Wolf Vostell

Leverkusen, 1932 – Berlim, 1998

Figura fundamental da segunda metade do século XX europeu, não será demasiado especulativo pensar que, se estivesse vivo, Wolf Vostell interrogaria a profunda transformação cultural veiculada pela internet com a mesma acuidade com que, nos anos 1960-1970, analisava a omnipresença da televisão e, através dela, as vantagens e as desvantagens da civilização. Recusando aumentar o fluxo da alienante reprodução mecânica de imagens do real proporcionada pela técnica, Vostell operou, então, uma inflexão radical do discurso ao propor que se vivesse a arte em directo. Por isso pintou, esculpiu e cimentou na rua, e orquestrou bailados de objectos e de pessoas com o público. Entendia a arte como processo laboratorial, como experiência crítica, como possibilidade de uma verdadeira democracia fundamentada no debate directo.

Vostell foi pintor, desenhador, gravador, escultor, escultor de assemblages, pai do Happening na Europa, co-fundador do movimento Fluxus na Europa, pioneiro (com Nam June Paik, 1932-2006) da arte vídeo. Praticou o diálogo crítico entre o artista e o mundo envolvente através da dé-collage, conceito que criou em 1954, no início da sua carreira, para significar toda a possibilidade de criação existente a partir da destruição. Profundamente marcado pelo genocídio perpetrado pelos nazis, passaria mais de quarenta anos a analisar este «crash de violência muito superior ao de um avião». São linhas mestras do discurso vostelliano a negatividade, o cariz contestatário como resposta crítica às condições alienantes da realidade, a violência como forma de expressão do espírito da época (Zeitgeist), as cimentações alusivas a situações de imobilidade, de opressão ou de violência física e psicológica.

 

Para Vostell, como para Herbert Marcuse (1898-1979), a arte reconhece-se por não proporcionar nenhum happy end e agir como testemunho de uma consciência radical das condições de vida reinantes. Neste sentido, o artista inscreve-se na história da arte do seu século em linha directa do dadaísmo alemão, de Duchamp ou do Novo Realismo francês. Outras fontes que aparecem na sua trama conceptual têm a ver com uma história da arte mais antiga pois, segundo afirma, começou a pensar e a sentir artisticamente quando descobriu Bosch e sobretudo Goya, cuja obra foi para ele uma referência constante.

 

A sua relação com Espanha, cedo materializada através do casamento (1958) e, posteriormente (1976), através da construção do Museo Vostell Malpartida de Cáceres, apresentado na Documenta 6 (Kassel, 1977), revestiu particular importância para artistas portugueses como Ernesto de Sousa (1921-1988), no contexto efervescente do pós-25 de Abril de 1974 e dos anos 1970 em geral. As três SACOM (Semana de Arte Contemporânea de Malpartida) organizadas por Vostell entre 1978 e 1983 inscrevem a Península Ibérica no cenário internacional das vanguardas artísticas do pós-guerra.

 

 

ILC

Maio de 2010

 

 

 

Atualização em 10 março 2016

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