Jorge Barradas

Lisboa, 1894 – 1971

Jorge Nicholson Moore Barradas nasceu em Lisboa a 16 de julho de 1894 e faleceu a 30 de Junho de 1971. Desde cedo dedicou-se à prática do desenho, o mesmo que lhe valeria um lugar entre os principais nomes do modernismo português. Criador de uma obra multifacetada – pintura, caricatura, ilustração e cerâmica – os primeiros anos da sua carreira foram essencialmente marcados pela atividade de ilustrador em revistas e periódicos, seguindo-se o contacto com a pintura e, mais tarde, com a cerâmica, na qual Jorge Barradas desenvolveu uma obra notável ao longo de quarenta anos. 

Oriundo de uma família numerosa de poucos recursos, com ascendência escocesa e irlandesa, os anos de juventude de Jorge Barradas são passados em deambulações pela boémia da capital, entre cafés e teatros. Matricula-se na Escola Machado de Castro para a obtenção de um curso técnico, para rapidamente a abandonar, pois seria no desenho que o jovem Barradas encontraria a vocação. Ingressa, por isso, em 1911, na Escola de Belas-Artes, a qual abandonaria também dois anos mais tarde, iniciando uma formação autodidata comum a tantos outros artistas da sua geração. Os contactos criados no círculo boémio lisboeta levam a que, por via de Joaquim Guerreiro, diretor de A Sátira, conheça muitos dos artistas que integrariam o I Salão dos Humoristas Portugueses, marco fundamental para a inauguração do modernismo em Portugal. Jorge Barradas, então com 17 anos, era o mais novo dos 28 expositores, onde se encontravam nomes como Almada Negreiros, Cristiano Cruz, Stuart de Carvalhais, Emmerico Nunes, Alfredo Cândido, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, entre outros. Participações semelhantes terão lugar nos anos seguintes, com a II Exposição de Humoristas (1913) e a I, III e IV Exposições de Humoristas e Modernistas (1915, 1920, 1924). Os seus desenhos, caricaturas e ilustrações deste período encontram-se imbuídas de uma estética cara ao Jugendstil e ModernStyle, no alongamento das figuras, simplificação do traço, uso da monocromia, destacando-se os desenhos publicitários, elaborados entre 1913 e 1915, para a chapelaria A Elegante, outrora sita na Rua da Palma.

 

A tentativa falhada de, juntamente com António Soares, criar o primeiro atelier de design gráfico em Portugal será compensada com a colaboração assídua de Barradas com inúmeras revistas e periódicos em circulação na época (Papagaio Real, Ideia Nacional, Ilustração Portuguesa, A Pátria, Contemporânea, Atlântida, Eva, Magazine Bertrand,…), para os quais criará, entre os finais da década de 1910 e ao longo de toda a década de 20, dezenas de ilustrações, destacando-se a colaboração assídua com a revista ABC, para a qual Jorge Barradas executará inúmeras capas. Nelas, a figura feminina é a protagonista, envergando as últimas modas vindas de Paris, cabelo à garçonne , ora dançando o Charleston nos dance-halls, ora conversando alegremente à mesa, ora fumando languidamente o seu cigarro. Conceção mais idealizada que real, as ilustrações destes anos demonstram a vontade de atualização face a modas e comportamentos importados do estrangeiro, onde, uma nova conceção do traço, próxima dos padrões arte deco franceses, vigora. A década de 1920 é igualmente marcada pelo trabalho de Barradas na pintura, onde participa, juntamente com outros artistas da sua geração, na remodelação da decoração do café A Brasileira no Chiado, entre 1925 e 1927. O universo mundano e boémio das ilustrações conviverá lado a lado com a representação dos chamados “tipos lisboetas”, figuras típicas da capital – varinas, leiteiras, vendedeiras, marinheiros,… – que obterão forte adesão por parte do público, na atualização de um tardo-naturalismo herdado de oitocentos. No entanto, Barradas emprega nestas figuras um traço que, mais do que descritivo, pretende ser decorativo, não obstante o prolongamento de valores e modelos caros a uma estética do pitoresco.

 

Uma estadia de seis meses na ilha de São Tomé, em 1931, favorece a introdução do tema da paisagem na obra do artista, essencialmente através da criação de composições luxuriantes, de cores fortes e contrastantes, onde o exotismo da paisagem são-tomense serve de mote ao exercício da pintura, mais uma vez encarada segundo um olhar essencialmente decorativo. Tais pinturas ficariam conhecidas como “paisagens tropicais”, expostas pela primeira vez em dezembro de 1931, e que, cerca de 40 anos mais tarde, Barradas revisitaria em vários óleos pertencentes à última fase da sua carreira. A década de 1930 é marcada pela participação em vários certames – Exposição Colonial de Paris (1931),Exposição Colonial Portuguesa no Porto (1934), Exposição Internacional de Paris (1937) – e ainda nos diversos salões de arte moderna do SPN/SNI entre 1935 e 1947, sendo as obras apresentadas essencialmente compostas por cenas de costumes de cariz ruralista, alternadas com representações de bustos femininos, frutos de um “modernismo tranquilo” caro à “Política do Espírito” de António Ferro.

 

À atividade de pintor, com breves contributos como figurinista para o teatro de revista, juntar-se-á, a partir da década de 1940, o trabalho de ceramista, o qual acompanhará Jorge Barradas até ao fim da sua vida, numa redescoberta e renovação deste suporte, de cujo último grande mestre havia sido Rafael Bordalo Pinheiro. Torna-se, por isso, interessante verificar a semelhança de percursos entre ambos os artistas, pois, se numa primeira fase é na caricatura e ilustração que ambos definem o seu trabalho, denota-se igualmente uma viragem no sentido da valorização e preferência pelo universo da cerâmica, para o qual tanto Rafael como Barradas transpõem elementos caros à imagética popular nacional. A abordagem de Barradas ao suporte cerâmico demarca-se pela sua versatilidade: escultura de vulto, azulejo, objetos decorativos como jarras, bilhas, potes, e ainda painéis de alto e baixo-relevo que realizam um pleno diálogo com a arquitetura onde se inserem. Todos estes trabalhos são trespassados por uma estética naïf, próxima do trabalho dos oleiros populares, à qual se aliam influências do biscuit rocaille, visíveis na modelação e paleta empregues. O gosto pelo decorativismo, cultivado ao longo do seu percurso como ilustrador, é igualmente notório, aproximando-se, por vezes, de um horror ao vazio barroquizante, enfatizado pela inclusão de elementos como putti, vasos com flores, colunas torsas, cornucópias da abundância, típicas de um universo classizante.

 

De entre as menções honrosas e prémios atribuídos destacam-se, na vertente de pintura, o Prémio Columbano (1939), e, na vertente de ceramista, o Prémio Sebastião de Almeida (1949). Como exposições póstumas do seu trabalho há a destacar as duas realizadas pela Galeria São Mamede (Lisboa), em 1977 e 1985 respetivamente, sendo ainda digna de menção a monografia Jorge Barradas (1995) de António Rodrigues, publicada pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

 

 

Daniela Simões

Março de 2015

Atualização em 10 março 2016

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