Stuart Carvalhais
S/ Título («Fado do Sonho»)
1887 – 1961
José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais nasceu em Vila Real, a 7 de Março de 1887, e faleceu em Lisboa, a 2 de Março de 1961. Ao longo de mais de 50 anos, Stuart de Carvalhais desenvolveu uma obra multifacetada – pintor, ilustrador, caricaturista, cenógrafo – com destaque para as centenas de desenhos e ilustrações por si realizadas, fruto da colaboração assídua com os principais periódicos portugueses da primeira metade do século XX. Foi um dos fundadores da banda desenhada em Portugal com a publicação, ao longo de quase 40 anos, das “tiras” de Quim e Manecas, personagens ainda hoje presentes no imaginário popular nacional.
Filho de pai português e de mãe inglesa, e descendente de uma abastada família do Douro, parte da infância de Stuart é passada em Espanha, regressando a Portugal em 1891 e instalando-se com a família no Alentejo, onde completará o ensino primário e o liceu. Chegado à capital em inícios de 1900, frequenta o Real Instituto de Lisboa com vista à obtenção de um curso técnico entre 1901 e 1903, integrando, em 1905, o atelier de pintura de azulejos de Jorge Colaço. A sua primeira colaboração com a imprensa ocorre no ano seguinte, como repórter fotográfico do jornal O Século. Dá início nestes anos ao seu trabalho de caricaturista e desenhador humorístico, publicando assiduamente no Suplemento Humorístico d’O Século e na revista A Sátira. Os anos de 1912 e 1913 são marcados pela participação na I e II Exposições de Humoristas Portugueses, onde Stuart expõe trabalhos ao lado de artistas como Jorge Barradas, Almada Negreiros, Emmerico Nunes, Cristiano Cruz, entre outros. Realiza durante este período uma estadia de vários meses em Paris, onde sobrevive com dificuldade, obtendo rendimentos através de publicações em jornais e folhetins franceses como Glis Blas, Pages Folles, Le Rire e Le Sourire. Regressado a Portugal em 1913, casa-se com Fausta Moreira, varina de profissão, mãe do único filho do artista, Raul Carvalhais, nascido em 1914.
Entre 1914 e 1920, Stuart publica desenhos em diversas revistas (Papagaio Real, A Lucta, ABC a Rir), destacando-se, em 1920, a participação na III Exposição dos Humoristas Portugueses e, em 1922, o princípio da colaboração com a editora discográfica Valentim de Carvalho para a realização de desenhos de capas de discos. A década de 20 será o período de maior atividade na carreira de Stuart com um trabalho diversificada nos campos da ilustração e grafismo: coordena a revista ABC a Rir, publica n’A Ilustração Portuguesa, ABC, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, A Corja, O Espectro, A Choldra, Sempre Fixe, ABCzinho, Contemporânea, Magazine Bertrand, O Riso da Vitória e Domingo Ilustrado, realiza cartazes publicitários para o Bristol Club e Casa de Edição Musical Sassetti e participa com uma pintura na redecoração do café A Brasileira, no Chiado. A obra destes anos de Stuart reflecte o gosto art deco vigente, aliado a uma vontade de experimentação presente nos seus desenhos a tinta-da-china e a carvão onde ecos de uma estética expressionista podem ser encontrados. Tal como os artistas da sua geração, Stuart apresenta um trabalho essencialmente caracterizado pela representação do quotidiano lisboeta, com os seus lugares (ruas, bairros típicos, cafés, teatros) e personagens (mendigos, bêbados, prostitutas, ardinas, varinas, costureiras, burgueses, vamps) reveladores do olhar atento e crítico do artista, que este transpõe para o desenho fazendo uso frequente da ironia. O recurso à mancha de cor e à rapidez do traço revelam o caráter instantâneo do seu desenho, muitas vezes economizador na forma, mas sempre expressivo e eficaz.
A revolução de 26 de maio de 1928 acaba por influenciar o conteúdo dos desenhos e caricaturas do artista, as quais, se ao longo da década de 1910 apresentavam na sua maioria um conteúdo político, passam posteriormente a dedicar-se à sátira social, contornando assim a censura. Frequentador assíduo da boémia lisboeta, a vida atribulada de Stuart, marcada pelo alcoolismo e constantes dificuldades financeiras, leva a que produza desenhos com uma enorme facilidade e rapidez, utilizando frequentemente suportes e materiais pouco convencionais – papel de embrulho, cartão, guardanapos, graxa, borra de café, fósforos queimados e vinho – criando centenas de trabalhos que foram sendo dispersos, apresentando, por isso, a sua obra uma dimensão incalculável.
