Robert Delaunay

Paris, França, 1885 – Montpellier, França, 1941

Nasceu em Paris, a 12 de Abril de 1885. Foi educado pelos tios maternos, que o iniciaram, de um modo muito clássico, na pintura. Entre 1902 e 1904, trabalhou como aprendiz nos estúdios Ronsin, especializados em pintura para teatro. A sua formação artística foi, no entanto, essencialmente autodidacta, com as primeiras telas pintadas na Bretanha, durante o Verão de 1903. Entre esta data e 1906, as pinturas que realiza reflectem o contexto pós-impressionista do seu trabalho, em que se articula uma investigação plástica em torno do complementarismo cromático e da luminosidade, questões centrais no desenvolvimento da sua obra. Numa segunda viagem à Bretanha, o artista encontra em Gauguin e na pintura do grupo de Pont-Aven importantes referencias. Em 1905, descobre igualmente a pintura de Seurat e Van Gogh, nas retrospectivas realizadas no XXI Salão dos Independentes, e a pintura dos então apelidados “Fauves”, exposta no Salão de Outono.

Por ocasião da sua participação no Salão dos Independentes de 1906, conhece Jean Metzinger, que lhe dá a conhecer o trabalho de Paul Signac e de Henri-Edmond Cross, a partir o qual Delaunay realizará várias telas “divisionistas”. Este termo foi então cunhado por Signac para definir uma técnica pictórica e que cores e tons não são misturados na paleta mas se aplicam directamente no suporte, em pequenas pinceladas justapostas (não forçosamente circulares, como no pontilhismo), criando um efeito visual de maior luminosidade e brilho, e dando à tela uma textura mais vibrátil, indutora da ideia de movimento (por exemplo, Portrait de Henri Carlier, 1906, ou Paysage au disque solaire, 1906-1967). Estas obras revelam o interesse de Delaunay pela criação de uma linguagem pictórica assente na contrastação cromática, já enunciada pela pintura neo-impressionista, e que aprofunda com o estudo das teorias de Eugène Chevreul sobre o comportamento da cor. Por outro lado, a representação do disco solar indicia a futura utilização de círculos coloridos, utilizados como o principal elemento estruturante, formal e simbolicamente, das suas composições.

Em 1907, conhece Sonia Terk, com quem virá a casar-se três anos mais tarde, e vê a exposição póstuma da obra de Cézanne (galeria Bernheim-Jeune).

A série de pinturas sobre o deambulatório da igreja gótica de Saint Séverin, em Paris, iniciada em 1909, constitui a primeira obra magna de Delaunay, em que são exploradas questões relacionadas com a indução no observador da ideia de movimento e de dissolução da forma, tão cara aos cubistas. Nesta série revelam-se os grandes temas trabalhados pelo artista, em torno da luz, da cor e da expressão pictórica do processo de visão enquanto actividade consciente (e é a este nível, mais programático do que estético, que o seu universo plástico se aproximará do de sua mulher, Sonia Delaunay). Estas pinturas estabelecem a reputação de Delaunay, e Kandisky convida-o a participar, com grande sucesso, na primeira exposição do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), na galeria Tannhäuser, Munique, em finais de 1911. Para esta exposição, Delaunay envia, entre outras, uma pintura de 1910, da Torre Eiffel, e que faz parte de uma nova série de trinta trabalhos, iniciada em 1909. Uma das pinturas de maiores dimensões desta série, de 1910-1911, é muito característica do que Delaunay chamava o seu período “destrutivo”, pela aparente dissolução da sólida estrutura arquitectónica através da luz. Por estes mesmos anos, Delaunay interessa-se pelo tema da representação da cidade, trabalhando a partir de postais ilustrados, e submetendo esta imagética a um processo de progressiva abstracção. Mas é apenas em 1912, com as séries das Janelas e das Formas Circulares, já sem qualquer ligação à realidade observada, que Robert Delaunay rompe definitivamente com a janela albertiana, tratando o espaço pictórica como uma superfície plana onde se relacionam forças que têm apenas a ver com o trabalho da cor pura. O poeta Apollinaire apelida esta sua pintura de “Cubismo órfico”, afirmando tratar-se, juntamente com o Cubismo científico, da outra grande tendência da pintura moderna. A esta designação Delaunay prefere a de “pintura pura”, que sublinhava o carácter conceptual do seu trabalho, utilizando ainda o termo “simultaneísmo”, muito usado pelos futuristas.

O rebentar da Primeira Guerra Mundial surpreende o casal Delaunay em Espanha, onde passava férias na companhia do seu filho, Charles, nascido em 1911. De Madrid viajam até Lisboa, acabando por se instalar em Vila do Conde (entre 1905 e 1917). Robert recomeça a pintar, mas opta pelo tratamento de temas figurativos, como no caso da série de sete pinturas de Femme nue lisant, inspiradas na Diana e Calisto de Rubens. Em Vila do Conde, o casal experimenta a pintura a encáustica (pigmentos misturados com cera quente), e Robert pinta várias Naturezas-Mortas Portuguesas, Jarras e Mulheres Portuguesas. Correspondem-se para Amarante com Amadeo de Souza-Cardoso, e vêem frequentemente Eduardo Viana, que chega a viver na sua casa de Vila do Conde, conhecendo já desde Paris estes dois artistas portugueses. Relacionam-se igualmente com José de Almada Negreiros e com José Pacheko. Surge o projecto colectivo Corporation Nouvelle, que se destinaria a editar álbuns de arte e poesia, e a organizar exposições “móveis”. Mas o projecto não avança e Robert e Sonia são os únicos a participar numa exposição em Estocolmo, em 1916. Entre 1917 e 1921, o casal Delaunay viverá em Espanha. De regresso a Paris, Robert expõe novamente em Estocolmo e organiza uma grande exposição individual em Paris, na galeria Paul Guillaume, em 1922. Segue-se um período extremamente fértil, em que retoma temas de trabalhos antigos, alguns dos quais desaparecidos durante a guerra, e realiza inúmeros retratos de poetas, compositores, escritores, seus amigos. É convidado a participar com pinturas murais na Exposição Internacional de Artes Decorativas, de 1925; expõe na Alemanha e na Áustria.

Em 1930, retoma a pintura abstracionista, em grandes composições em que reaparecem as formas circulares e que se intitulam Rythmes joie de vivre e Rythme sans fin. Realiza os primeiros relevos e explora novos materiais pictóricos, como a areia, o gesso, o cimento, a cortiça. A última década da sua vida é a da sua consagração como pintor. Participa com seis telas na importante exposição Cubism & Abstract Art (MoMA, Nova Iorque, 1936), dirige a decoração dos Pavilhões dos Caminhos-de-Ferro e do Ar na Exposição Internacional de Paris, 1937, e vários dos seus trabalhos são adquiridos pelo Estado francês. Em 1938, executa as suas últimas pinturas: três grandes painéis para o hall de esculturas do Salão das Tulherias. Morre em Outubro de 1941.

 

Ana Vasconcelos

2004

Atualização em 16 abril 2023

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