Joaquín Torres-García

Montevideu, Uruguai, 1874 – Montevideu, Uruguai, 1949

Joaquín Torres-García muda-se com a família do Uruguai para Espanha, em 1891, onde vai residir em Mataró, fixando-se um ano depois em Barcelona. É aí que inicia os estudos artísticos, frequentando a Academia de Belas Artes e a Academia Baixas, integrando o Círculo Artístico de Saint Lluc em 1894.

Já na segunda metade da década de 1890 frequenta o café Els Quatre Gats, onde toma contacto com o Noucentismo Catalan, movimento local que preconizava um retorno ao classicismo, afirmando a herança mediterrânica greco-romana como forma de imposição nacionalista nos planos estético, intelectual e político. Entre 1904 e 1905 trabalha com Antoni Gaudí na decoração da Catedral de Palma de Maiorca e na Igreja da Sagrada Família, em Barcelona, e em 1910 visita Paris pela primeira vez, onde vê os murais de Puvis de Chavannes, partindo depois para decorar o Pavilhão do Uruguai na Feira Mundial de Bruxelas.

É em 1913 que a sua obra começa a sofrer uma ligeira inflexão, aproximando-se do modernismo. Neste ano, desloca-se a Roma e Florença para estudar pintura a fresco na sequência da encomenda da pintura do Salan de San Jorge no Palacio de la Generalitat de Cataluña. Esta obra, que inicia dentro uma linguagem próxima da tradição helénica, vai abandonar progressivamente a temática campestre, mergulhando em motivos do quotidiano local que despoletam uma acirrada reação marcada por disputas políticas. Em 1917, esta polémica redunda na destruição dos frescos, então cobertos por pintura histórica de cariz académico. Ainda em 1913, publica o primeiro livro, Notes sobre Art e, um ano depois, realiza os seus primeiros de brinquedos de madeira.

O trabalho com brinquedos de madeira é fundamental para o alterar da forma como problematiza a pintura a partir da segunda metade da década de 1910. Num momento marcado significativamente pela publicação do livro El Descubrimiento de Sí Mismo, Torres-García questiona a ideia de uma prática mimética, afirmando que a pintura terá que se bastar si própria. Neste sentido, como já referido, as experiências que realiza com os brinquedos ajudam-no a desenvolver formas de composição de estruturas complexas a partir de figuras geométricas elementares, orientando deste modo a ordenação do plano pictórico. Muda-se para Nova Iorque em 1920, regressando à Europa, em 1924, onde vai residir nas proximidades de Florença. No ano seguinte fixa-se em Villefranche sur Mer, partindo em 1926 para Paris. Na capital francesa, Torres-Garcia junta-se ao Internacional Construtivismo e é co-fundador, em 1929, do grupo Cercle et Carré, com Michel Seuphor, editando conjuntamente os três números da revista homónima, entre Março e Junho de 1930. Neste ano, organizam ainda a exposição Cercle et Carré, na Galeria 23, onde estão presentes trabalhados de, entre outros, Piet Mondrian, Hans Arp ou Luigi Russolo. Ainda antes de partir para Montevideu, em 1934, toma contacto com a obra de Vieira da Silva, com quem se corresponde.

No Uruguai, Torres-Garcia cria, em 1935, a Asociación de Arte Construtivo, a partir da qual tenta influir no campo da arte uruguaio. Neste sentido, retoma a experiência editorial parisiense, publicando dez números da revista Círculo y Cuadrado entre 1936 e 1943 e funda, em 1941, o Taller Torres-García. Reforçando que “o artista opera com formas e não com coisas, porque o que está a fazer é um ordenamento plástico, e não a reprodução de uma aparência natural”, publica em 1944 o livro Universalismo Constructivo. Aí, elabora uma síntese entre a herança do Noucentismo Catalan e do construtivismo, procurando igualmente defender a tese de que a afirmação do continente sul-americano se deve dar pela simbiose entre a modernidade e os valores locais, e não por uma tendência para o isolamento. Assim, e esquematizando, defende uma prática que retome o olhar aos períodos clássicos europeu e sul-americano, condensando-os através do uso de signos que resolvem a transição plástica da natureza para a abstração, organizados numa estrutura ortogonal que modela o plano pictórico, onde domina a regra de ouro.

 

André Silveira

Maio de 2013

Atualização em 16 abril 2023

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