Adelina Lopes

Braga, 1970

Adelina Lopes é formada em pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, no entanto, não foi este o meio que privilegiou na sua expressão plástica, tendo encontrado de uma maneira geral na instalação, na fotografia, e no desenho, as alternativas para a sua prática artística. É através destes processos que ensaia e conjuga configurações baseadas numa economia de meios, recorrentes em diferentes apresentações, e que, de uma maneira depurada, nos apresenta como composições de inspiração minimalista.

Logo no início da sua carreira, quando participou nos 12.ºs Encontros da Imagem de Braga (1998), essa redução de meios é notória, ao apresentar para o tema Obsessões*, uma fotografia apenas com a representação da palavra Obsessão**, como se fosse construída por letras independentes tridimensionais, cuja sombra, projectada na folha em que assentavam as letras, permitia também reconhecer a mesma palavra, mas de uma forma distorcida, numa leitura gráfica equivalente a este tipo de comportamento desviante.

 

Esta imagem é, de certa maneira, percursora de uma das vias exploradas pela artista na procura da semântica da palavra, reduzindo a sua unidade a processos de fraccionamento. São disso exemplos Palavra Empilhada (2005), em que utiliza um conjunto de letras como peças separadas e as coloca umas em cima das outras, e Meia Palavra (2005), em que apresenta este título cortado pela metade.

 

Outro percurso seguido pela autora, na mesma linha da economia de meios enunciado acima, é a referência à fluidez e à transparência – usando a água e o vidro como matérias de trabalho – que servem como metáforas para igualmente questionar a evidência dos significados que nos são sugeridos pelas imagens, instalações, ou títulos das obras.

 

Também esta procura tem raízes nos primeiros anos do seu trajecto artístico, embora ainda sem a consistência mais tarde evidenciada, sendo disso exemplo a obra que criou em 1997 para a exposição colectiva Rewind, Space, Forward (Museu dos Biscainhos, Braga), surpreendendo o visitante com chafarizes vazios quando este se aproximava do som da queda da água produzido por uma instalação sonora escondida, recorrendo deste modo à decepção enquanto forma de questionamento.

 

Esta rápida passagem em revista de algumas peças do percurso inicial de Adelina Lopes serve para sublinhar uma certa linha de continuidade de reflexão estética que, contrariamente a cortes paradigmáticos, é consistente na sua obra e adensa-se com o decorrer da sua maturidade artística.

 

Concorreu para esse desenvolvimento o facto de começar a estruturar projectos próprios com maior significado a partir da sua primeira exposição individual na Sala Poste-ite (2001) no Porto, altura em que iniciou o trabalho com a Galeria Pedro Oliveira e começou a expor com maior regularidade.

 

Neste processo a fotografia assumiu, a partir de 2003, alguma relevância nos seus projectos, tendo igualmente sido encetada, no mesmo ano, a produção de objectos, embora apresentados com menos frequência. Uma das primeiras imagens produzidas nesta altura, Livro Partido (2003), mostra-nos o que o título refere – um livro seccionado em diferentes pedaços irregulares, como se tivesse sido objecto de um corte através de uma serra – e dá início, em fotografia, a uma reflexão sobre o processo de fraccionamento, igualmente ensaiado no ano anterior em Frasco Partido e Copo Partido, obras que, por serem formalmente idênticas, questionam o sentido do próprio título.

 

Na sequência desta abordagem, o fragmento é retomado e recorrente em obras como Um Copo Partido (2006), Uma Pedra, Duas Pedras, Três Pedras (2006) e Um Prato (2009), dando corpo a uma preocupação sobre o sentido da sua materialidade como significante, é à viabilidade da desconstrução como método de pesquisa.

 

A esta rigidez das formas, definidas por acções aparentemente iconoclastas, Adelina Lopes contrapõe a fluidez da água e a transparência do vidro como uma maneira subtil de referenciar a não-permanência, o efémero, e a relatividade dos conceitos, de que são exemplo as imagens da série Imagem Cheia (2008), adquiridas pelo CAM, em 2009.

 

Os títulos das suas exposições individuais Ensaio sobre os Objectos (2004), Um Itinerário para as Formas (2005), A Forma dos Líquidos (2006), Cheio (2007), 254 Objectos (2010)***, estabelecem um plano coerente de investigação em que o objecto e a forma estão no centro da sua reflexão.

 

Fazendo uso da metáfora, da desformatação, da desconstrução do sentido, e da fragmentação da forma, Adelina Lopes procura sugerir, através das suas obras, sentidos e semânticas alternativas, trabalhando do deslocamento da evidência e da simplicidade, para a complexidade da semiótica dos significados e significantes.

 

A surpresa e a descoberta de quem se depara com uma obra de Adelina Lopes é também a demanda da autora que nos afirmou, em Dezembro de 2011, “[…] no processo criativo, quando procuro uma ideia, procuro essencialmente algo que me surpreenda. Neste processo há ideias e projectos que surgem como uma imagem muito clara, muito definida, e normalmente, da imagem mental (que é imediatamente apontada em esboço) até à forma final sofrem poucas alterações. Frequentemente são estes os meus trabalhos mais conseguidos.”

 

 

* Projecto de intervenção urbana que consistiu na produção e colagem de 5000 cartazes, a partir de dez trabalhos de dez artistas diferentes, nas cidades que participaram nos Encontros da Imagem.

** AAVV (1998), Encontros da Imagem, Braga: AFCA – Encontros da Imagem, p. 175.

*** Ensaio sobre os Objectos (2004), Porto, Galeria Pedro Oliveira; Um Itinerário para as Formas (2005), Lisboa, Cristina Guerra Contemporary Art; A Forma dos Líquidos (2006), Porto Galeria Pedro Oliveira; Cheio (2007), Braga, Armário de Curiosidades; 254 Objectos (2010), Lisboa, Appleton Square.

 

 

José Oliveira

Dezembro de 2011

Atualização em 10 março 2016

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