José Augusto França, decano da História da Arte em Portugal

Conheça a vida e obra de José Augusto França, uma personalidade influente na cultura portuguesa da segunda metade do século XX.
Ana Barata 01 fev 2023 20 min
Artistas e autores

“Dom da natureza desejado? O voo. Como gostaria de morrer? Com pré-aviso de nove meses, o que me parece equitativo.”

José Augusto França em Memórias para o ano 2000. Lisboa : Livros Horizonte, 2002 (página 384)

José Augusto França (1922-2021) é uma das personalidades mais marcantes e influentes do panorama cultural português da segunda metade do século XX, com uma vasta obra no âmbito da história, da crítica e da sociologia da arte.

“O que lhe aconteceu foi ter escrito, por encomenda, em 56, … um estudo sobre Amadeu de Sousa Cardoso que não vendeu 500 exemplares, mas lhe apontou caminhos de história e crítica de arte que foram por aí, profissionalmente, com doutoramentos, cátedra, jubilação internacionais de boa referência, no domínio da historiografia.”

José Augusto França em José-Augusto França : uma exposição bibliográfica. Lisboa : Biblioteca Nacional de Portugal : INCM, 2012 (página 25)

José Augusto França com o pai, 1934
José Augusto França com a mãe, c. 1944

 

José Augusto França começou a escrever na juventude e manteve esta atividade ao longo da sua vida ativa. Com apenas 15 anos, em 1937, publicou os seus primeiros artigos no Diário do Alentejo – uma série de crónicas intituladas Tipos alfacinhas – e no República.

Mais tarde, fez formação académica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde frequentou o curso de Ciências Histórico-Filosóficas, que não terminou (1941-1944). O interesse pelo Surrealismo levou-o a participar no denominado “Grupo Surrealista de Lisboa” (1947-1949) com, entre outros, Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, António Pedro e João Moniz Pereira.  Foi por estes anos que publicou a sua primeira obra no campo da ficção: o romance Natureza morta (1949).

 

Rosto do catálogo da exposição Surrealista
José Augusto França na exposição do Grupo Surrealista de Lisboa, 1949

 

No início da década de 1950, a criação de uma revista de cariz literário e artístico, de que se publicaram 5 números – Unicórnio (1951), Bicórnio (1952), Tricórnio (1952), Tetracórnio (1955) e Pentacórnio (1956) – ficou a dever-se à sua iniciativa.

“Na «Brasileira», então, veio a ideia do Unicórnio, por efeito do convívio com os amigos surrealistas, quando ainda, nas mesas do café, se convivia […]

Seria então, e por minha mais pessoal vontade, e chamando-lhe legalmente «antologia de inéditos de autores portugueses contemporâneos», que é, e edição do autor (da antologia, conforme o código), sem, portanto, ser passível de censura. Periodicidade, taxativa da definição de revista, não tinha: sairia quando saísse, e foram cinco números, entre Maio de 1951 e Dezembro de 1956. O título mudava, como era mister, para iludir a continuidade, e nele se numerava a publicação, em prefixos latinos e gregos de ocasião, por ideia macaca, de manguito às instituições…”

José Augusto França em Unicórnio, etc. : mostra documental. Lisboa : Biblioteca Nacional, 2006 (páginas 7-8)

Ao longo dos 5 números, a revista publicou textos de autores de gerações e opiniões distintas, como Fernando Pessoa, Adolfo Casais Monteiro, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, Alexandre O’Neill, António Sérgio, António Pedro, António Quadros, Sophia de Mello Breyner Andresen e David Mourão Ferreira, entre outros, e na parte visual nela colaboraram os companheiros de França nas experiências surrealistas, os jovens Fernando Lemos, Marcelino Vespeira e Fernando de Azevedo, assim como António Pedro, Almada Negreiros e Júlio.

 

Capa de “Unicórnio”
Rosto de “Unicórnio”
Capa de “Bicórnio”
Rosto de “Bicórnio”
Capa de “Tricórnio”
Rosto de “Tricórnio”
Capa de “Tetracórnio”
Rosto de “Tetracórnio”
Capa de “Pentacórnio”
Rosto de “Pentacórnio”

 

Os anos de 1950 foram para José Augusto França de prolífica e profícua atividade, dividida entre o cinema e as artes plásticas.

