Grandes movimentações no CAM
À medida que as obras no edifício do CAM vão avançando, inicia em paralelo a movimentação de esculturas e peças de arte de maior dimensão para as reservas recentemente intervencionadas e, consequentemente, melhoradas.
Entre as centenas de esculturas encontram-se duas pinturas de Maria Helena Vieira da Silva, cada uma com cerca de 5 m de altura por 3,5 m de largura, que deslumbram tanto pela dimensão, como pela cor e textura dos múltiplos planos e perspetivas.
Os dois «gigantes» surgem no âmbito de um concurso de tapeçaria organizado pela Universidade de Basileia no ano de 1954, que Vieira da Silva venceu. Após vários estudos, a artista desenvolveu dois «cartões» à escala real das tapeçarias, posteriormente executadas. Devido à grande dimensão das peças, Vieira da Silva teve a ajuda dos estudantes assim como de professores e familiares.
Estes «cartões» permaneceram algumas décadas enrolados no ateliê da artista até serem intervencionadas há mais de 20 anos. O suporte em papel foi colado a uma tela, e esta fixa a grade em madeira, com 6 travessas.
Uma observação preliminar do estado de conservação das obras revelou a fragilidade da camada pictórica a têmpera de guache sobre um suporte em papel Kraft. Um dos painéis exibia uma das laterais integralmente descolada, o que significava um risco elevado durante a movimentação da peça. Ambas as pinturas apresentavam poeiras superficiais, vários vincos e ondulações do suporte que originaram levantamentos da camada cromática e diversos destacamentos. Antes da mudança para a reserva, efetuou-se uma limpeza superficial por aspiração e a fixação da banda esquerda desse painel, conferindo à peça a estabilidade física necessária para o seu manuseamento.
Dada a grande dimensão das obras, foi fundamental o contributo de uma equipa coordenada e experiente que, de forma calculada, anteviu os riscos e ultrapassou os entraves durante o percurso até às reservas.
Hoje, os belíssimos painéis de Maria Helena Vieira da Silva já repousam em casa, num espaço de reserva especialmente concebido para o efeito, protegidos por uma campânula em manga plástica, e em condições de humidade relativa e temperatura controladas, arrancando elogios admirados a quem por eles passa.
Elizabeth Martins
Conservadora-restauradora