António Palolo

Exposição itinerante e individual de António Palolo (1946-2000), organizada pelo Centro de Arte Moderna. Foi apresentado um conjunto de 14 desenhos, adquiridos pela Fundação Calouste Gulbenkian, que testemunham o retorno requalificado à abstração no trabalho do artista durante essa década.
Travelling solo exhibition on António Palolo (1946-2000) organised by the Modern Art Centre. The show featured 14 drawings acquired by the Calouste Gulbenkian Foundation, which illustrated the artist’s return to abstraction during that decade.

A obra de António Palolo (1946-2000) ficará sempre associada à exploração da cor em estado vibrante e assertivo. Foi assim em todo o seu percurso: quer logo nos anos de 1960, nas figurações mais aproximadas a uma matriz Pop (apesar do inusitado pendor surrealista, que lhes confere tanta singularidade); quer nos abstracionismos que firma a partir de 1970, cruzando vetores da Op Art, do Minimalismo, do Hard-edge painting – caminhos que a sua figuração já ia adivinhando, justamente através do trabalho dos planos de cor. Até mesmo nos filmes experimentais desses anos 70 e nas mais soturnas figurações da sua pintura da década de 80, o cromatismo é sempre relevado enquanto energia poética, de carga psíquica e até mesmo psicadélica.

É, no entanto, o preto-e-branco que predomina no conjunto de 14 peças que o Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) apresentou em 1992. Datados desse ano, e testemunhando um retorno requalificado à abstração a que essa década assiste na obra do autor, esses desenhos foram realizados a tinta acrílica e grafite sobre papel, articulando a geometria com as manchas mais espontâneas e acidentadas. Obedecem todos a um mesmo formato, 75 × 150 cm, cuja horizontalidade faz intuir uma espécie de ecrã widescreen. Organizada como uma sequência, a repetição serial de elementos induz – no seu estatismo – tensões de fluxo, trânsito e movimento, orientadas pelas barras horizontais e verticais, elemento maior do vocabulário de Palolo. Como salienta Helena de Freitas (1960), no texto que redige para o catálogo, a conjugação de todos esses fatores parece fazer brotar de cada imagem uma vocação para o cinetismo (António Palolo, 1992, pp. 7-9). A mescla de gradações de negro e cinza é por vezes ritmada com breves apontamentos de cor, em matizes abertas azul-cobalto, vermelhão ou amarelo-canário. Para trás ficara a superabundância cromática de propostas encerradas nos anos 70, e que chegaram a receber o ensaio de um chavão próprio: «Abstração pop». Aqui a cor é impactante por apenas pontuar as composições com finos contornos estruturais que, justamente por serem raros, concentram a carga irradiante da cor, como um dínamo, no contraste com a escala de cinzentos.

Composta unicamente por esta série, a exposição inauguraria a 19 de março de 1992, e seria a primeira de três individuais de António Palolo na FCG durante a década de 90. No rescaldo da mostra, o conjunto seria adquirido pela Fundação, ajudando a consolidar o acervo de obras do autor na Coleção do CAM.

A Galeria Valentim de Carvalho, então representante do artista, cederia os 50% da sua comissão à Gulbenkian, no sentido de «facilitar a […] aquisição, por a considerarmos da maior importância para a Vossa colecção e para a própria cultura portuguesa» (Carta de Maria Nobre Franco para José Sommer Ribeiro, 14 abr. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 0822).

Após o fecho da exposição de Lisboa, as obras seguiriam para Évora, onde, por iniciativa do Grupo Pró-Évora, integrariam uma exposição que planeavam para o período de 19 de setembro a 4 de outubro (Ofício de Celestino A. Froes David para José Sommer Ribeiro, 1 set. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 00303).

A perspetiva desse e de futuros trânsitos da série estava já estrategicamente indiciada aquando da ideia de incorporá-la na Coleção do CAM. Referia Sommer Ribeiro, na proposta de compra dos desenhos apresentada à administração da FCG, que, para além da «coerência e qualidade […] devidamente assinalada pela crítica», se tratava de um «conjunto que seria desejável conservar intacto» e que era «facilmente transportável, havendo inclusive já um convite para a sua apresentação em Évora» (Carta de José Sommer Ribeiro para Pedro Tamen, 24 jul. 1992, Arquivos Gulbenkian, CAM 00822).

Autor de inesperadas sínteses entre tendências mestras da arte do segundo pós-guerra, Palolo revela-se fulcral para a intercalação do meio artístico português com as neovanguardas internacionais. A constituição do seu núcleo autoral na atual coleção do Centro de Arte Moderna da FCG remonta a 1967, aquando da aquisição de Hórrido Silêncio do teu Corpo, 1966 (Inv. 67P295) – um dos seus curiosos devaneios pop que seriam a plataforma para os tons elétricos das abstrações dos anos 70. Dessa fase abstrata, a FCG dispõe de vários trabalhos, destacando-se uma shaped canvas («tela configurada») de 1973 (Inv. 83P573). A criação do CAM, em 1983, incrementa a atenção da coleção sobre a obra deste artista fundamental do panorama português. Seria reforçada nos anos imediatamente sucessivos a esta mostra de 1992, especialmente através da já referida Galeria Valentim de Carvalho, que, além dos 14 desenhos aqui tratados, intermediou as aquisições do díptico C – Évora, 1966 (Inv. DP1627), negociado em 1993 (Arquivos Gulbenkian, CAM 00828), bem como de três das cinco telas S/Título, de 1995 (Invs. 96P364; 96P365; 96P366), realizadas para a retrospetiva organizada nesse ano pelo CAM – então já com a nova designação de Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) – e adquiridas em 1996 (CAM 00863).

Releve-se ainda a aquisição, diretamente ao artista, da pintura em friso S/Título de 1998 (Inv. 99P829 1-16), realizada especificamente para Linhas de Sombra, exposição coletiva apresentada no então já CAMJAP em 1999 – ano em que essa peça foi incorporada (Arquivos Gulbenkian, CAM 00923).

Em 2012, a Fundação receberia a generosa doação de importantes filmes do autor, completando as 42 peças atualmente listadas no acervo. Destas últimas peças a serem incorporadas, destaque-se uma cópia digital de OM, 1977 (Inv. IM53). Um dos três exemplares originais dessa obra, em formato Super 8, pertencia já à FCG, que apoiara a produção deste filme (Arquivos Gulbenkian, SBA 14337).

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1603

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1604

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1605

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1606

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1607

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1608

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1609

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1610

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1611

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1612

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 90DP1613

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1614

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1615

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1616

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1603

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1604

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1605

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1606

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1607

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1608

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1609

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1610

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1611

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1612

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 90DP1613

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1614

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1615

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António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1616


Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00303

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite para a inauguração. 1992 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00822

Pasta com documentação referente à proposta de aquisição da série de 14 obras sobre papel da autoria de António Palolo na sequência da exposição. 1992 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00730

Pasta com documentação referente ao pagamento da série de 14 obras sobre papel da autoria de António Palolo, incorporada no CAM, na sequência da exposição. 1992 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00828

Pasta com documentação referente ao pagamento de obras de António Palolo adquiridas pela FCG entre 1992 e 1993. 1992 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00785

Pasta com documentação referente ao pagamento da série de 14 obras sobre papel da autoria de António Palolo incorporada na sequência da exposição. s.d. – s.d.


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