António Palolo, 1963 – 1995

Exposição retrospetiva de António Palolo (1946-2000), destacando a obra pictórica e gráfica de 1963 a 1995. Contou com várias iniciativas paralelas, entre elas a exibição do filme António Palolo. Ver o Pensamento a Correr, realizado por Jorge Silva Melo. Foram adquiridas quatro das 42 peças do artista atualmente incorporadas na coleção do Centro de Arte Moderna.
Retrospective exhibition on António Palolo (1946-2000) showcasing pictorial and graphic work the artist produced between 1963 and 1995. The show was staged alongside several other initiatives, including the film António Palolo: seeing thoughts run, directed by Jorge Silva Melo. Four of the 42 works by the artist were acquired and are still part of the Modern Collection.

No início de 1995, o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) começa a diligenciar aquela que seria a primeira exposição retrospetiva da obra de António Palolo (1946-2000). Seriam contactadas dezenas de entidades emprestadoras, particulares e institucionais, permitindo expor um total de 120 peças das 134 catalogadas (Comunicado de imprensa, 30 nov. 1995, Arquivos Gulbenkian).

A mostra inaugurou a 28 de novembro de 1995, ficando patente até 28 de janeiro do ano seguinte. Começava no Hall do CAMJAP, com uma nova série de cinco pinturas S/título, já de 1995. Daí expandia-se para as galerias dos pisos 1 e 01, apresentando-se nesta última uma instalação do artista (provavelmente a peça Mente, de 1980), vertente da sua obra raramente exposta (Nota interna, 23 nov. 1995, Arquivos Gulbenkian, CAM 00349).

Desenrolava-se assim um arco cronológico que ia das primeiras experiências da maturidade artística do autor, no início dos anos de 1960, até ao seu mais recente retorno à abstração na década de 1990. O início desse percurso fica pautado pelas aproximações ao universo pop e neodadaísta, com a colagem a somar-se à pintura e ao desenho. Era essa a linguagem que vigorava aquando da sua primeira individual na Galeria 111, em 1964.

A exposição contemplou vários momentos importantes desse arranque da obra de Palolo. Avançava depois para os anos 70, acompanhando a forma como os cromatismos vivos e planificados dessa sua figuração inicial desembocariam nas fases abstratas, em que a Op Art, o Minimalismo, e a pintura Hard-edge são eleitos por Palolo como as suas principais referências na cena artística internacional. Os planos de cor transformam-se em barras cromáticas, de tonalidades sólidas e planas, cujo fluxo é quebrado por ângulos severos ou até mesmo pelo recorte poligonal dos próprios suportes, experimentando o que (no inglês de batismo) ficou conhecido por shaped canvases.

Palolo não seria o único abstracionista português a explorar as chamadas «telas configuradas» nesta altura: Jorge Pinheiro (1931) e Fernando Calhau (1948-2002), entre outros, também testaram essa estratégia, tão fulcral para norte-americanos como Frank Stella (1936) ou Elsworth Kelly (1923-2015). Há, de resto, na arte moderna portuguesa, casos que parecem anteceder essas pesquisas, embora talvez com ancoragens algo diversas. Falamos por exemplo de obras como C 14, de 1955, da fase abstrata de Joaquim Rodrigo (1912-1997), artista de referência e cuja obra pressupomos que Palolo conhecesse.

Bebendo desses dois mundos (o «estrangeiro» e o «doméstico»), António Palolo reafirmaria sempre algo de indisciplinadamente seu, e é por essa via que retorna à figuração nos anos de 1980. Nesse período, também ele seguido atentamente por esta retrospetiva de 1995, reaparece a figura humana masculina, imersa em atmosferas oníricas e surrealizantes. Dir-se-ia que carrega consigo uma outra face do psicadelismo que inundava as aproximações do autor à Pop Art. A plasticidade e as temáticas são, no entanto, bastante diversas. A lisura das cores planas e berrantes dá agora lugar a texturas e névoas soturnas, rasgadas pontualmente por tons primários assertivos – tudo atribulações que encontram afinidades, por exemplo, na Transvanguarda italiana. Esse semblante mais turbulento parece ter transitado para o último período não-figurativo de Palolo, na passagem para a década de 1990. As suas geometrias eram agora invadidas por tonalidades mais fechadas, por velaturas e pelo preto, bem como por leves traços de manualidade – longe do maior ascetismo dos anos 70, com o qual não deixa de dialogar. Era essa reentrada na abstração que fechava esta retrospetiva em vida no CAMJAP.