O “antigo” e o “moderno” no cinema (1951), As pontes de Paris e Paris à meia-noite (1953), O jovem cinema italiano (1953) e Charles Chaplin: o “self-made-myth” (1954) são alguns dos títulos que resultaram do seu interesse pela 7.ª Arte e da sua atividade como cinéfilo e crítico, para além de diversos artigos que foi publicando, desde o início dos anos de 1940, em jornais e revistas:  DiaboO écran duma época (31 agosto 1940) – Província de AngolaAniki-bóbó era um bom filme (23 setembro 1945), texto escrito sob o pseudónimo J. AFRA – , Seara Nova (1949-1959), Imagem (1954-1961), por exemplo. Foi também o dinamizador da programação das “Terças-feiras Clássicas”do Jardim Universitário de Belas Artes (JUBA) realizadas no cinema Tivoli (1948-1952), em conjunto com Guilherme Filipe.

 

Charles Chaplin : le "self-made-myth"
Folheto de “As pontes de Paris & Paris à meia-noite”

 

No campo das artes plásticas, fundou com Fernando Lemos (responsável pelo desenho gráfico dos catálogos) e dirigiu a Galeria de Março – de existência breve (1952-1954). Continuou na prática de crítico de arte, iniciada  em 1946 no jornal Horizonte: jornal das artes.

 

Capa do catálogo da primeira exposição da Galeria de Março, 1952
Capa do catálogo da sétima exposição da Galeria de Março, 1952
Capa do catálogo da exposição de arte infantil na Galeria de Março, 1954
Primeira página do folheto III da Galeria de Março, 1954

“A «Galeria de Março» ficou-se devendo, assim, em parte a Almada, com resultados comerciais apreciáveis…; mas todas as exposições que depois se fizeram venderam zero quadros (minto:um!, por simpático acaso, convencendo eu um parente) e só as cerâmicas do Cargaleiro que se estreava… e porcelanas de Pedro, por curiosidade de Natal…

[…] Teve ela [a galeria] ainda banquete de primeiro aniversário,…, organizou outro, de homanagem à Vieira da Silva, …. – e durou, mesmo assim dois anos e três meses, ou melhor contandoo, 32 exposições, de modernidade possível, ecléctica como devia civicamente ser, com pontualidade de inaugurações, catálogos… e muitas e inúteis provas de estima.”

José Augusto França em Memórias para o ano 2000. Lisboa : Livros Horizonte, 2002 (páginas 113-114)

Publicou os livros Amadeo de Souza-Cardoso (1956), Primeiro diálogo sobre arte moderna (1957) e Situação da pintura ocidental (1958), para além de escrever textos em catálogos de exposições e da colaboração em jornais, nomeadamente, na página cultural de O comércio do Porto (1952-1973).  Continuou igualmente com incursões na ficção literária, com as obras Azazel (1956), peça em três actos, e Despedida breve e outros contos (1958).

 

Em casa de Maria Helena Vieira da Silva. Paris, 1952

 

Depois de várias estadias anteriores na capital francesa, em 1959, José Augusto França partiu para Paris como bolseiro do governo francês (1959-1963), diplomando-se na École Pratique des Hautes Études, em Sociologia da Arte, com a tese L’art dans la société portugaise au XXe siècle, e obtendo, primeiro o Doutoramento em História (1962), com a tese Une ville des Lumiéres: la Lisbonne de Pombal – investigação orientada pelo historiador de arte francês Pierre Francastel -, e depois o Doutoramento em Letras e Ciências Humanas (1969) com o trabalho de investigação intitulado Le Romantisme au Portugal. Todos estes estudos foram posteriormente traduzidos e publicados em Portugal.

 

Capa de “Une ville des lumières“
Capa de “Le romantisme au Portugal“

 

Regressado a Portugal em meados da década de 1960 – mantendo sempre a sua ligação ao meio cultural francês – José Augusto França realizou cursos e conferências de História da Arte na Sociedade Nacional de Belas Artes, escreveu e publicou os livros A arte em Portugal no século XIX (1966, edição revista e aumentada em 1981), e A arte em Portugal no século XX (1974, reditada em 1985 e 1991) e começou a rubrica “Folhetins artísticos” no Diário de Lisboa (1968-1987), com textos de reflexão e crítica sobre aspectos da sociedade e cultura contemporâneas. Até 1987, escreveria 500 folhetins, publicados em dois volumes pela Imprensa Nacional em 1984 e 1993.

