Armando Basto

Porto, 1889 – Braga, 1923

Armando Pereira Bastos de Loureiro, como chegou a assinar durante os anos parisienses, nasceu no Porto em 1889. Pintor e escultor, praticou sobretudo o desenho no domínio mais específico da caricatura, tendo colaborado com várias páginas da imprensa, como O Riso e Lúcifer, e tendo sido responsável pela criação de alguns jornais, como O Monóculo e A Folia. Em 1918, no catálogo da sua exposição de pintura, na Galeria da Misericórdia, no Porto, escreveria que a sua pintura, que reconhecia poder «parecer hespanhola pelo que ella tem de peninsular», era contudo «sentidamente portugueza» — e por isso seria certamente vista como «exótica». Reclamava uma formação “sem mestres” a que se devia a sua originalidade. Não teve, infelizmente, muito tempo para prosseguir essa demonstração. Morreu em Braga, vítima de tuberculose, em 1923.

Estudante da Academia Portuense de Belas Artes, entre 1903 e 1910, Armando de Basto foi aluno de José de Brito e de Marques de Oliveira. Seguiu os cursos de Desenho, Escultura e de Arquitetura — tendo ganho o Prémio Soares dos Reis, quando estava ainda no 3º ano deste último. Expôs individualmente pela primeira vez, em 1910, na Sede da Associação dos Caixeiros do Porto, mostrando apenas caricatura. Lido, conhecedor da rua e também da herança de Daumier, Baudelaire e Zola, sonhava com Paris. Nesse mesmo ano parte para a Cidade Luz, onde se matricula em Desenho, Arquitetura e Escultura, sem contudo — tal como acontecera no Porto — vir a terminar qualquer dos cursos.

 

Diogo de Macedo explicaria as razões para o abandono discente, nesse amante da obra de Rafael Bordalo Pinheiro, Celso Hermínio, Cristiano de Carvalho e Leal da Câmara: «a mania da caricatura prejudicara-o nos estudos; e a tendência deambulatória aumentara-lhe a cabulice». É fácil reconhecer a verdade deste testemunho no percurso expositivo e profissional de Armando de Basto. Em Paris, ainda recém-chegado em 1910, expõe, no Salon des Humoristes, mostrando cartazes e caricaturas. Colabora com as folhas francesas Pages Folles e Le Bonnet Rouge. Em 1912 experimenta, enfim, a pintura a óleo, pintando o Retrato de D. de M. —referente a Diogo de Macedo, que se ofereceu como seu primeiro modelo, e cuja presença contemporânea em Paris testemunha, como vimos acima, a vida do pintor e o início de uma duradoura amizade.

 

Ainda em 1912, Basto passa pelo Porto onde realiza uma segunda exposição individual, de desenho. Regressa a Paris, onde priva com Aquilino Ribeiro, Sá-Carneiro, Ferreira da Costa, Santa-Rita, Amadeo de Souza-Cardoso e Amadeo Modigliani, entre outros. Voltará apenas a Portugal em 1915, depois de ter estado internado num hospital parisiense, na sequência dos primeiros indícios da tuberculose que viria a vitimá-lo.

 

Nesse mesmo ano de 1915, participa na primeira Exposição de Humoristas (Porto) e na de Modernistas. No ano seguinte, integra a exposição A Arte e a Guerra, no Salão dos Fantasistas. Em 1918, organiza a sua primeira individual de pintura, no Porto. Aí mostra 33 pinturas e alguns desenhos e projetos de decoração.

 

Em pintura, e em especial no retrato, demonstra a supremacia do desenho, disciplina formadora do seu ofício, tanto no domínio estrutural da composição, como no traçado de corpos e rostos — estes chegando a observar, por vezes, uma análise devedora do olhar do caricaturista. A paleta observa igualmente contrastes vivos que remetem, por vezes, para a experiência da ilustração e para um temperamento artístico com claro gosto pela teatralidade no tratamento dos temas, sublinhada pela escolha de títulos das obras. Já os registos paisagísticos ou as naturezas-mortas apresentam uma organização mais eminentemente pictórica, modelada pela luz e servida por uma paleta menos contrastante e mais aberta. Em todos os seus trabalhos se encontra, porém, a mesma ordem geométrica, livre, mas ordenadora do espaço, que o pintor considerava a disciplina do modernista.

 

Entretanto instalado em Lisboa é aqui que prepara as segunda e terceira mostras de pintura, respetivamente em 1919 e 1920. Participará ainda em várias coletivas de pintura, na Galeria das Artes. Integra a Exposição de Pintura Moderna, em 1920. Colaborador de vários jornais e revistas, como a Ilustração Portuguesa, fará ainda a capa da Teoria da Indiferença, de António Ferro.

 

O casamento levá-lo-á de volta ao Norte. Passará pela Granja, em 1920, onde colabora com uma empresa de móveis e onde pinta algumas pinturas de paisagem, dotadas de uma doce expressividade na sua luz nostálgica. Contudo, pouco tempo depois, estabelece-se em Braga onde prossegue a carreira de ilustrador, em jornais locais, e colabora com o arquitecto Moura Coutinho. Voltará a Lisboa, para participar, uma última vez, numa exposição, a colectiva da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1923.

 

Em 1958, Diogo de Macedo, então diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea, a convite do Secretariado Nacional de Informação, organizar-lhe-ia a primeira retrospetiva. De muita obra se teria perdido o rasto entretanto, temia-se. Mas o pequeno catálogo no qual se reuniu informação sobre 70 obras, entre desenho, aguarela e pintura, teve ainda o mérito de dar a palavra ao autor, publicando dois textos seus, um dos quais, um pequeno manifesto do modernismo que Armando de Basto, com irreverência e alegria, definia como uma procura individual da beleza e da verdade.

 

 

Emília Ferreira

Março de 2013

 

Atualização em 10 março 2016

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.