Abel Salazar

Guimarães, Portugal, 1889 – Lisboa, Portugal, 1946

Médico formado pela Faculdade de Medicina do Porto, onde lecionou e se doutorou, eminente investigador científico, Abel Salazar, nascido em Guimarães a 19 de Julho em 1889, cultivou a escrita, tendo-se destacado como ensaísta, crítico de arte e autor de ficção. Artista polifacetado, dedicou-se à pintura, ao desenho, aguarela, gravura e escultura, manifestando em todos os media uma enorme capacidade de transmitir emoção. Expôs pela primeira vez em 1915. No desenho – que pratica desde a infância e considera “a base e o esqueleto” de todas as artes (como escreve em “Notas de Filosofia da Arte”, 1933) –, evidenciou grande domínio técnico, tendo deixado um impressionante corpus de trabalho no qual se percebe a rapidez e a força certeira do seu traço e a sua capacidade de ironia, no exercício da caricatura. Morreu em Lisboa, a 29 de Dezembro de 1946.

Personalidade crítica, polémica e resistente, Abel Salazar cria, ainda como estudante liceal, um jornal escolar republicano. Assina, em 1907, uma Representação de Estudantes do Porto contra um projeto de limitação da liberdade de imprensa. Manterá, ao longo desses anos de 1907 a 1913 uma intensa atividade académica que não o impede de ser um aluno brilhante, acabando por ser convidado em 1913 para assistente de Anatomia Patológica. Termina Medicina em 1915 (no mesmo ano em que participa na exposição de Humoristas e Modernistas, no Porto) apresentando um trabalho subordinado ao tema “Ensaio de Patologia Filosófica” com o qual obteve a classificação de 20 valores. A sua atividade científica divide-se pela investigação e coordenação, tendo sido professor na Faculdade de Medicina do Porto (1916; catedrático em 1918) e diretor do Instituto de Histologia e Embriologia (1919).

É esta figura de incansável curiosidade pelo mundo que deixa também um dos mais significativos legados de obra plástica e de crítica de arte, tendo realizado estudos sobre Pousão, Soares dos Reis e Columbano, e notas de viagem e reflexão filosófica sobre temas artísticos. Viajando a pretexto de conferências científicas — Berlim, Lyon, Turim, Liège, Nancy, entre outros destinos científicos pela Europa Central e do Sul —, aproveita para visitar museus de arte.

Em 1926, já com vários artigos científicos publicados em revistas internacionais, um esgotamento obriga-o a afastar-se do ensino. Porém, a participação num congresso em Liège, dá-lhe ainda o ensejo de passar por Paris onde visita museus e compra uma prensa. Dois anos depois, internado numa casa de saúde em que permanece até 1931, combate a depressão com uma intensa prática artística — com particular incidência no desenho — e com o exercício da escrita. Em 1934, parte para Paris, regressando alguns meses depois ao Porto.

Em 1935, já conhecido internacionalmente, é afastado do ensino e da investigação por motivos políticos. Ficará igualmente proibido de viajar. Então, durante alguns meses, trabalhará como designer gráfico para uma tipografia e dedicar-se-á, com mais tempo, à pintura, escultura, gravura e desenho, de que resultarão, em 1938 e 1940, exposições individuais, em Lisboa e no Porto. Em 1941, com a criação do Centro de Estudos Microscópicos na Faculdade de Farmácia do Porto é-lhe confiada a direcção, dando-se assim a reintegração na cátedra. Em 1942, estabelece uma parceria com o Instituto Português de Oncologia. Em 1947, um ano após a sua morte, será criada a Casa-Museu Abel Salazar. Contudo, a sua enorme relevância para o estudo das ciências biomédicas será apenas reconhecida após o 25 de Abril de 1974, com a criação do Instituto de Ciências Bio-Médicas Abel Salazar.

Artista com consciência interventiva, registou, com grande realismo e expressividade de traço e de luz, a presença do mundo do trabalho, com particular incidência nas mulheres, nos seus diversos quotidianos laborais e domésticos. Além deste tema omnipresente, há ainda o registo paisagístico do Minho, e o retrato – e também o autorretrato –, que praticou com liberdade expressiva deixando uma significativa galeria. Na pintura, explorou várias linguagens e soube sempre captar, na fugacidade dos instantes, uma clara poética, servida por uma paleta restrita, tendencialmente surda, mas sempre sensual, matérica, expressiva, a que os valores lumínicos acrescentam ocasionalmente alegria e, com frequência, intimismo. Idênticos interesses sociológicos e plásticos se patenteiam no restante corpo de obra, em especial no desenho, aguarela e gravura, bem como no mural (de que subsiste, numa agência bancária, o fresco pintado para o extinto Café Rialto, no Porto).

 

Emília Ferreira

Março de 2013

Atualização em 16 abril 2023

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