X de Charrua

Exposição retrospetiva de António Charrua (1925-2008), com curadoria de Ana Ruivo e Leonor Nazaré. Contou com mais de duas centenas de obras do artista, numa organização sobretudo cronológica e muito abrangente do ponto de vista disciplinar.
Retrospective exhibition on António Charrua (1925-2008) curated by Ana Ruivo and Leonor Nazaré. The exhibition featured more than 200 of the artist’s works in a comprehensive and generally chronological display.

António Charrua (1925-2008) ainda vivia quando, em 2001, o Museu de Évora, sob a coordenação de António Bacalhau, organizou uma grande mostra da sua obra. A referência é indispensável, uma vez que um dos principais fatores que estiveram na origem da produção desta exposição, levada a cabo pelo Centro de Arte Moderna (CAM) em 2015, «X de Charrua», foi precisamente o «esquecimento» e/ou o «desconhecimento» da obra do artista, generalizadamente mencionados pela inscrição crítica que a exposição aqui tratada teve nos media.

Durante largos anos, parte da missão do CAM foi precisamente a de difundir, apresentar e investigar, também através de exposições retrospetivas e publicações respetivas – entre outras iniciativas –, a obra dos principais artistas modernos e/ou contemporâneos do país. Neste aspeto, pode dizer-se que António Charrua havia sido descurado pelos principais museus de arte moderna e contemporânea portugueses, tendo a mostra no Museu de Évora sido a primeira exposição retrospetiva da sua obra. Impunha-se, então, o devido reconhecimento institucional museológico de um importante artista, justificado não apenas – embora tal fosse por si só bastante – pela manifesta «necessidade de divulgar e aprofundar o estudo de um percurso ainda pouco conhecido e atentar nos problemas maiores experimentados pelo artista na pintura» (X de Charrua, 2015, p. 9), mas também pela influência mais ou menos direta, mas, ainda assim, declarada, que o artista teve junto de uma geração de artistas como Álvaro Lapa (1939-2006), António Palolo (1946-2000), Joaquim Bravo (1935-1990) ou Henrique Ruivo (1935-2020) – «perante algumas obras, não nos é possível ignorar o que poderão ter sido memórias visuais e formas de ressonância da obra de Charrua na obra de artistas que o conheceram, que reconheceram a sua ascendência tutelar (há testemunhos escritos de Lapa, e orais de Palolo e Bravo)» (X de Charrua, 2015, p. 30).

Contando com cerca de sessenta anos de atividade prolífera do artista, a exposição pautou-se por uma grande variedade disciplinar, embora com natural protagonismo da pintura. O desenho do percurso de exploração visual de António Charrua, pintor a quem «todo o tipo de suporte servia para fixar um pensamento plástico» (Porfírio, Expresso, p. 86), dispôs-se ao longo das duas galerias laterais da sala de exposições do edifício do CAM através de uma seleção criteriosa, desvendando um caminho artístico do pintor, desde os primeiros anos da sua atividade, no final da década de 40 e princípio da de 50, até aos últimos, já em pleno milénio. Entre as diversas obras apresentadas, encontrava-se desenho, gravura, escultura, cerâmica e tapeçaria (esta última exposta na cafetaria do edifício do CAM), numa organização que «apresenta o pintor mas que também deixa antever o gravador, o ceramista, bem como o desenhador incansável de cadernos e caderninhos» (Porfírio, Expresso, p. 86).

A profusa e multifacetada obra de Charrua conduziu o processo de investigação da curadoria – da autoria de Ana Ruivo e Leonor Nazaré – a uma diversificada e considerável recolha de material, cuja relevância e consistência se quis explanar. Na verdade, existiu desde o início deste empreendimento uma vontade das duas curadoras de trazer Charrua, por inteiro, ao olhar público. O estudo rigoroso do percurso do artista compelia à apresentação, integrada na própria exposição e não somente nos materiais de apoio, de uma faceta documental de natureza quase historiográfica – «ao longo da investigação realizada, tornaram-se visíveis os processos de trabalho conducentes às obras e objetos que espelham o dispositivo conceptual de Charrua. Assim se entendeu a presença em exposição de peças detentoras de um valor sobretudo documental, como o são as maquetas de pinturas, […] as digitalizações de parte dos inúmeros cadernos de esboços e […] e os barcos que regularmente colecionou, pintou e, por vezes, integrou nas suas pinturas» (X de Charrua, 2015, p. 9).

