Wolf Vostell
Der Tote der Durst hat [O morto que tem sede]
Leverkusen, 1932 – Berlim, 1998
Vostell foi pintor, desenhador, gravador, escultor, escultor de assemblages, pai do Happening na Europa, co-fundador do movimento Fluxus na Europa, pioneiro (com Nam June Paik, 1932-2006) da arte vídeo. Praticou o diálogo crítico entre o artista e o mundo envolvente através da dé-collage, conceito que criou em 1954, no início da sua carreira, para significar toda a possibilidade de criação existente a partir da destruição. Profundamente marcado pelo genocídio perpetrado pelos nazis, passaria mais de quarenta anos a analisar este «crash de violência muito superior ao de um avião». São linhas mestras do discurso vostelliano a negatividade, o cariz contestatário como resposta crítica às condições alienantes da realidade, a violência como forma de expressão do espírito da época (Zeitgeist), as cimentações alusivas a situações de imobilidade, de opressão ou de violência física e psicológica.
Para Vostell, como para Herbert Marcuse (1898-1979), a arte reconhece-se por não proporcionar nenhum happy end e agir como testemunho de uma consciência radical das condições de vida reinantes. Neste sentido, o artista inscreve-se na história da arte do seu século em linha directa do dadaísmo alemão, de Duchamp ou do Novo Realismo francês. Outras fontes que aparecem na sua trama conceptual têm a ver com uma história da arte mais antiga pois, segundo afirma, começou a pensar e a sentir artisticamente quando descobriu Bosch e sobretudo Goya, cuja obra foi para ele uma referência constante.
A sua relação com Espanha, cedo materializada através do casamento (1958) e, posteriormente (1976), através da construção do Museo Vostell Malpartida de Cáceres, apresentado na Documenta 6 (Kassel, 1977), revestiu particular importância para artistas portugueses como Ernesto de Sousa (1921-1988), no contexto efervescente do pós-25 de Abril de 1974 e dos anos 1970 em geral. As três SACOM (Semana de Arte Contemporânea de Malpartida) organizadas por Vostell entre 1978 e 1983 inscrevem a Península Ibérica no cenário internacional das vanguardas artísticas do pós-guerra.
ILC
Maio de 2010