José de Carvalho

Redondo (Alentejo), 1949 – 1991

José de Carvalho Guinapo integrou a geração de artistas que, nos anos 70, tinham como centro de produção a cidade Évora. A sua breve trajectória artística, forjada sobretudo a partir da participação na exposição Alternativa Zero, evoluiu por meio da experimentação de novas formas de fazer arte. Segue inicialmente as tendências conceptuais e pós-minimais e mais tarde, nos anos 80, as tendências ligadas à figuração.

José de Carvalho nasce no Redondo, mas ainda criança vai viver para Évora. Estuda na Escola Industrial e na Escola de Regentes Agrícolas da mesma cidade alentejana. Com a região do Alentejo manterá, desde sempre, uma forte ligação, como ficou expresso numa entrevista que deu ao jornal O Giraldo: “tenho uma enorme paixão pelo Alentejo, o qual é muitíssimo importante no trabalho que executo”.

 

O artista eborense António Palolo foi a influência mais determinante, e permanente, no percurso artístico de José de Carvalho. Não só frequentava constantemente o atelier de Palolo mas inclusivamente fará com ele várias viagens, nomeadamente a S. Paulo e a Londres, onde tomavam conhecimento das novas tendências da arte internacional.

 

Autodidacta, o trabalho de José de Carvalho será marcado por um experimentalismo e interdisciplinaridade no uso de variadas técnicas e materiais. Começará por explorar as potencialidades da performance, do vídeo e da instalação, seguindo as tendências artísticas internacionais dos anos 70, que também estavam a ser originalmente exploradas pelos artistas que lhe eram próximos, nomeadamente por José Conduto. Os seus trabalhos em performance e vídeo adquirem algum reconhecimento internacional com a exposição Portuguese Video Art, que decorre em Abril/Maio de 81 na Corroboree, Gallery of New Concepts, University of Iowa, EUA, onde apresenta a performance-vídeo Belém. As performances de José de Carvalho revelam comummente um cunho excessivo e provocatório, por vezes com violência auto-infligida, e que encontra paralelos com traços do seu carácter, que muitos amigos reconhecem como intempestivo e desmesurado. José de Carvalho não se coibira de experimentar variados papéis e desafiar convenções. Durante o serviço militar foi sacristão na Trafaria, foi forcado (cernelheiro), e durante um breve período viveu também em reclusão no convento da Cartuxa em Évora.

 

Em 1977 é um dos artistas que participa na exposição Alternativa Zero – Tendências Polémicas da Arte Portuguesa Contemporânea onde apresenta com António Palolo a performance e instalação Akasha Escolar, e também duas obras da sua autoria, compostas por nove peças em cartão e pintadas a tinta esmalte, intituladas Painéis Monocromáticos. As obras de matriz conceptual que produz revelam, de forma distinta, a reutilização e conjugação de vários materiais industriais ou materiais ditos “pobres”, como por exemplo a serapilheira, o cartão, a borracha e o ferro.

 

É um dos oito artistas que compõe o chamado “Grupo 8 de Évora-Monte”, formado no pós-25 de Abril e do qual faziam parte António Palolo e José Conduto. Este grupo de artistas realizaria apenas três exposições em conjunto, a última, por intermédio de Ernesto de Sousa, decorre em 1978 na Galeria de Arte Moderna de Belém. Nesse mesmo ano José de Carvalho apresenta a sua primeira exposição individual intitulada Espiral – Instalação e Performance na Galeria Grafil (actual Galeria Diferença). Em 1979, participa na exposição SACOM II, no Museu Vostell de Malpartida, em Espanha.

 

Na década de 80, depois de desagregado o Grupo 8, o trabalho desde artista incide sobre a produção de desenho e pintura. Recebe o prémio de desenho na Lis’81, e o prémio da Bienal de Lagos em 1986. Ainda em 1983, participa na exposição Depois do Modernismo realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes. Nesse mesmo ano, decide partir para Amesterdão com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Ambicionando encontrar reconhecimento internacional, permanece aí dois anos, mas a experiência revelou-se, em larga medida, malograda, não apenas devido aos problemas financeiros, mas igualmente pelas dificuldades de inserção naquele meio artístico. Nos últimos anos da sua produção realiza obras de cariz mais abstracto, reforçando o seu carácter matérico. São deste período, a chamada “fase dos dourados” e a fase “Vale dos Corvos”, onde predomina o negro da tinta Flintkote.

 

José de Carvalho faleceu em 1991, com apenas 42 anos. António Cerveira Pinto reconhecia em 1992, que este artista seria “talvez o mais promissor dos novos selvagens”.

 

 

CC

 

Agosto de 2011

 

 

Atualização em 10 março 2016

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