Em suma, do cômputo da obra do artista até 1995, as obras catalogadas apenas não aprofundam as muitas assemblagens que o artista realizou nos anos 60 (apresentando somente uma delas) e os importantes filmes da década de 1970. Não obstante, essas áreas da obra do autor foram alvo de destaque e análise nos textos do catálogo.

Os muitos desenvolvimentos da sua obra seriam ainda explanados nas várias atividades paralelas programadas para a exposição. Entre 5 de dezembro de 1995 e 25 de janeiro de 1996, decorreram quatro visitas orientadas, a primeira delas por Maria Helena de Freitas, então curadora do CAMJAP e comissária desta exposição, e as restantes por Sandra Santos, mediadora do Serviço Educativo da FCG (António Palolo, 1963-1995 [Folha de sala], Arquivos Gulbenkian). A 12 de dezembro de 1995, foi projetado o filme António Palolo. Ver o Pensamento a Correr no Auditório 2 da Sede da FCG. Com realização de Jorge Silva Melo, esse videodocumentário (atualmente disponível na Biblioteca de Arte da FCG) foi comissariado pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da FCG, na pessoa de Yvette Centeno, então diretora desse serviço (Quico, Diário de Notícias, 20 dez. 1995, p. 43). Uma cópia VHS ficaria depois em exibição, de 13 de dezembro ao final da mostra, no Hall do CAMJAP (Nota interna, 25 out. 1995, Arquivos Gulbenkian, CAM 00349).

É justamente nesse local que Silva Melo é entrevistado para o programa Exposições em Lisboa, da RTP 2 (uma série televisiva concebida e apresentada pelo crítico de arte Alexandre Melo). Com o seu primeiro segmento dedicado a esta retrospetiva de Palolo na FCG, o episódio em causa foi transmitido a 28 de dezembro de 1995 e colheu igualmente testemunhos da curadora Helena de Freitas. No que respeita à cobertura televisiva, há também indicações do interesse do programa Par e Passo, igualmente da RTP 2, em entrevistar Silva Melo no espaço expositivo (Fax de Silva Melo para Helena de Freitas, 6 dez. 1995, Arquivos Gulbenkian, CAM 00349). A epistolografia consultada leva ainda a depreender que, a 29 de janeiro de 1996 (dia da desmontagem da mostra), Silva Melo terá regressado ao CAMJAP com uma equipa de filmagem para captar mais algumas imagens de peças que tinham sido expostas. O realizador e dramaturgo tinha então em mãos um trabalho que aprofundava informação sobre dois murais de Palolo em Lisboa: um deles no Estaleiro do Metropolitano, em Sete Rios; o outro na Estrada das Laranjeiras. Ambos tinham já sido aflorados no vídeo António Palolo. Ver o Pensamento a Correr (Fax de Silva Melo para Jorge Molder, 25 jan. 1996, Arquivos Gulbenkian, CAM 00349).

«António Palolo, 1963-1995» reiterou assim o papel fulcral da obra de Palolo para a intercalação da arte portuguesa com o contexto alargado das neovanguardas internacionais. Acabou por realizar-se três anos depois de uma outra individual do artista no CAMJAP, em cujo catálogo Jorge Molder (então diretor-adjunto do CAMJAP) já adiantava a premência de empreender, a breve trecho, um levantamento antológico do percurso do autor (António Palolo, 1992, p. 5). Esse momento de consagração foi mais um passo da relação do autor com a FCG, que remonta aos anos 60. Artista que se notabiliza muito cedo, Palolo seria o mais jovem expositor na itinerante «Art Portugais. Peinture et Sculpture du Naturalisme à nos Jours», de 1967-68, organizada pela FCG em Bruxelas (Palais des Beaux-Arts), Paris (Centre Culturel Portugais, da FCG) e Madrid (Casón del Buen Retiro) (Art Portugais..., FCG, 1967-68).