Assim, as duas principais consequências desta investigação da curadoria, a exposição e o respetivo catálogo, acabaram por se traduzir num esforço maior do que aquele que seria esperado: a publicação de um catálogo que ultrapassa em muito o habitual registo da mostra, e que mais se assemelha a uma monografia do artista; e uma exposição que apresenta um olhar cuidado sobre o que poderá ter sido, ou foi, o caminho de Charrua, numa fixação mais ampla da sua atividade do que na sua exploração meramente pictórica. A curadoria da exposição privilegiou, por essa razão, uma organização cronológica, sem excluir, todavia, as «aproximações visuais entre períodos ou séries que consubstanciam igualmente núcleos de referência, atravessando, se necessário, balizas temporais» (X de Charrua, 2015, p. 9), bem como pontuais momentos de organização disciplinar, como no caso da cerâmica, disposta numa vitrina concebida para o efeito.

As marcas desse ânimo fizeram-se sentir na dimensão da própria exposição: as mais de duas centenas de obras apresentadas na mostra representam apenas uma parte do material, ainda que substancial, reunido durante a investigação das duas curadoras. O impacto causado pela dimensão da mostra foi, aliás, consensual junto da imprensa: «a exposição surpreende-nos, desde logo, pela quantidade de trabalhos que as duas curadoras reuniram» (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 jun. de 2015, p. 31); «Trata-se de uma grande mostra pelo número de obras, pelos espaços que ocupam e pela qualidade das mesmas» (Porfírio, Expresso, 20 jun. 2015, p. 86).

São cinco os divisores enunciados por Ana Ruivo, de forma livre, no seu texto de catálogo e que acabam por se projetar na organização da exposição. Admitindo uma concretização expositiva sobretudo cronológica, são eles: «primeiros anos»; «momentos de transformação»; «o apelo da cor»; «iconografia de autor» e «sobriedade inquieta» (X de Charrua, 2015, pp. 9-28).

Na primeira parte do piso inferior da exposição, apresentam-se as tendências temáticas que «concentram a maior parte da obra produzida por António Charrua no início da década de 50: a figuração humana e os espaços que habita» (X de Charrua, 2015, p. 10). Motivos como barcos, animais e espantalhos são também presença acentuada nos vários desenhos, esculturas, cerâmica e pintura que compõem esta secção, onde se pode pressentir as influências diretas de Pablo Picasso e, mais tarde, de Júlio Resende, reforçando em Charrua «o rigor construtivo das formas, a contenção de meios na expressão de uma linguagem que está em profunda relação com o real» (X de Charrua, 2015, p. 11). Autodidata, estes são «anos sobretudo formativos» (Ibid.) do artista e correspondem ao primeiro momento da exposição: «primeiros anos».

O segundo e terceiro momentos da exposição – «momentos de transformação» e «o apelo da cor» –, postos em evidência ainda no piso inferior, dão-se ao longo da década de 60. No ano de 1960 tem lugar uma viragem fundamental na libertação da exploração formal de Charrua, depois de lhe ser atribuída a bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para uma viagem pela Europa. Ao longo desta década sentir-se-á, nos primeiros anos, uma «aproximação ao gestualismo europeu […] e ao informalismo catalão» (X de Charrua, 2015, p. 13) e, mais tarde, é assinalável uma «permeabilidade […] à arte americana, com influências oriundas das Combine de Rauschenberg, do expressionismo abstrato de Robert Motherwell, do geometrismo depurado de Frank Stella, ou do cromatismo de Kenneth Noland» (X de Charrua, 2015, p. 13), o que levará o artista a «caminhos que o afastam de um referente reconhecível» (X de Charrua, 2015, p. 13), abrindo senda para importantes convergências que viriam a marcar toda a sua obra: «a tensão entre regra e impulso, esquadria e energia, negritude e máxima intensidade da cor» (X de Charrua, 2015, p. 14), os grandes formatos, as assemblages, a introdução nas telas de elementos diversos como ferro e madeira ou as impressões de pés e mãos, marca primitiva da inscrição humana. A exploração dos limites disciplinares evidencia-se na sua pintura através da multiplicação de «painéis de equilíbrio incerto, (a pintura) invade o chão, tridimensionaliza-se, destaca-se do seu suporte em fuga da parede» (X de Charrua, 2015, p. 15).

