Arquitetura dos Sons

Obras de Iannis Xenakis, Ângela Lopes, Cândido Lima e Diogo Alvim

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Estreia nacional da obra «Bohor» de Iannis Xenakis, juntamente com obras de três compositores portugueses contemporâneos que tecem relações com o legado do compositor grego.

A expressão «arquitetura dos sons» alude ao métier de Iannis Xenakis (1921/1922-2001), arquiteto e compositor de profissão, e ao de Diogo Alvim (1979), arquiteto e compositor de música instrumental e eletroacústica, que partilham nas obras apresentadas, Bohor e Posição Relativa, uma preocupação singular com o espaço.

Apresentada pela primeira vez em Portugal, Bohor é a primeira obra eletroacústica de Xenakis composta para 8 canais, um dispositivo com uma configuração geométrica que convida a uma experiência de som densa e imersiva, no «interior» do som.  A peça reúne gravações de canto bizantino e piano, sons de joalharia iraquiana e hindu, entre outros, e desenvolve-se num contínuo de cerca de 20 minutos em direção a uma progressiva morfose das fontes sonoras que originaram a obra.

Posição Relativa, de Diogo Alvim, é uma peça que exige um «jogo de atenção e escuta», na qual as ressonâncias de cada acorde, as entradas sincronizadas dos músicos e a sua movimentação para posições definidas, estão dependentes do espaço em que decorre o concerto. A peça não só trabalha o espaço, como devém espaço.

O programa completa-se com obras dos compositores Cândido Lima (1939), um dos mais importantes discípulos académicos de Iannis Xenakis, e Ângela Lopes (1972), que traçam uma genealogia do legado de Xenakis em Portugal.

ETHNON – Canto do Paraíso para piano solo, de Cândido Lima, é uma paráfrase de outra obra do compositor – Gestos-Circus-Círculos, de 2000-2001, para ensemble e eletrónica em tempo real, composta para a pianista Ana Telles, solista neste concerto.

A orquestração eletroacústica Gárgulas d’Arga, de Ângela Lopes, combina sons de uma pequena cítara, de piano e de vibrafone, com sons de água da serra d’Arga, resultando em diferentes espessuras, intensidades e registos. O título provém do francês «gargouille», que representa o som gorgolejante da água.

Realizado no contexto da apresentação da exposição Révolutions Xenakis, comemorativa do centenário de Iannis Xenakis, o concerto-instalação tem curadoria do Ensemble DME e integra a programação do CAM.

No final do segundo concerto segue-se uma conversa com os compositores e o diretor artístico.

 

 

Ângela Lopes 

Ângela Lopes (1972) é uma das vozes mais ativas e prolíferas da composição musical em Portugal, com um importante papel no ensino da composição, em particular no ensino artístico especializado na região norte do país. Ângela Lopes desenvolveu um percurso composicional sólido marcado pelo seu trabalho com os meios eletroacústicos e instrumentais, frequentemente partindo de conceções exógenas ao material musical como elementos derivados da literatura, ou conotados com a sustentabilidade e o feminismo.  

Cândido Lima

Cândido Lima (1939) foi fundador do Grupo Música Nova, reformista do sistema de ensino da Música em Portugal e o primeiro compositor português a abordar a informática musical nas Universidades de Paris II e Paris VII, bem como a utilizar o computador em composição musical. Acompanhou Iannis Xenakis em aulas privadas e no Instituto de Estética e Ciências da Arte, na Sorbonne, de quem se tornou um dos mais importantes discípulos académicos. Entre outros eventos em que Lima promoveu a música erudita contemporânea, incluindo em numerosos programas televisivos, destaca-se o seu papel com Xenakis em junho de 1973, para o memorável «Encontro com Xenakis» no Cinema Trindade.

Diogo Alvim

Diogo Alvim (1979) é um compositor de música instrumental e eletroacústica. Estudou arquitetura e composição em Lisboa, tendo terminado em 2016 o doutoramento em composição e artes sonoras no SARC, Queen’s University Belfast, com uma dissertação intitulada «Música através da Arquitectura – Contributos para uma Prática Expandida da Composição». Na sua obra Posição Relativa, encomenda do projeto DME, Diogo Alvim compõe não apenas alturas, ritmos, timbres e dinâmicas, mas também o espaço.

Iannis Xenakis

Iannis Xenakis (1922-2001) foi um arquiteto, matemático, engenheiro e compositor grego, precursor da música eletrónica. Estudou engenharia na Universidade Técnica Nacional de Atenas, onde se encontrava na altura em que rebentou a Segunda Guerra Mundial. Aliou-se à Resistência, tendo sido gravemente ferido e exilado. Fugiu para Paris, onde trabalhou com Le Corbusier no Convento de Sainte-Marie de La Tourette e no Pavilhão Philips. No campo da música, seguiu os ensinamentos de Olivier Messiaen e do maestro Hermann Scherchen. Na década de 1970 criou os seus famosos polítopos, grandiosos espetáculos de som e de luz, que o tornaram conhecido junto de um público numeroso. Na década seguinte, desenvolveu o programa informático GENDY, que permitia gerar sons através de um computador. Faleceu a 4 de fevereiro de 2001, deixando um catálogo composto por mais de 150 obras, onze das quais foram encomendadas diretamente ao compositor pela Fundação Gulbenkian.

Duração 56 min

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Ficha técnica

Ensemble DME

Ana Telles, piano
Alex Waite, piano
Beatriz Costa, violino
Carlos Silva, clarinete
Marina Camponês, flauta
Ângela Carneiro, violoncelo
Francisco Cipriano, percussão
Mariana Vieira, eletrónica
Jaime Reis, eletrónica e direção artística
Rita Castro Blanco, maestrina

Produção DME

Caio Rodrigues
Cristóvão Almeida

A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através do formulário Pedido de Informação.

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