Lino António

Leiria, 1898 – Lisboa, 1974

Pintor português representante da segunda geração modernista, Lino António da Conceição frequentou o curso dos Liceus e o curso de Desenho Ornamental da Escola Industrial de Domingos Sequeira, em Leiria. Após uma passagem meteórica pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, matriculou-se em 1915 na Escola de Belas-Artes do Porto. Por volta de 1917, Lino António frequentava as “tertúlias modernas”, muitas provavelmente no café Excelsior, referindo num artigo que o escultor Diogo de Macedo «enchia de entusiasmo os moços que ensaiavam, no Porto, os primeiros passos revolucionários da Arte».

Em 1918, organizou em Leiria a primeira exposição individual onde sobressaiu o carácter decorativo e «modernista da técnica». Na cidade do Lis fez parte de uma tertúlia onde além do seu antigo mestre Narciso Costa participavam António Varela, futuro arquitecto, Luís Fernandes, um artista polifacetado, o poeta Américo Durão e o médico e escritor Américo Cortez Pinto, entre outros. As três primeiras personalidades foram as que estreitou junto a si no significativo auto-retrato colectivo intitulado como um manifesto: Nós, 1923. No ano seguinte realizou em Lisboa, na SNBA, aquela que considerava efetivamente como a sua primeira exposição individual, recebendo apreciação crítica na Contemporânea e na Athena. Nela definiu duas tendências temáticas que não mais abandonaria: o litoral e as suas gentes, especialmente a Nazaré, e a vida urbana.

 

Lino António participou no I e no II Salão de Outono na SNBA, em 1925 e 1926. Nesses mesmos anos, o Bristol Club, importante local da boémia e da vida cultural lisboeta foi renovado e alguns trabalhos de Lino António foram selecionados para a sua decoração, dois deles pertencentes ao CAM: Pintura e Natureza-morta e também A mulher e os galgos. No final da década de vinte, à semelhança de muitos outros artistas, fez ilustração para revistas literárias e/ou artísticas, designadamente para a Civilização.

 

Participou na Exposição Ibero-Americana de Sevilha, em 1929 e na Exposição Colonial de Paris em 1931, integrando a equipa de António Ferro. Esteve presente no I e no II Salão dos Independentes em 1930 e 1931. Entretanto, a conjuntura havia mudado e com ela as suas opções estéticas que transitaram de uma pesquisa cézanniana nos primeiros anos da década, para um convencionalismo mais próximo das opções do gosto oficial. Lino António procurou ainda na década de 60 outra linguagem pictórica, experimentando uma atualização através de novas formas e processos.

 

A partir do final da década de trinta começou a trabalhar em encomendas públicas de vulto que o permitiam manter um certo desafogo, elegância e bem-estar que sempre prezou. É significativo que num momento em que o queriam agraciar com uma comenda tivesse exclamado: «-Comenda? Eu preferia uma encomenda!». António Ferro promoveu a partir de 1935 as Exposições de Arte Moderna, Lino António participou na primeira e no ano seguinte já não participaria na Exposição de Artistas Modernos Independentes. Em 1938 pintou os frescos do arco triunfal e da varanda do coro da igreja de Fátima em Lisboa. Por volta deste ano iniciou os painéis para a sala do Presidente da Assembleia Nacional. Participou como pintor-decorador na Exposição do Mundo Português em 40 e na I Exposição de Montras. Em 1944 organizou no pequeno Estúdio do SPN a sua última exposição individual, obtendo êxito assinalável.

 

Deve sublinhar-se o valor, extensão e empenho da sua ação pedagógica. Lecionou pela primeira vez como professor de Desenho Geral na Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande. Já em Lisboa foi professor efetivo de Desenho Mecânico da Escola Industrial de Machado de Castro e em seguida professor efetivo da Escola de Artes Decorativas de António Arroio tornando-se mais tarde diretor e professor metodólogo, elaborando uma importante modernização curricular. Lino António foi o raro professor e diretor de “porta aberta” que levava livros e revistas da sua recheada biblioteca pessoal para as salas de aula, colocando essas fontes à disposição dos alunos e em tempos difíceis defendeu a liberdade possível naquela Escola.

 

Convém destacar mais algumas encomendas públicas e trabalhos de artes decorativas que concretizou: os vitrais da Casa do Douro na Régua, em 1945; os vitrais para a Capela do Colégio das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em 1946; os frescos e vitrais para o Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, em 1949; o fresco para a capela-mor da Igreja de Santo Eugénio do Bairro da Encarnação, em 1951; o painel de cerâmica policromada para o átrio principal do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em 1952; a Via Sacra para o pórtico do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, realizada com a participação de Querubim Lapa e de Manuel Cargaleiro, em 1955; o painel de cerâmica policromada para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; os frescos do Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, em 1957; o painel e friso cerâmico para o Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em 1958; o painel cerâmico para o Pavilhão do Corpo de Alunos do Colégio Militar, também em 58; a tapeçaria Olisipo para o Hotel Ritz, em 1959; os frescos para o átrio principal da Biblioteca Nacional, em 1966. No ano anterior tinha participado na Bienal de São Paulo. Em 1968 devido ao limite de idade viu-se obrigado a deixar a direção da Escola de Artes Decorativas António Arroio lamentando não ter efetivado a passagem da velha para a nova escola, algo que desejava e que tinha preparado. Continuou a dedicar-se à pintura nos seus últimos anos de vida numa revisitação breve, num comovente retorno ao modernismo da sua juventude.

 

 

Sandra Leandro

Março de 2013

 

Atualização em 23 janeiro 2015

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