São anos de grande experimentação e metamorfose, que vêm encontrar resposta consistente no terceiro momento da exposição e do seu percurso, «o apelo da cor». Esta fase, como uma transição para a idade adulta da sua obra, será aquela em que mais se pressente o gesto reconhecível de Charrua, o início da sua individualidade artística, o referente transformado em linguagem própria. Na sua pintura é agora notada uma paleta de cores preferencialmente primárias, que se encontra em constante diálogo com as formas geométricas que vêm circunscrever a maturidade do artista: das linhas oblíquas (que compõem, por exemplo, as icónicas «Ameaças I, II e II») até aos «Xs». Referentes formais e simbólicos constantes, os Xs são uma marca tão profunda da obra do artista quanto a sua confirmação, em duplo sentido, dá, inclusive, nome à exposição: «X de Charrua» (o «X» como ícone maior da sua pintura, o «X» como som do seu próprio nome. Um pouco como no caso de Tàpies – grande influência na obra de Charrua –, quando nos seus «Ts» se julga entrever os signos da própria letra, para além da inicial do seu nome. Nas palavras de Ana Ruivo lê-se agora: «São da mesma forma exploradas variações em toda a paleta através de um vocabulário geométrico de formas simples, ainda que se mantenha sempre, em todo o trabalho, o enfrentamento de duas forças vitais: gesto e signo, cor e forma. Charrua parece ter ganhado definitivamente a cor como matriz do seu trabalho e a forma como seu esteio, para revelar o que está para lá dela.» (X de Charrua, 2015, p. 18)

O piso superior da exposição vem evidenciar uma fase já de pleno amadurecimento do artista: composto inteiramente de pintura, este piso concentra os dois momentos que já vinham a ganhar forma na última parte do piso inferior: a «iconografia de autor» e «sobriedade inquieta». Ao «X» como motivo preferencial, acrescenta-se agora o «T» (oriundo talvez de uma outra presença regular de orientação vertical na pintura de Charrua: as escadas, as forquilhas) e fixam-se as designadas «formas principais»: o quadrado, o círculo e o triângulo. O uso da forma, bem como o da cor, carrega já um significante que vai para lá da aventura da libertação e da natureza da experiência. O último momento, «sobriedade inquieta», é o expoente máximo dessa condição de amadurecimento: «As últimas décadas de produção atingem um dramatismo e uma sobriedade ímpares […] Acentua-se um sentido de espaço e duração, regista-se, mais do que a forma, um movimento.» (X de Charrua, 2015, p. 27)

Tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, seria expectável que um razoável núcleo de obras da exposição pertencesse ao espólio do CAM, como nos lembra Luísa Soares de Oliveira no seu artigo acerca da exposição, fazendo alusão ao surpreendente número de emprestadores de obras patentes na exposição. Com efeito, uma parte das obras da coleção do Centro de Arte Moderna da autoria do artista foi apresentada na exposição, como Grande X II, de 1972, ou Terra Trabalhada, de 1961. Ainda nesse ano foram incorporadas na Coleção três esculturas do artista. Estas obras serão representativas sobretudo de uma época do seu percurso, ficando a faltar à Coleção uma obra do seu período de maior maturidade: a aquisição, em ano posterior, de África, de 1996, vem evidenciar isso mesmo. À data deste texto, a obra encontra-se exposta na mostra permanente da coleção do CAM. Entre os diversos contactos estabelecidos no contexto de produção da exposição, serão de assinalar ainda os importantes contactos com duas galerias em Neuchâtel, na Suíça, a Galeria Numaga II e a Galeria Jonas, numa nota de referência que descortinou, em maior detalhe, o percurso pertinente que Charrua desenvolveu na Suíça entre os anos de 1975 e 1984.

