Do caráter do lugar

Genius loci

O conceito de caráter do lugar deriva do conceito de genius loci que cunhado pela cultura grega, este conceito é uma das ferramentas fundamentais no desenho da paisagem. Ele reconhece que cada paisagem tem um caráter próprio, uma personalidade própria que a diferencia de qualquer outra paisagem.

São elementos definidores do caráter do lugar a sua forma, função e história. Estes três elementos, determinantes no desenho da paisagem, remetem para a matéria, viva e inerte, e para o tempo histórico e biológico.

Cada lugar onde se desenha uma paisagem tem uma história para contar: uma história ecológica e uma história cultural.

 

A história ecológica

A história ecológica é construída a partir das diferentes componentes ecológicas que se relacionam naquele lugar e lhe determinam a morfologia, a luminosidade, a atmosfera, uma espacialidade fundacional. A partir desta define-se um programa, constrói-se e antecipa-se um futuro através do projeto.

A história ecológica do lugar onde se desenha o Jardim da Fundação Gulbenkian sintetiza-se na encosta virada a norte onde o Jardim se localiza. Ela é parte integrante das caraterísticas morfológicas, geradas pelo relevo, que caracterizam a cidade de Lisboa e que, num tempo longo, se foram construindo.

 

A história cultural

A história cultural pode ler-se numa sequência de espaços que nesta encosta se foram construindo de acordo com as transformações da sociedade e consequentemente da cidade:

São elementos fortes desse desenho:

  • O eixo principal que ligava o palácio com o lago.
  • frondosidade da vegetação.
  • A suave modelação que havia sido introduzida pela construção do lago e que de imediato definiu duas espacialidades distintas a montante e a jusante do lago. A primeira, marcadamente com uma espacialidade de jardim; a outra como espaço mais ambíguo onde o ciclone de 41 provocou elevados estragos.
  • Do final do século XIX emerge a ideia de sociabilidade através do Jardim Zoológico e de Aclimação de Lisboa que se instala no Parque  de Santa Gertrudes entre 1866 e 1905;
  • Do período entre 1905 e 1915 herda o conceito de mundanidade, que a instalação de um velódromo e depois de um hipódromo determinaram no Parque de Santa Gertrudes;
  • Entre 1943 e 1956 a ideia de espaço de sociabilidade reforça-se pela instalação da Feira Popular Lisboa.

 

O caráter do lugar no projeto do Jardim

A análise do processo desenvolvido por António Viana Barreto e por Gonçalo Ribeiro Telles revela que estas dimensões ecológicas e históricas foram compreendidas pelos projetistas:

  • A planta dos elementos de trabalho, que informam todo o processo de projeto, expressam a compreensão do lugar ecológico.
  • A espacialidade aprazível, determinada pela presença de água e por um coberto arbóreo rico e diverso, que se encontra descrita e representada em vários documentos, foi reescrita de acordo com o contexto temporal que define um novo desenho de jardim.
  • O eixo estruturante definido no séc. XIX encontra-se reinventado no eixo visual que se desenvolve desde a fachada sul da Galeria das Exposições Temporárias.
  • O lago estático, contido, desenhado por Weiss, reinventa-se num desenho onde são as lógicas ecológicas que orientam o projeto e não os pressupostos pitorescos do século XIX.
  • A vegetação, elemento de construção de espacialidades é utilizada pelo seu valor estético e ecológico intrínseco e não só pelo seu exotismo.

 

Documentos desta fase

 

Atualização em 05 julho 2023

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