Todavia, e não obstante tais ocupações, o percurso de Stuart de Carvalhais fica ainda marcado pela criação de uma das mais importantes bandas desenhadas em Portugal, Quim e Manecas, publicada pela primeira vez em 1915 n’O Século Cómico. As aventuras destas duas crianças constituiriam a série mais longa de BD portuguesa, com mais de 500 episódios publicados entre 1915 e 1953 em diferentes jornais (O Século, Ilustração Portuguesa, Os Sports, Sempre Fixe, Diário de Lisboa, Cavaleiro Andante), havendo mesmo, em 1916, uma adaptação de Quim e Manecas ao cinema, hoje definitivamente perdida. O percurso de Stuart Carvalhais cruza-se ainda com o teatro, onde trabalha como figurinista e cenógrafo, apresentando pequenas incursões como ator. Em vida, raras são as vezes em que expõe o seu trabalho, participa em concursos ou obtém distinções. Destacam-se, por isso, em contexto internacional, enquanto cartazista, os prémios obtidos em Génova (1928) e Sevilha (1929), assim como, em 1949, o Prémio Domingos Sequeira atribuído pelo SNI, única distinção por parte de um organismo oficial português. Em 1932, realiza a sua única exposição individual na Casa da Imprensa.
Como consagrações e homenagens póstumas a Stuart de Carvalhais cabe salientar as ações levadas a cabo em 1987, ano do centenário do seu nascimento, com a atribuição do seu nome à Escola Secundária Stuart de Carvalhais, em Massamá (Queluz), local onde o artista residiu durante os últimos anos da sua vida, tendo a Câmara Municipal de Lisboa atribuiudo também o seu nome a uma praceta na cidade. Em 2004, a Casa da Imprensa, juntamente com o El Corte Inglés criaram o Prémio Stuart que abrange as áreas da ilustração, desenho e caricatura de Imprensa. De entre as várias obras dedicadas à vida e obra do artista, cabe salientar Crónicas d’um Stuart (1987) de Osvaldo de Sousa, Stuart 1887-1987 Centenário do Nascimento (1987), com coordenação de José Pacheco, Maria Ribeiro Figueiredo e Maria do Céu Baptista, Stuart Inédito (1989) de Pedro Foyos, Aventuras de Manecas e João Manuel (1996) com coordenação de João Paulo Cotrim e Stuart Carvalhais: o desenho gráfico e a imprensa (2000) de José Pacheco.
Daniela Simões
Março 2015
S/ Título («Fado do Sonho»)
S/ Título («O meu Menino»)
S/ Título (Sargenta)
S/ Título (Boy-Scott-Com Chapéu)
S/ Título (Bombeira)
S/ Título (Guloseima Nacional)
S/ Título (Soldada – com chapéu e cartucheiras)
S/ Título (Tremoço Saloio)
S/ Título (Generala – Thereza)
S/ Título (Boneca Maria – 2 Marinheiras)
S/ Título (Civil Armada)
S/ Título («Companheiros de Infortúnio»)
S/ Título («Minha Senhora, não lhe peço muito, só lhe peço que me trate como a um cão…»)
S/ Título («O que convinha agora, era a intervenção de Portugal na guerra de Marrocos. Vendia todo o bacalhau…»)
S/ Título («Foi também encontrada uma bomba no poço do quintal da sua residência»)
S/ Título («Caro um copo d’água por dois camôxos? Vá bebê-la a Garrett e verá quanto lhe custa…»)
S/ Título («A melhor maneira de engordar é emagrecendo os outros.»)
S/ Título («Onde é que dão a esmola? É além ao fundo da rua, indo a correr ainda apanha…»)
S/ Título («Manobras da Esquadra»)
S/ Título («É um perigo, beber coisas geladas no verão. Então que devemos beber como refrigerante àgua a ferver!»)
S/ Título («Dizem que foi seminarista! Então que queres, aprendeu para vigário.»)
S/ Título («Forças vivas de fartura. Forças mortas de fome!»)
S/ Título («Tem razão, ainda não estamos civilizados; não usamos gazes asfixiantes.»)
S/ Título (Desenho para o Bristol Club)
S/ Título («Não sei o que fazem ao dinheiro, ainda a semana passada lhe dei dois tostões!…»)
S/ Título («Onde vaes à água minha filha? Não vou à água, vou ao vinho para meu pai»)
S/ Título («Patrão, um operário ficou agora morto pelo volante de uma das machinas. E a machina ficou inutilizada?»)
S/ Título («Polícia e Ébrio…»)
Sem título (Caricatura de José Pacheco)
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Estudo para Capa da Revista ABC
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