeria 111, onde expõe desenhos, fotografias, cartões postais e pinturas realizadas desde a década de 1940 até àqueles dias.
Em outubro, o Sesc Bom Retiro, em São Paulo, apresenta a retrospetiva Fernando Lemos — mais a mais ou menos, com curadoria de Rosely Nakagawa, reunindo diversos aspetos da sua obra em poesia, desenho gráfico, pintura e fotografia.
Grande parte do seu acervo de fotografias e de desenho gráfico, entre gravuras e ilustrações, passa a fazer parte do Instituto Moreira Salles.
Fernando Lemos morre em dezembro, aos 93 anos, em São Paulo.