Eduardo Batarda

Coimbra, Portugal, 1943

Nasceu em Coimbra em 1943, onde entrou no curso de Medicina em 1960, de que viria a desistir três anos depois. Fez Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1963-1968). Estudou no Royal College of Art em Londres entre 1971 e 1974 com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Esses anos foram determinantes no aprofundamento de uma tendência, assinalável já nas suas primeiras pinturas e sistematicamente presente desde então na sua obra, para pensar a arte, o papel da arte, a história de arte e a teoria de arte na própria pintura.

Foi professor na Escola Superior de Belas-Artes do Porto (ESBAP) a partir de 1976. Fez a cenografia para duas peças do Teatro da Cornucópia: Alta Áustria, de F.-X. Kroetz (1976), e Capitão Schelle Capitão Eçço, de Rezvani (1980). Em 1986 ganhou o prémio «telegráfico» Homeostética. Fez dois projectos de tapeçarias (Tribunal Constitucional de Lisboa, 1988, e sede da União Europeia em Bruxelas, 1992-1995) e a decoração mural da estação de metro de Telheiras (1994-1996). A sua série de quadros Hispania Romana integrou a cenografia de A Tragédia de Coriolano de Shakespeare (encenação de Jorge Silva Melo, 1998). Em 1998 o Centro de Arte Moderna acolheu a sua exposição retrospectiva organizada por Alexandre Melo. Em 2007 ganhou o prémio EDP. Tem feito exposições individuais regulares na Galeria 111 e tem estado representado em várias exposições colectivas.

Entre 1964 e 1968 realiza várias pinturas sobre tela e madeira, primeiro a óleo, depois em acrílico (assim que este material chega a Portugal, em 1965). Nelas é frequente a divisão em pranchas à maneira da BD em toda ou em parte da superfície do quadro, utilizando-se esta compartimentação como aglutinadora de elementos díspares (temáticas políticas, artísticas, literárias e vernaculares) num mesmo nível de leitura. É também visível, na composição formal e nas cores usadas (vermelhos, negro, azul, verde, brancos), a influência das artes gráficas, publicitárias ou propagandísticas. Nos anos de serviço militar (1968-1971) faz ilustração de vários livros e as pranchas de O Peregrino Blindado (The Blind Penguin), livro de artista publicado pela Galeria 111. Nesse ano concorre a uma bolsa da Gulbenkian para a School of Painting do Royal College of Art em Londres, onde estudará até 1974, tendo como professores, entre outros, Peter Blake e Peter de Francia, e onde obtém o diploma MaRCA e os prémios Sir Alan Lane (crítica de arte, 1973) e John Minton (pintura, 1974).

No período londrino, no rescaldo da Pop britânica e no auge do experimentalismo e do conceptualismo, Batarda aperfeiçoa a técnica da aguarela, saturando cores e recorrendo a uma figuração dos comics underground americanos, desenhando com detalhe cada vez maior uma rede de referências artísticas, políticas, populares, autobiográficas, em comentário crítico recheado de alusões. A técnica da aguarela é voluntariamente escolhida por ser considerada menor, embora específica da pintura, e tanto ela como a morosa qualidade de execução contrastam com uma temática por vezes com carga pornográfica explícita. Nas aguarelas os desenhos preparatórios são feitos e refeitos até atingir a qualidade auto-exigida, só depois entrando as tintas. A superfície tem também numerosas inscrições, muitas vezes trocadilhos em jogo com as figuras, que aumentam os níveis de leitura. As pinturas desta época são descritas pelo pintor como «comentário permanente ao estado das artes».

Entre 1974 e 1975 faz crítica de arte no semanário Sempre Fixe, cujo carácter humorístico é pretexto para escrever textos contundentes e mordazes, com uma argumentação reveladora de um aprofundado pensamento crítico sobre arte.

Nos anos 80 regressa ao acrílico, numa primeira fase ainda com variações cromáticas e figurações reconhecíveis, depois progressivamente diluindo as figuras e adensando as camadas. As obras são, desde esta altura, feitas sem desenho preparatório em improvisações obliteradas por novas improvisações, fazendo literalmente pintura sobre pintura. Aparecem esparsamente cores das primeiras camadas, mas dominam os tons escuros, que desenham riscas e curvas em entrelaçamentos cada vez mais complexos. É aplicada uma espessa camada de verniz final, num acabamento propositadamente excessivo. À parte algumas obras do final dos anos 90 em que, ainda em acrílico e mantendo as formas habituais, abre a paleta e inscreve frases e expressões nos quadros, as telas vão-se tornando cada vez mais opacas. Os trabalhos mais recentes já não permitem entrever nada das camadas subjacentes, e apresentam uma figura final recortada num fundo monocromático. O sarcasmo das aguarelas permanece, mas torna-se cada vez mais implícito e, segundo o próprio pintor, o comentário à arte restringe-se cada vez mais a um comentário à sua própria pintura.

É autor de vários textos dos catálogos das suas exposições individuais, onde o tom autodepreciativo não esconde a erudição que subjaz à sua pintura. Ao longo dos anos surge esporadicamente nos seus textos a citação ou menção da inscrição num auto-retrato do pintor barroco Salvator Rosa, «aut tace, aut loquere meliora silentio».

 

Mariana Pinto dos Snatos

Maio de 2010

 

 

 

Atualização em 13 abril 2023

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