Bruno Pacheco
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Lisboa, Portugal, 1974
Em 1999 realizou em Oslo uma das suas primeiras participações coletivas, extensíveis, a partir de 2001, a Lisboa, Porto, Madrid, Cáceres, Londres e Pequim.
A primeira individual importante foi realizada em 1998 na galeria Módulo, e em 2002 o projecto Slow Motion divulgou a sua obra videográfica em dois momentos: na ESTGAD nas Caldas da Rainha e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Numa exposição individual na galeria Lisboa 20, em2004, tornou mais amplamente conhecido o seu trabalho em pintura e desenho. No mesmo ano, em Londres, expôs na galeria Lawrence O’Hana. Logo a seguir fez exposições no espaço da Haunch of Venison, em Londres e na CSC SIGMA, La Spezia, em Génova.
A partir duma permanente recolha de imagens cuja seleção refotografa para depois pintar, o artista elege detalhes, gestos, objetos, enquadramentos que se sucedem como um puzzle de imagens (nos casos em que compõem painéis de desenhos) ou como propostas isoladas e fragmentárias de evocação narrativa, simbólica e expressiva, no caso das grandes pinturas. Bruno Pacheco assume uma aparente descontinuidade das imagens no seu trabalho como forma de desconstruir a significação e os discursos legitimadores. Encontradas à sua volta por entre a família, os amigos, os colegas, os animais de estimação, as suas personagens são frequentemente figuras que opõem um lugar da autoridade (o polícia, o domador, o cavaleiro, o marinheiro, alguém investido do valor duma farda distintiva) à fragilidade ou universo sensível de outras figuras: donzelas vestidas de branco, anjos, acrobatas que a luz da ribalta ilumina sobre o frequente fundo negro.
O efeito de cintilação torna-se, aliás extensível a outras definições atmosféricas, de pormenor ou de conjunto. Como se a luz, trabalhada na sua irrealidade, fosse a forma privilegiada de indiciar e suspender acontecimentos e de não os explicar.
Essa irrealidade é também a dos profissionais de circo, das ginastas e dos elefantes, do fogo-de-artifício, das cenas equestres, da ênfase dada a ambientes e tensão relacional, mais do que a personagens. Somos frequentemente situados entre a celebração e a revolução, a dignidade e o kitsch, a festa e a ilusão, os edifícios e a vegetação, os pavimentos iluminados e a penumbra dos locais envolventes, a singularidade da personagem e o apagamento da sua identidade, a definição e a diluição duma forma. A imagem é um lugar plano em que a pintura se encarrega de lembrar que fabrica ilusão. Não há textura ou materialidade nestas pinturas apesar do valor gestual de muitas das pinceladas. Há uma natureza de ecrã cinematográfico em projeções de nitidez variável, vagamente remissíveis para algumas questões de Luc Tuymans e de Gerhard Richter.
Os elementos e processos da pintura são assuntos cruzados com todos os outros temas e equilibrados na balança em que distribui ideias e impressões, ou mesmo ideologias e opções estéticas.
O vídeo é um suporte em que trabalha paralelamente desde 1998 e no qual problematiza por vezes questões da pintura, como os efeitos de imaterialidade pelo tratamento da luz; mas em que experimenta também os mais diversos registos temáticos: a paródia do autorretrato, a capacidade de fingimento teatral, o cruzamento da imagem desenhada com a imagem projectada e com o som, na evocação simultânea de um espaço natural e de outro interior… Os eventuais cruzamentos com a história pessoal do artista são tornados imperceptíveis e irrelevantes no contexto duma proposta que se pretende o mais autónoma possível na sua retórica visual.
Em 2005 ganhou o Prémio União Latina, com um vídeo e uma pintura integrados na exposição realizada no espaço da Fundação Calouste Gulbenkian.
Refiram-se ainda a exposição individual All Together que realizou na Culturgest em 2007 e, entre outras mais recentes, Uma História de Amor, no Chiado 8 – Arte Contemporânea, Lisboa, ou Mar e Campo (em três momentos), Casa das Histórias – Paula Rego, Cascais. Participou em exposições coletivas como To Have a Voice, no GSA Mackintosh Museum, Glasgow, ou em individuais como as que realizou em 2006, 2008 e 2010 na Galeria Hollybush Gardens, Londres, são testemunho de um vínculo ao Reino Unido que tem mantido estreito.
Leonor Nazaré
Maio de 2013