Rui Calçada Bastos

Lisboa, 1972

Rui Calçada Bastos vive e trabalha entre Lisboa e Berlim. Frequentou as Escolas de Belas-Artes do Porto e de Lisboa e a Escola Ar.Co, em Lisboa. Das duas residências de artistas realizadas em 2002/2003, uma em Paris e outra em Berlim, a segunda seria de grande importância para a fixação do seu trabalho em vídeo.

Participa em exposições coletivas desde 1998. A sua primeira individual, em 1994, é realizada no espaço do Boqueirão da Praia da Galé, em Lisboa, onde, no ano seguinte, realiza Pausa, numa situação performativa associada a uma instalação vídeo. A presença do artista como ator vai manter-se noutros trabalhos, o que não deixará de ter que ver com o forte substrato existencial pessoal e biográfico que alimenta a ideia de muitos desses trabalhos.

 

Em Ten Years Looking Foward to See You (1998/99), a acumulação de rostos conhecidos e desconhecidos cruzados fora de Portugal, que olham a câmara e portanto o artista, fazendo dele o centro diferido de toda a sequência, consolida as suas ideias sobre o trabalho neste suporte.

 

O balanço ou rescaldo de relações amorosas, felizes ou frustradas, pode facilmente ser motor da conceção de alguns dos seus trabalhos. Será o caso de Loneliness Comes from One (2003). A solidão dita ao outro, a negação da própria dualidade que se começa por afirmar estruturam o sentido e os dispositivos construídos.

 

Numa viagem de comboio, encontrou a ocasião de captar imagens duma mulher bela de olhos fechados. Casting Thoughts (2000) dá-nos um acesso rítmico a zonas de um rosto, em função de batidas de coração audíveis e como se um pára-brisas estivesse acionado sobre uma película transparente que nos separa do seu espaço de sono ou pensamento.

 

Mais recentemente, Left(L)overs (2004) figura de forma metafórica e coreográfica a tentativa de libertação de memórias: vemos uma personagem masculina, de costas, levantando a poeira do casaco ao bater nos ombros, sendo o gesto acompanhado de um som semelhante ao de um disparo.

 

O papel do som é importante desde a instalação Entrance/Exit (1999) em que diante de um espelho se ouvia o som do mesmo a partir-se, e também desde a instalação feita para a Bienal da Maia (Untitled, 1999),em que o som dos seus passos a caminhar se somava ao esforço irruptivo da luz por entre um obstáculo. A dualidade estrutural, a luz, as palavras aforísticas, a confidência dos acidentes de percurso, são outros aspectos recorrentes do seu trabalho.

 

Em Work Table (2002-2003), dois tripés que suportam lâmpadas fluorescentes com palavras escritas são colocados em desequilíbrio com o empilhamento de cassetes de vídeo (uma para cada mês) sob os pés de um dos lados. Em Studio Accident (2003), é também o desequilíbrio (estantes a cair) que parece protagonizar uma outra situação de ateliê fotografada. Na última edição do Prémio União Latina (2005), o ateliê serve aliás como recurso para uma listagem exaustiva de tudo o que nele existe, com a transformação das palavras num filme que as organiza plasticamente (Studio Contents, 2004).

 

Uma série de quatro vídeos, realizada entre 2001 e 2002, que reuniu sob o nome de Quadrifoglio, desenvolve aspectos fulcrais da sua linguagem videográfica. O ambiente cinematográfico desses trabalhos (musicado, narrativo, enigmático nas sucessões) torna-se frequente.

 

Em 2009 realiza no Rio de Janeiro uma instalação de som e luz num espaço público: The Law of Silence. No mesmo ano, Cabin Fever, na Appleton Square, em Lisboa, proporciona uma experiência espacial inesperada ao observador potencial das suas fotografias.

 

Nos últimos anos alguns projetos fotográficos têm sido realizados nos Estados Unidos e na Europa, no cumprimento de uma condição viajante e nómada cara ao artista.

 

Em 2011, vence o 2.º Festival Internacional de Vídeo VAFA (Video Art For All), organizado pela AFA (Art for All) e pela Fundação Oriente em Macau, com a obra All That Glitters. Em 2012, apresentou vídeo e fotografia na galeria José Robles, em Madrid, numa exposição a que chamou If you’re going through hell, keep going e Par Terre, no Espace Photographique Contretype, em Bruxelas.

 

No final de 2012, realizou The American Sunset, uma exposição individual na galeria Vera Cortês em Lisboa, reunindo trabalhos em que questiona a sua e a nossa atualidade, criados durante a residência em Villa Aurora, Califórnia, com uma bolsa para artistas domiciliados na Alemanha.

 

Leonor Nazaré

 

Maio de 2013

 

 

 

Atualização em 10 março 2016

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