António Viana Barreto. Maestro da Paisagem
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Zona de Congressos Fundação Calouste GulbenkianAntónio Facco Viana Barreto (1924-2012), é uma referência na promoção das políticas de Ordenamento do Território, na teoria e praxis do Ordenamento do Território e da Paisagem e na obra deixada em Projetos de Arquitetura Paisagista.
Os que com ele trabalharam e conviveram reconhecem-lhe o saber, o rigor e a sensibilidade na dedicação à profissão. Tudo o que fez foi inspirado na convicção de que “é do conjunto da articulação e ponderação de todas as vontades que se constrói qualquer coisa”.
Temas
Projeto de Enquadramento Paisagístico da Torre de Belém (1956)
Plano de Ordenamento Paisagístico do Algarve (1965-1967)
Ordenamento da Paisagem e Território
Plano e Projeto do Bairro Sacor, Sacavém (1958-1964)
Estudos de Aptidão Paisagística do Complexo Turístico da Herdade da Comporta (1989)
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Projeto do Parque da Fundação Calouste Gulbenkian (1960-1963)
A espacialidade vivenciada, no jardim Gulbenkian, encontramo-la enunciada na memória descritiva.
A compreensão das dinâmicas naturais e o seu cruzamento com o carácter universalista da cultura portuguesa não podem, nem devem, ser entendidas como as únicas responsáveis pela ambiência deste jardim.
A linguagem naturalista resulta da aliança daquele cruzamento com uma sábia e inovadora técnica.
O jardim Gulbenkian é uma construção. Não é uma ocorrência natural.
É uma construção da natureza e com a natureza que utilizou um conjunto técnicas que garantem a permeabilidade interior/exterior. Um dos atributos que o molda como obra una.
A experiência, o rigor, a inventiva que caracterizam o trabalho de Viana Barreto foram essenciais para que coberturas, pátios, lago, floreiras a uma escala diferente, não sejam apenas isso. São verdadeiros jardins.
Foram a estratégia, os dispositivos usados para a concretização daquele desígnio de continuidade e permeabilidade que desde a primeiro momento foi idealizado.
Transformam matéria inerte, cega em matéria luminosa, viva e acolhedora.
Título: Projeto do Parque da Fundação Calouste Gulbenkian (1960-1963)
Local: Lisboa
Instituição/autoria: António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles -
Projeto de Enquadramento Paisagístico da Torre de Belém (1956)
No início do processo, Viana Barreto propôs aos serviços da Câmara Municipal de Lisboa que a intervenção se alargasse à Capela de São Jerónimo e ao Mosteiro dos Jerónimos devendo ser assegurada uma adequada arborização dos arruamentos da Avenida da Índia e a defesa da velha Cerca do Convento, e da zona anexa à Capela de São Jerónimo, de modo a reforçar a ligação histórica que desde sempre existiu entre os três monumentos da arte manuelina. Esta proposta não foi acolhida pela Câmara que não pretendia estabelecer uma relação formal entre a Torre e a Capela. Restringindo-se então o projeto à área circundante ao monumento (Barreto, 1955).
“O projeto para a envolvente da Torre de Belém inaugurou um novo posicionamento face ao desenho dos espaços de enquadramento de Monumentos Nacionais. Empregou pela primeira vez conceitos que refutavam os princípios de axialidade, herdados do ensino Beaux Arts, e que eram comummente empregues no desenho de jardins.
Privilegiou a observação da torre a partir de diversos ângulos, sem priorizar a visão axial do tardoz da mesma; definiu perspetivas e aberturas preferenciais sem que para tanto necessitasse de criar estruturas rígidas ao nível do solo, como sejam caminhos, muros ou outros elementos construídos. Recorreu à distribuição da vegetação e às diferentes escalas de árvores, arbustos e herbáceas, em maciços ou isoladas, para criar essas ligações visuais.
Simultaneamente, proporcionou a sua individualização em relação à margem ribeirinha, através do desaterro das areias acumuladas que ocultavam o seu juramento e, por outro lado, pela modelação em declive suave, formando como que uma concha aberta ao estuário do Tejo.”
Carmo-Pereira, Sebastião. Da Torre de Belém à Ermida de São Jerónimo. 1941-1972. Lisboa, Tinta da China, 2023; Barreto, António. Memória Descritiva e Justificativa. Arranjo da Zona de Enquadramento da Torre de Belém. Plano de Plantação de Herbáceas, 1955. CML
Título: Projeto de Enquadramento Paisagístico da Torre de Belém (1956)
Local: Lisboa
Instituição/autoria: DGSU |António Viana Barreto -
Plano de Ordenamento Paisagístico do Algarve (1965-1967)
“(…) e se deformarmos (o Algarve) por causa do turismo, nunca mais o recomporemos (…)”
Extrato do despacho de 3 de abril 1965 de sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho.
Os fundamentos do conceito de paisagem e características e valores da paisagem estão expressos na metodologia utilizada e no documento final do Plano de Ordenamento Paisagístico do Algarve.
A compreensão dos fatores e dinâmicas naturais e culturais e a atitude ética, observam-se na análise de componentes muito distintas (relevo, água, solos, vegetação, clima, uso do solo, edificação, população, toponímia, entre outros), que se expressam isoladamente e em articulações parciais, até à definição de unidades de paisagem, de zonas sensíveis de proteção da natureza e ao plano de síntese da paisagem – o grande integrador.
Esta metodologia e a interdisciplinaridade foram totalmente inovadoras tendo servido de base doutrinária para a elaboração dos muitos Planos de Aptidão e Planos de Ordenamento que se lhe seguiram, realizados às mais distintas escalas, onde Viana Barreto teve um papel ativo nas políticas de ordenamento, na direção destes estudos e na formação de técnicos.
