António Charrua

Lisboa, Portugal, 1925 – Évora, Portugal, 2008

Artista plurifacetado, Charrua desenvolveu, através de diferentes linguagens e suportes (desenho, pintura, gravura, artes gráficas, cerâmica, azulejo, vitral, tapeçaria, escultura) um vocabulário marcadamente abstracionista, sensível às correntes e problemáticas da pintura expressionista europeia e americana. Uma obra extensa e intensa, que se prolongou ao longo de seis décadas de atividade contínua, com a consequente produção de um número muito elevado de obras.

Nascido em Lisboa, frequenta o liceu na cidade de Évora, manifestando interesse pelas áreas da Física, Astronomia e Geometria e por tudo o que envolve máquinas e engenhos. Desenvolve interesses culturais alargados. Entre 1941 e 1943 reside na Parede, em cujo liceu conhece Manuel Canijo. Em 1944 ingressa na Faculdade de Ciências e frequenta os Preparatórios de Engenharia, que nunca chega a concluir.

Em 1945 descobre as obras de Vincent Van Gogh e Pablo Picasso, que o fascinam. Dois anos depois casa com Maria Alcina da Luz Andrade e em 1948 regressa a Évora, onde começa a desenhar e a pintar intensamente. Em 1950 frequenta a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa – Secção de Arquitetura, um curso que não conclui.

Em 1951 conhece Júlio Resende, cujo trabalho o influencia. Lima de Freitas escreve o primeiro artigo sobre a sua obra e em 1953 Charrua participa, pela primeira vez, em exposições coletivas como a Exposição Geral de Artes Plásticas, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, e a Exposição da Jovem Pintura, na Galeria de Março, em Lisboa. Na mesma data realiza a sua primeira exposição individual na Galeria António Carneiro, no Porto. Vende o seu primeiro quadro a Manuel Canijo, amigo e mediador informal com alguma importância junto duma pequena comunidade de colecionadores do Porto, e conhece Vergílio Ferreira, com o qual estabelece uma relação de amizade que se prolongará ao longo da vida. Em Évora encontra o pintor Henrique Ruivo, amigo e cúmplice de tertúlias quotidianas. Outros artistas e autores literários integram o seu círculo de amizade: Saúl Dias (Júlio), Lima de Freitas, João Cutileiro, Apeles Espanca. Muitos encontros decorrem na Quinta da Soeira, na casa do médico e amigo Alberto Silva, onde Charrua executa o seu primeiro mural decorativo.

Em 1958 a Missão Internacional de Arte (também conhecida por Missão Estética), exposição de pintura organizada pelo Grupo Pró-Évora com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian integrando presenças nacionais e internacionais, entusiasma Charrua e mobiliza demais artistas e intelectuais residentes na cidade alentejana. Desde então, a Fundação Calouste Gulbenkian acompanha o seu período ascensional: integra obras suas nas três grandes Exposições de Artes Plásticas (1957, 1961 e 1986), na sua coleção de arte moderna, e apoia-o com a atribuição de bolsas de estudo e subsídios de investigação, em 1960, 1962 e 1978/79.

No final da década de cinquenta Charrua frequenta a Cooperativa dos Gravadores Portugueses passando a expor assiduamente trabalho nesse suporte. Nesse contexto conhece Fernando Conduto, com quem estabelece uma relação de grande entendimento profissional e de amizade, estendida mais tarde a Maria Velez. Com a primeira bolsa que obtém da Fundação Calouste Gulbenkian, viaja por Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgica e Holanda. Em 1960 Charrua tem 35 anos, Álvaro Lapa 21, Joaquim Bravo 25, e António Palolo 14. Apesar da diferença geracional, os encontros em Évora são frequentes ao longo desta década. A obra dos três artistas incorpora referências e memórias visuais vindas da pintura de Charrua e da pintura americana dos anos 50 e 60 a que todos tiveram acesso através de revistas de arte e, pontualmente, através de exposições vistas fora do país. Depois disso, Lapa fixa-se no Porto em 1972/1973, Bravo em Lagos em 1966 e Palolo expõe pela primeira vez em Lisboa – para onde parte – em 1964. Henrique Ruivo parte para Roma em 1962.

Ao longo da década de 60 e durante a seguinte, Charrua colabora na realização de capas de livros para a Editorial Presença, Portugália Editora e Sociedade de Expansão Cultural – algumas vezes sob o pseudónimo de A. Dias; realiza várias mostras individuais, na Galeria Diário de Notícias, Lisboa, em 1963, na Galeria Interior (Tapeçarias) e na Galeria 111, Lisboa, em 1965, ano em que representa Portugal na Bienal de Tóquio e em que expõe em vários museus e galerias norte-americanas. Individuais e coletivas sucedem-se na Galeria de Arte Moderna, Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa, na Galeria Quadrante, na Galeria Interior, na Galeria Quadrum, na Galeria Zen, Porto, na Galeria Palmira Suso (a partir dos anos 90), passando por Bruxelas, Paris, Madrid, Barcelona, Salamanca, Roma, Brasília, São Paulo, Berna…

Em 1970 conhece, no Algarve, a família Roland Katz, que lhe proporciona o contacto com o galerista Gilbert Huguenin e uma primeira grande exposição individual que inaugura as instalações da Galeria Numaga II, em Neuchâtel.

Ao longo da década realiza trabalhos de vitrais, tapeçaria e azulejos, estabelece relações profissionais e de amizade com António Sena, Pedro Chorão, pintores de outra geração. Entre 1975 e 1987, viaja frequentemente até à Suíça, onde reside por longos períodos expondo em várias galerias; conhece o pintor André Evrard.

Com a exposição individual na Galeria Palmira Suso, que marca o regresso visível ao panorama nacional, em 1990 é editado um livro sobre a sua obra, coordenado por António Bacalhau e apoiado pelo BPI. Em 2001 o Museu de Évora dedica-lhe uma exposição retrospetiva comissariada por Joaquim Caetano, a que associa igualmente a publicação de um catálogo de referência.

Entre 2002 (ano do falecimento de Maria Alcina, sua esposa) e 2008, Charrua pouco pinta. Vive entre Évora, Torres Vedras e Santiago do Cacém, não tendo voltado a expor, apesar de ter continuado a trabalhar em projetos de azulejaria e vitral. 

 

Ana Ruivo e Leonor Nazaré

2015

Atualização em 13 abril 2023

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