Masayume, de 目[mé]

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Utilizando a cidade de Lisboa como pano de fundo, o coletivo de arte contemporânea 目[mé] concebeu uma instalação que age sobre as nossas perceções do mundo físico, alertando para a instabilidade e para a incerteza que nos rodeiam.

Surpreendendo os visitantes em diferentes partes da cidade, Masayume proporciona diferentes ocasiões para questionar o tangível e espelhar a nossa capacidade individual e coletiva de acolher os outros.

目[mé] é um coletivo japonês de arte contemporânea, cujo núcleo é composto por três membros: o artista Haruka Kojin, o diretor Kenji Minamigawa e o produtor Hirofumi Masui. O coletivo trabalha na produção de obras que manipulam perceções do mundo físico. As suas instalações trazem à consciência a insegurança e a incerteza inerentes ao mundo que nos rodeia. 目[mé] recebeu o 28.º Takashimaya Art Award (2017) e o VOCA 2019 Award.


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Engawa – Temporada de arte contemporânea japonesa

Engawa é uma programação que traz a Lisboa um conjunto de criadores do Japão e da diáspora japonesa, muitos dos quais pela primeira vez em Portugal. Saber mais


Textos dos curadores / artistas

A palavra japonesa 縁側 [engawa] é constituída por dois caracteres.
O primeiro, 縁 [en], tem múltiplos significados. Pronunciado «fuchi» ou «heri», na sua utilização mais comum pode significar «moldura», «margem» ou «rebordo», ou ainda «confluência», «relação» e «oportunidade», mas assume também o significado de «destino» na sua pronunciação «en». O segundo, 側 [gawa] significa aqui «junto de».

Masayume, o trabalho apresentado pelo coletivo 目 [mé] é um sonho que Asuka Kojin teve enquanto dormia, quando era estudante do ensino secundário. Uma vez que a artista não se conseguia lembrar do símbolo que apareceu no sonho e se tornou a chave para a peça, o coletivo, juntamente com toda a sua equipa, recolheu símbolos junto de pessoas de todo o mundo. Depois, numa assembleia aberta com grande participação do público, um «símbolo» foi escolhido de entre os mais de 1400 reunidos. Este símbolo, que podia ter sido qualquer um, é, em todos os sentidos, a confluência da coincidência e da necessidade.

Ao sairmos do avião, quando vimos a cidade de Lisboa, pensámos: «É mesmo isto».
Desde os telhados das casas e as paisagens urbanas, já para não falar da beleza da luz, é raro encontrar uma cidade com uma topografia tão cénica, com tantas subidas e descidas numa distância de poucos quilómetros, e isso é muito importante para a forma de apresentar esta peça. No curto espaço de tempo que passámos na cidade, rapidamente ficámos fascinados com a comida e com as pessoas de Lisboa, com a sua arquitetura e decoração, com o hábito que as pessoas têm de se reunirem em zonas elevadas ao fim do dia para apreciarem o pôr do sol e pela atmosfera que assim criam na cidade. Deste modo, o que oferece a nossa peça a este lugar? O que pode nascer aqui, sem discursos preparados nem preconceitos? Foi nisso que continuámos a pensar.

A preparação para a realização de uma peça não é fácil. Antes de mais, é fundamental escolher uma pessoa que irá estar no centro das operações (a pessoa responsável pelos trabalhos no dia a dia). A seguir, vem a localização. Também este é um fator de extrema importância num trabalho que integra a paisagem urbana. Quais são as condições físicas existentes na cidade de Lisboa e quais os requisitos para as utilizar? Encontrar um lugar que preencha os requisitos para instalar a peça é uma tarefa delicada, como enfiar uma linha no buraco da agulha. Às vezes parece até que a sorte tem um papel importante no projeto. O trabalho de investigação e o entusiasmo do colaborador, as memórias do local que surgem inesperadamente e até a história do lugar, tudo contribui para a decisão de onde a peça será implementada. E isso está diretamente relacionado com o significado da peça. Não é algo que se possa calcular antecipadamente. É um conjunto de resultados que se materializam aqui, defronte dos nossos olhos. E, por fim, o fator central é o tempo que fará no dia da apresentação, que é algo que não podemos controlar, por muito que nos preparemos. No entanto, o impacto que tem na apreciação da peça é extraordinário. A posição e a direção do olhar do espetador no momento em que encontra a peça, quem o acompanha e até mesmo o seu estado emocional são importantes. Todas essas coincidências e inevitabilidades possíveis, a massa de 縁 [destino] que envolve tudo, em breve tomará forma em Lisboa neste verão.

 

Coletivo de arte contemporânea 目 [mé]

Apoio

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