Continuou a escrever para o Diário Popular (1957-1978) e para o Jornal de letras e artes (1961-1968). Foi igualmente nesta década que José Augusto França estendeu a sua colaboração a diversas revistas e jornais estrangeiros, como as francesas Aujourd’hui: art et architecture (1960-1967), Les cahiers du cinema, Les temps modernes, a espanhola Goya e o jornal brasileiro O Estado de São Paulo.

“E nessa revista, paralela à «Architecture d’aujourd’hui» e que era então a melhor da Europa, sobre arte contemporânea, mantendo, no novo título, «Aujourd’hui arte et architecture», a mesma exigência crítica da actualidade… eu entrei a colaborar, a convite do director André Bloc, arquitecto e pintor, com quem fizera camaradagem na viagem do Brasil. E comecei por um artigo sobre «La jeune peinture portugaise», ainda em 59 – como já fizera em 53 no «Soleil noir», em 56 nos «Quattro soli», - de Roma, e mais tarde faria, já em 63 e 64, na «Civilità delle machine», de Roma também, ou na «Humboldt» de Munique, ou na «Goya» de Madrid.”

José Augusto França em Memórias para o ano 2000. Lisboa : Livros Horizonte, 2002 (página 151)

Em 1967, foi sua a organização do I Encontro de Críticos de Arte Portugueses, promovido pelo Centro Nacional de Cultura sob os auspícios da Association Internationale des Critiques d’Art, de que era membro desde 1954. Deste encontro resultou a restruturação da secção portuguesa, ocupando José Augusto França a respectiva direção e a responsabilidade pela produção de Pintura&não, espécie de boletim da secção, publicado como suplemento da revista Arquitectura (1969-1970).

 

Desdobrável do I Encontro de Críticos de Arte Portugueses
Primeira página de “Pintura & não”

 

Em 1969, França tornou-se membro do Comité International d’Histoire de l’Art, por indicação do historiador da arte André Chastel.

Pelo meio, fez viagens ao Brasil, para conferências e visitas ao amigo Fernando Lemos  – que aí residia depois de ter abandonado o país em 1953 -, aos Estados Unidos e ao México, realizou conferências sobre História da Arte ocidental e portuguesa na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde criou também o Curso de formação artística (1964).

A revolução de abril de 1974, que fez cair o regime ditatorial que governou Portugal durante quase meio século, trouxe a José Augusto França a possibilidade de integrar, como professor catedrático, o corpo docente da recém-formada Universidade Nova de Lisboa e criar, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, o Departamento de História da Arte e o primeiro mestrado em História da Arte do país. No mesmo ano foi eleito presidente do Centro Nacional de Cultura (1974-1987).

Poucos anos antes, em 1971, foi-lhe confiada a direção da revista Colóquio. Artes, dando continuidade à colaboração que o crítico e historiador da arte tinha iniciado, em 1959, com a Colóquio: revista de letras e artes, criada nesse ano pela Fundação Calouste Gulbenkian. Dividida em Letras e Artes, José Augusto França dirigiu a Colóquio. Artes: revista de artes visuais, música e bailado, do primeiro ao último número – N.º 111 (outubro-dezembro 1996).

“Eu começara também, em 1959, a colaborar na revista de artes e letras que a Fundação Gulbenkian principiou então a editar, a «Colóquio», dirigida, numa e outra parte, por Reynaldo dos Santos e por Hernâni Cidade […] e desde o primeiro número, creio que só com uma falta, colaboração minha houve na «Colóquio», de temas e factos de actualidade artística, nacional ou estrangeira, conforme eu desejasse e sempre era aceite.”

José Augusto França em Memórias para o ano 2000. Lisboa : Livros Horizonte, 2002 (página 152)

Intercalando a sua vida em Lisboa, com períodos de residência em França, entre as variadas ocupações de José Augusto França na década de 1970, contam-se a realização de cursos de história da arte portuguesa no Institut d’Études Portugaises da Universidade de Paris 1-Sorbonne (1971-1975), a organização do Centro de Estudos do Século XIX, com Joel Serrão, Vitorino Nemésio e José Tengarinha (1971-1975), as presidências do Instituto de Língua e Cultura Portuguesa, organismo que antecedeu o Instituto Camões (1976-1980), e da Academia Nacional de Belas Artes (1976-1979).

