Diogo de Macedo

Vila Nova de Gaia, Portugal, 1889 – Lisboa, Portugal, 1959

Formou-se em Escultura na Academia Portuense de Belas-Artes e foi viver para Paris, como muitos modernistas portugueses, onde aprofundou os estudos com Bourdelle na Académie de la Grande Chaumière. O meio artístico português celebrou as suas esculturas neo-românticas e rodinianas, e ainda os desenhos e pinturas sob o signo de Modigliani, com quem conviveu em Paris. Mas mais do que a criação artística, foi a sua acção cultural que teve um impacto particularmente decisivo no país, como um dos autores mais prolíferos sobre arte moderna e contemporânea, e enquanto comissário e museólogo, assumindo em 1944 a direcção do Museu Nacional de Arte Contemporânea (actual Museu do Chiado) até ao final da vida.

Fiel à tradição escultórica de Gaia, e precoce amador de Soares dos Reis, Diogo de Macedo deu os primeiros passos na modelação com Fernandes Caldas, um santeiro perto de quem morava em Mafamude. Ainda tocou cornetim e interessou-se pelo violão, antes do irmão lhe impor um trabalho de escritório do qual fugiu, sob a alçada de António Teixeira Lopes, que convenceria a família a deixar o jovem de apenas onze anos inscrever-se no curso de Escultura da Academia Portuense de Belas-Arte, como desejava.

Assim que se formou, em 1911, partiu para Paris. E tal como o escultor açoriano Canto da Maia, seria fortemente influenciado pelas aulas de Antoine Bourdelle na Académie de la Grande Chaumière e pela descoberta da obra de Rodin. Um paralelo entre os dois artistas lusos revela a procura comum de uma exótica escultura figurativa, regida por ideias simbolistas, mas com figuras neo-românticas lavradas como discretos pantomimas de emoções fortes, na estilização serena e clássica ao gosto antigo em voga – estilo que ficou célebre com o seu grupo escultórico dos anos 20, L’Adieu e Le Pardon.

As dificuldades económicas e pessoais sofridas, não o impediram de visitar a Bélgica (1913) e de usufruir da vida boémia de Paris, enquanto se entregava fervorosamente à escultura e à pintura. A sua estadia num dos ateliers mais cobiçados pelos artistas, perto de Montparnasse, no 14, Cité Falguière, seria objecto de uma importante memória escrita (1930) em que recorda os artistas que por lá viviam, como Amadeo de Souza-Cardoso, o japonês Foujita ou o italiano Amadeo Modigliani, cuja influência é dominante nos seus desenhos.

Apesar de residir em Paris, a sua obra começa a ser conhecida em Portugal, com constantes exposições no Porto e em Lisboa logo a partir de 1912, e que se acentuarão ao instalar-se no Porto, um mês depois da I Guerra Mundial eclodir, quando regressa de Paris. Só voltaria a França quatro anos depois, acompanhado numa longa viagem por Ana Sotto-Mayor com quem se casou à revelia dos familiares, fixando-se novamente em Paris no ano de 1921. Foi um período intenso de trabalho, exposições, viagens, e vida social. Preparou entretanto um álbum sobre costumes tradicionais para a Ilustração Portuguesa, e organizou a Exposição dos 5 Independentes (1923) em Lisboa, juntando um grupo de artistas portugueses radicados em Paris, que se opunham ao conservadorismo artístico da terra natal. Aproveitando a época de desafogo económico, Macedo mudou-se definitivamente para Lisboa (1926), e intensificou ao longo da década seguinte a sua participação crítica, escrevendo em jornais e revistas a que se devem algumas das descrições e memórias mais vivas desse período artístico. Destacou-se na capital pelo seus bustos e retratos, de figuras eminentes do espectáculo (António Menano; Beatriz Costa), de escritores (Camilo; Antero; Florbela Espanca; António Botto) ou de pintores (Mário Eloy; Sarah Affonso), mas também por um dos seus últimos trabalhos, em 1940, a criação do conjunto de quatro Tágides para a Fonte Monumental da Alameda Afonso Henriques.

Quando perdeu a mulher, em 1941, deixou de esculpir. E em diante, dedica-se à preservação, estudo e divulgação das artes, assumindo o que considerava serem “missões da arte”. Ainda nesse ano estreou-se como conferencista, e iniciou a publicação de biografias de artistas, crítica literária, estudos e ensaios, prefaciando catálogos de exposições e integrando júris e comissões. Após ter assumido a direcção do Museu Nacional de Arte Contemporânea (actual Museu do Chiado) em 1944, as suas funções oficias sucederam-se, sendo convidado pelo Ministério das Colónias a dirigir e acompanhar uma exposição itinerante de arte moderna, em Angola e Moçambique (1948), orientando uma Semana Cultural Portuguesa em Santiago de Compostela (1949) ou, na década seguinte, partindo para o Brasil numa viagem de estudo, e visitando a ilha de S. Miguel, nos Açores, para organizar os processos de classificação dos imóveis de interesse público. Ainda voltaria a apresentar obras suas, no entanto, em importantes mostras internacionais como na Bienal de Veneza de 1950 ou no Pavilhão Português da Exposição Internacional de Bruxelas em 1958.

 

Afonso Ramos

Fevereiro 2011

Atualização em 16 abril 2023

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.