Corpos negros no espaço branco do Museu
Artista interdisciplinar e escritora, Grada Kilomba (Lisboa, 1968) vive e trabalha em Berlim, onde tem desenvolvido uma obra que cruza a literatura, o teatro, a música, a performance e a instalação. A colonização e seu legado – memória, trauma, raça e género –, a descolonização e a diáspora africana são temas centrais no seu trabalho, que analisa criticamente os sistemas de produção de conhecimento através da formulação de três questões fundadoras: «Quem pode falar?» [who can speak?]; «O que podemos falar?» [what can we speak about?] e «O que acontece quando falamos?» [what happens when we speak?].
Grada Kilomba, «Illusions Vol. I, Narcissus and Echo», 2017. Instalação de vídeo com 2 canais/projeções, HD, cor, som, 31’32” (excerto). Inv. 18IM90
A instalação Illusions Vol. I Narciso e Eco (2017) reencena o mito grego de Narciso e Eco, recuperando ao mesmo tempo as tradições orais africanas do contador de histórias e da produção oral de conhecimento. O mito de Narciso e Eco é aqui simultaneamente uma metáfora do passado colonial e uma metáfora das políticas de representação, no presente, introduzindo o corpo negro no espaço branco da imagem, com referências ao próprio espaço branco da galeria e do museu (White Cube), marcado pela ausência histórica do corpo negro.
Rita Fabiana
Curadora do Centro de Arte Moderna
As Escolhas das Curadoras
As curadoras do Centro de Arte Moderna refletem sobre uma seleção de obras, que inclui trabalhos de artistas nacionais e internacionais.
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