Entre as obras que José Augusto França publicou ao longo desta década, constam Onze quadros para “A Brasileira do Chiado” (1971), Millares : “Antropofaunas”, “Neanderthalios” et autres oeuvres recentes de 1966 à 1970 – texto escrito para a exposição no Musée d’art moderne de la ville de Paris (1971) -, a 2.ª edição do estudo pioneiro sobre a obra de Amadeo de Souza-Cardoso (1972), Almada, o português sem mestre (1974), A arte em Portugal no Século XX (2.ª edição revista em 1984, reeditada em 1991 e em 2009), Zé Povinho na obra de Rafael Bordalo Pinheiro 1875/1904 (1975), Le romantisme au Portugal (1975) e O modernismo na arte portuguesa (1979).

Em 1972, o seu estudo sobre a cidade pombalina foi traduzido para italiano e publicado em Roma, numa coleção dedicada à arquitectura dirigida pelo historiador de arquitectura Manfredo Tafuri.

 

Capa de “O modernismo na arte portuguesa”
Capa de “Une città dell'Illuminismo”

 

Na década seguinte, o seu labor de escrita no âmbito da cultura, da crítica e da história da arte não esmoreceu, sendo publicados os livros Rafael Bordalo Pinheiro, o português tal e qual (1981), O retrato na arte portuguesa (1981), Cem exposições (1982), com os textos sobre exposições publicados entre 1949 e 1980, Amadeo de Souza-Cardoso, o português à força ; Almada Negreiros, o português sem mestre (1986) – reúne os textos de Amadeo de Souza-Cardoso, numa 3.ª edição refundida, e Almada Negreiros, o português sem mestre (2.ª edição) -, Malhoa, o português dos portugueses & Columbano, o português sem portugueses (1987), História da arte ocidental, 1789-1980 (1987).

Paralelamente, José Augusto França continuou a escrever em jornais e a publicar textos em catálogos de exposições em galerias.

Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro para “A paródia”
Capa de “O retrato na arte portuguesa”
Capa de “Cem exposições”
Capa de “Amadeo de Souza-Cardoso, o português à força ; Almada Negreiros, o português sem mestre
Capa de “Malhoa o português dos portugueses & Columbano o português sem portugueses”
Capa de “História da arte ocidental (1780-1980)”

 

Na Fundação Calouste Gulbenkian, para além da direção da Colóquio. Artes, José Augusto França foi responsável por diversas exposições, realizou conferências, participou em mesas-redondas e ocupou o cargo de diretor do Centro Cultural Português em Paris (1983-1989).

Durante a sua direção, o Centro Cultural Português realizou colóquios internacionais e exposições – com os artistas portugueses em destaque no ciclo L’artiste du mois, um programa que divulgou ao público parisiense a obra de 27 artistas, recitais e concertos, para além de ter apoiado a publicação de diversas obras literárias de autores portugueses por editoras francesas.

 

José Augusto França na sessão de encerramento do colóquio “A cultura nos anos 40”
Aspeto da exposição “L’artiste du mois. Manuel Baptista”, 1984
Aspeto da exposição “L’artiste du mois. José de Guimarães, 1987

 

Desta sua estadia parisiense resultou ainda a organização de duas importantes exposições, que divulgaram junto do público francês, respetivamente, aspetos da história da arte portuguesa de Oitocentos e da Lisboa pombalina: a exposição Soleil et ombres: l’art portugais du XIXème siècle, apresentada no Musée du Petit Palais, entre outubro de 1987 e janeiro de 1988, e Une ville des Lumières: la Lisbonne de Pombal (1988), realizada no Centro Cultural Português, no âmbito do colóquio La ville régulière: modèles et tracés.

 

Capa de ”Soleil et ombres : l’art portugais du XIXème siècle”

 

Dividindo o seu quotidiano entre a sua residência francesa de Jarzé (em 1972, José Augusto França casou com a historiadora de arte francesa Marie-Thérese Mandroux) e o apartamento da Rua da Escola Politécnica, durante os períodos em Lisboa era frequente encontrá-lo na Biblioteca Nacional, fazendo as suas investigações, e no jardim da Estrela, onde começou a passar as suas manhãs, sentado na esplanada defronte dum dos lagos, lendo o jornal, ou conversando com amigos que, sabendo onde encontrá-lo, por lá passavam.

“O jardim botânico é extraordinário, mas é a subir e a descer, o jardim do Príncipe Real é perto demais de minha casa, e um dia vim até aqui e pensei: cá está o meu jardim. Não me recordei nada de menino, com certeza, mas achei que me convinha.”