Nessa mesma década, seminal para o percurso do autor, a Fundação adquire, igualmente em 1967, a pintura Hórrido Silêncio do Teu Corpo, de 1966. Era o início da constituição do núcleo dedicado ao autor na atual coleção do CAM. Esse significativo acervo seria particularmente alavancado com a criação do Centro de Arte Moderna, em 1983, muito por via de exposições tão relevantes como «Depois do Modernismo», ocorrida nesse mesmo ano na Sociedade Nacional de Belas-Artes, ou «1984: O futuro é já hoje?», apresentada no CAM no ano seguinte (Ibid.).

A coleção do CAM conta atualmente com 42 peças de António Palolo, sendo que pelo menos 18 delas já estariam incorporadas à data desta retrospetiva de 1995, e das quais sete integraram o catálogo de exposição. Na sequência da mostra, foram negociados mais três trabalhos expostos e datados do ano da exposição (Invs. 96P364; 96P365; 96P366) (Arquivos Gulbenkian, CAM 00863). Seria ainda incorporado um desenho de 1963, que não terá sido mostrado (Inv. DP1652) (Arquivos Gulbenkian, CAM 00880).

Esse acervo voltaria a ser nutrido em 1999, na sequência da coletiva «Linhas de Sombra» (Arquivos Gulbenkian, CAM 00923) e apresenta hoje, além da enfática obra gráfica e pictórica do autor, vários dos filmes que Palolo realizou nos anos 70. Refira-se, por exemplo, OM, de 1977, cuja produção a FCG subsidiou (Arquivos Gulbenkian, SBA 14337) e que está entre as 11 digitalizações dessas experiências que foram doadas à Fundação em 2012.

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Hórrido Silêncio do Teu Corpo

António Palolo (1946-2000)

Hórrido Silêncio do Teu Corpo, 1966 / Inv. 67P295

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1603

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1607

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1615

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1995 / Inv. 96P366

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1973 / Inv. 83P573

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1995 / Inv. 96P365

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1995 / Inv. 96P364

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1970 / Inv. 81P570

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1982 / Inv. 83P571

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1995 / Inv. 96P366

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1995 / Inv. 96P365

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1995 / Inv. 96P364


Eventos Paralelos

Exibição audiovisual

António Palolo. Ver o Pensamento a Correr

12 dez 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[António Palolo, 1963 – 1995]

5 dez 1995 – 25 dez 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Nave
Lisboa, Portugal
5 dez 1995 – 25 dez 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Galeria Piso 01
Lisboa, Portugal
5 dez 1995 – 25 dez 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Galeria Piso 1
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias

Pedro Tamen e Helena de Freitas (ao centro)
Pedro Tamen, Manuel de Brito e Jorge Molder
Pedro Tamen (à esq.), Helena de Freitas (atrás, à esq.) e Jorge Molder (à dir.)
António Palolo (ao fundo, à esq.)
António Palolo (à esq.), Pedro Tamen (ao centro) e Jorge Molder (atrás)
António Palolo (ao centro, atrás), Rui Sanches e Manuel Botelho (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00349

Pasta com documentação referente à produção da retrospetiva de António Palolo no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, entre dezembro de 1995 e janeiro de 1996. Contém correspondência detalhada com os vários emprestadores e fotografias das obras emprestadas. Entre essa epistolografia encontra-se o original de uma ficha de empréstimo assinada por Amália Rodrigues, entre outras personalidades destacadas do meio cultural português. Constam ainda informações sobre seguros e orçamentos diversos no âmbito da montagem. 1995 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00863

Pasta com documentação referente à aquisição de três peças (Invs. 96P364; 96P365; 96P366) pertencentes a uma série de cinco pinturas «S/Título» que António Palolo apresentara na sua exposição retrospetiva desse ano na FCG. 1996 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00880

Pasta com documentação referente à aquisição de um desenho «S/título» (Inv. DP1652) de António Palolo, datado de 1963. A aquisição deu-se em 1995, concomitantemente à exposição retrospetiva da obra do artista na FCG. 1995 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 14337

Pasta com documentação referente ao subsídio atribuído a António Palolo por parte do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian como apoio à produção do filme «OM», de 1977. Contém pareceres técnicos, orçamentos e uma ficha de projeto gizada pelo artista. 1977 – 1987

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 115024

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1995

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 134487

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1995


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