Título: Plano de Ordenamento Paisagístico do Algarve (1965-1967)
Local: Região do Algarve
Instituição/ autoria: DGSU – Direção Geral dos Serviços de Urbanização | Barreto, António, Dentinho, Álvaro & Castelo Branco, Albano. -
Ordenamento da Paisagem e Território
Viana Barreto a partir da década de 60 coordena vários estudos de base de intervenção para o ordenamento, realizados a distintas escalas e para várias regiões na DGPU. Tais estudos orientaram-se na pesquisa e interpretação das condições naturais e culturais, ao longo do tempo, procurando-se reconhecer, hierarquizar, sintetizar e cartogarfar essas condições. Esta base é fundamental à elaboração da síntese das vocações do território, onde se inclui o estudo das capacidades e potencialidades da paisagem.
Todos esses estudos tiveram como objetivo o pesquisa de novas metologias e novas técnicas que permitissem o reconhecimento das “aptidões” e das “capacidades” do espaço, dos “limiares da exploração dos recursos” e do “uso múltiplo da paisagem”.
Viana Barreto reconhece-se a importância das metodologia, como garante do tratamento das múltiplas variáveis de natureza tão diversa, e antevê a informática como a ferramenta capaz de melhor responder aos processos com carácter dinâmico e complexo associados aos estudos de ordenamento da paisagem e do território.
O Ordenamento da Paisagem deve ser um “(…) processo integrador da organização do espaço visando o conhecimento das potencialidades dos recursos naturais e a optimização do seu uso, em função das necessidades humanas ao longo do tempo, procurando a compatibilização de ações sectoriais com reflexos no ambiente (…) aparece assim como meio eficiente, antecipativo, ao assegurar a realização de uma verdadeira política Ambiental proporcionadora de mais Qualidade de Vida.”
Fonte das citações: Barreto, António. Comunicação no II Congresso de Turismo Algarve, 1974; Barreto, António. Comunicação no IPSA,1982
Título: Ordenamento da Paisagem e Território
Local: Planos nacional, regionais e concelhios
Instituição/ autoria: DGSU – Direção Geral dos Serviços de Urbanização -
Plano e Projeto do Bairro Sacor, Sacavém (1958-1964)
No Plano e Projeto do Bairro da Sacor evidencia-se o rigor e determinismo com que Viana Barreto identifica os valores e problemas e os torna elementos estruturantes nas soluções de projeto.
“Ter-se-á satisfeito um dos objetivos essenciais em toda a moderna urbanização: o estabelecimento do contacto entre o homem da cidade e o operário fabril e o ambiente natural ou ruralizado da paisagem campestre, com todos os comprovados benefícios que daí advém para a comunidade e para o próprio Homem, pelo aproveitamento integral do seu esforço e do seu trabalho”.
A morfologia dada pelo relevo (encosta e várzea) e pelo uso do solo e vegetação pré-existente (hortas, olivais, mata e alameda de palmeiras), são os organizadores da nova paisagem onde, “(…) encostada à mata, a várzea constitui na verdade um novo elemento de alto interesse (…) libertada, como devia ser, da construção (…)”.
As preocupações com a erosão, drenagem natural do vale e drenagem interna pela redução da velocidade de escoamento, revelam-se nas soluções de projeto.
Os espaços abertos proposto – parque urbano, olival, hortas e pequenos jardins – revelam a multifuncionalidade da paisagem. Neles se conjugam as funções de proteção e recreio (várzea e mata) e de produção e recreio (olival e hortas).
Barreto, António & Dentinho, Álvaro. Memória Descritiva da Projeto de Ordenamento Paisagístico do Bairro da Sacor e do Projeto dos Espaços Exteriores do Bairro da Sacor, 1958-1964
Título: Plano e Projeto do Bairro Sacor, Sacavém (1958-1964)
Local: Sacavém
Instituição/Autoria: António Viana Barreto e Álvaro Ponce Dentinho, -
Estudos de Aptidão Paisagística do Complexo Turístico da Herdade da Comporta (1989)
Os estudos de aptidão paisagística de diversos empreendimentos turísticos, desenvolvidos pelo Viana Barreto, iniciaram-se pelo apuramento dos grandes objetivos dos projetos, com vista a determinarem-se os graus de compatibilidade entre estes e as paisagens em análise.
Face ao estudo integrado das características biofísicas, económicas e culturais do espaço propõem-se usos que as harmonizam com essas características.
“(…) antecipa-se por assim dizer a análise dos impactes ambientais das ações sobre o território, visto que tenta harmonizar as ações projetadas com as reações do meio, minimizando consequentemente os efeitos negativos mais significativos.
(…) conduz ao aproveitamento qualitativo dos recursos existentes obrigando a um estudo integrado e global da paisagem (…)”.
“Para além do estabelecimento das unidades de paisagem e suas subunidades, o estudo permite fundamentar as novas ocupações, apontando logo à partida, as eventuais incompatibilidades entre o território e as intenções de uso.”
Barreto, António. Memória Descritiva do Estudo da Herdade da Comporta, 1989.
Título: Estudos de Aptidão Paisagística do Complexo Turístico da Herdade da Comporta (1989)
Local: Planos nacional, regionais e concelhios
Instituição/autoria: Gabinete de Arquitetura Paisagista PEV – Projeto de Espaços Verdes, Lda
Ficha técnica
Curadoria
Maria Antónia Coruche Castro e Almeida
Maria da Conceição Marques Freire
Em parceria com
A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através do formulário Pedido de Informação.