Entrevista de Ana Barata a José Augusto França em Estrela: jardim romântico. “LX metrópole”, N.º 6 (março 2002), página 22

Ao longo da década de 1990 José Augusto França continuou a escrever sobre arte e cultura – Os anos vinte em Portugal: estudo de factos sócio-culturais (1992), Bosch ou o visionário integral (1994) – a viajar (Rússia, Japão, Goa), e a comissariar exposições, como D. João VI e o seu tempo (1999).

Em 1992, tornou-se professor jubilado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde realizou a “oração de sapiência” História, que História? (1995) e em 1998 foi eleito para a Real Academia de Belas Artes de São Fernando (Madrid). 

Ainda em 1992, o então designado Departamento de Documentação e Pesquisa do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian dedicou-lhe uma exposição bibliográfica, associando-se às celebrações que recebeu pela sua jubilação, e como agradecimento pela doação da sua bibliografia ativa.

 

Capa de “Exposição da doação de arquivos e documentos […] por José Augusto França”

 

No dealbar desde século, publicou as suas Memórias para o ano 2000. E regressou à ficção, escrevendo romances – Buridan (2002), A bela Angevina (2005), por exemplo – e contos.

 

Capa de “Memórias para o ano 2000”

“A suposição de virem a ser póstumas as memórias, havida ao seu início, quando as pensei ou quando, em 1993, comecei as escrevê-las, com os anos foi abrandando – mesmo que todas as memórias sejam sempre de além-túmulo. Na verdade, nasci com esperança de vida de trinta e cinco anos, ia-não-ia chegar ao dobro, ultrapassei-o depois – e me prefacio agora.”

José Augusto França em Memórias para o ano 2000. Lisboa : Livros Horizonte, 2002 (página 2)

Em 2004, José Augusto França decidiu doar à sua cidade natal, Tomar, a coleção de arte que foi fazendo ao longo dos anos. Foi assim criado o Núcleo de Arte Contemporânea José Augusto França, que integra obras de, entre outros artistas, Almada Negreiros, Fernando Lemos, José de Guimarães, Mário Eloy, Bernardo Marques, António Pedro e Marcelino Vespeira.

Em 2012, a Associação Portuguesa de Historiadores de Arte organizou, na Fundação Calouste Gulbenkian, um congresso internacional de história da arte em sua homenagem, tendo a Biblioteca de Arte realizado uma exposição bibliográfica com obras que integram a coleção que lhe foi doada em 1992.

José Augusto França recebeu diversas condecorações honoríficas, entre as quais se contam a Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1991), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2006) e a  Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2021).

A Coleção José Augusto França foi doada à Fundação Calouste Gulbenkian pelo historiador e crítico de arte em 1992, e reúne um conjunto de documentação composto pelos seus escritos desde o final da década de 1950, até ao início dos anos de 1990. Constituindo uma das coleções especiais do acervo da Biblioteca de Arte, integra algumas das obras mais relevantes e conhecidas da vasta bibliografia de José Augusto França. Estão também presentes outros títulos escritos paralelamente aos estudos no âmbito da história e da sociologia da arte, nomeadamente os seus textos sobre o cinema.

Outro núcleo importante desta coleção são os catálogos de exposições em museus e galerias, em que participou como comissário ou em que colaborou, e os textos que publicou em revistas especializadas nacionais e estrangeiras, bem como os que escreveu em jornais diários nacionais e estrangeiros.

Para além das obras que José Augusto França escreveu até à década de 1990, que constituem esta coleção, encontram-se no acervo documental da Biblioteca outras obras por ele escritas e publicadas desde aquela década, de que se destacam: A sétima colina: roteiro histórico-artístico (1994), que coordenou, no âmbito da Lisboa Capital da Cultura 94, Lisboa 1898: estudo de factos socioculturais (1997), 28, crónica de um percurso (1998), 100 quadros portugueses no século XX (2000),  as Memórias para o ano 2000 (2000) e Lisboa: história física e moral (2008) um dos seus últimos estudos sobre a capital portuguesa.

 

Capa de “28, crónica de um percurso”
Capa de “100 quadros portugueses no século XX”
Capa de “Lisboa : história física e moral”
Série

Artistas e autores

Saiba mais sobre a vida e obra de artistas e autores representados na Biblioteca de Arte e Arquivos Gulbenkian.

Explorar a série

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.