O catálogo da exposição constitui um fundamental eixo de trabalho deste processo. Todo o material reunido pelas duas curadoras encontra presença no catálogo, quer tenha constado da exposição, quer tenha feito parte apenas do processo de investigação. Além das imagens de todas as obras de arte das quais houve notícia, foram documentados trabalhos de Charrua em diversos locais públicos, como centros de saúde, prisões, casas de particulares ou escultura em espaço público. A obra gráfica, como as diversas capas de livros que desenhou, está também representada no catálogo. Uma biografia com imagens, diversas entrevistas do artista, e os testemunhos de António Bacalhau, Pedro Chorão e João Canijo complementam um perfil artístico e pessoal de Charrua. No caso deste último, João Canijo, fez-se ainda o registo de um guião ilustrado por Charrua para o filme do cineasta intitulado Filha da Mãe. Por outro lado, os textos de catálogo das curadoras vêm completar a premissa de traçar o perfil do artista e do homem, analisando a importância da sua exploração formal, concedendo-lhe o mérito historiográfico em falta, no caso de Ana Ruivo; no caso de Leonor Nazaré, o texto deslinda outra face da obra de Charrua, numa curiosa analogia com as obras de Álvaro Lapa, António Areal, Joaquim Bravo, António Palolo e Henrique Ruivo, explanando assim a sua influência, promovendo uma reflexão sobre o contexto da sua obra, e ainda a sua integração num nunca plenamente assumido Grupo de Évora. A observação de uma faceta biográfica não é descurada, o que vem oferecer importantes considerações, nomeadamente para o já mencionado «esquecimento» da obra de Charrua.

Disponibilizou-se ainda, com o catálogo, um slideshow – produzido para exposição e nela apresentado em dois ecrãs embutidos em vitrina – com imagens dos inúmeros «cadernos e caderninhos» de Charrua, suporte de tantos «ensaios» para as telas de grande dimensão.

O Serviço Educativo do CAM preparou um conjunto de iniciativas envolvendo a exposição, nomeadamente as iniciativas «Em Contacto! – Artistas e curadores» (à conversa com Leonor Nazaré e Ana Ruivo) ou «AppetizerUm pouco de arte à hora de almoço» (com Sandra Vieira Jürgens), entre outras habituais visitas guiadas.

A exposição teve, como já foi sendo anotado, uma reação extremamente positiva junto dos meios de comunicação. Com uma pontuação crítica de cinco estrelas na maioria dos casos, a exposição mereceu comentários como aqueles se seguem: «Trata-se de uma grande mostra pelo número de obras, pelos espaços que ocupam e pela qualidade das mesmas. Distribuída por duas zonas sobrepostas, a exposição começa no espaço inferior com as obras mais antigas, […] e explode em três grandes espaços na galeria superior, numa monumental série de trabalhos mais recentes, ora tensos ora expansivos, onde entra constantemente o X que figura certeiramente no título desta mostra.» (Porfírio, Expresso, 27 jun. 2015, p. 86)

Miguel Matos afirma mesmo que é «obrigatório» (Matos, Time Out, 12 ago. 2015, p. 38) visitar a exposição. Além de se louvar a própria mostra, nomeadamente no que à «consistência e a quantidade de trabalhos apresentados, criteriosamente divididos por núcleos» (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 jun. 2015, p. 31), existe, sem exceção, uma alusão positiva à iniciativa de se mostrar um artista pouco visto, desconhecido ou esquecido – facto surpreendente depois do confronto com a qualidade do trabalho reunido na exposição. «Pouco vista e quase esquecida» (Porfírio, Expresso, 27 jun. 2015, p. 86), dirá José Luís Porfírio acerca da obra de Charrua, ou «praticamente desconhecida do grande público» (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 jun. 2015, p. 31), no caso de Luísa Soares de Oliveira, no caso de Miguel Matos, afirma-se um «esquecimento progressivo» (Matos, Time Out, 12 ago. 2015, p. 38) do artista, e Carlos Vidal intitula o seu artigo sobre a exposição da seguinte forma: «António Charrua, um quase desconhecido» (Vidal, Sábado, 2015).

Miguel Matos concentra o seu artigo na rememoração do importante papel dos museus na disseminação da obra de artistas, sobretudo em casos em que haja uma notada falta: «Cabe aos museus realizar exposições antológicas e retrospectivas que os tragam aos olhos de um público.» (Matos, Time Out, 12 ago. 2015, p. 38) Afirma Miguel Matos de forma assertiva: «[…] a Gulbenkian tem feito isso muito bem […]. O caso da exposição X de Charrua é o perfeito exemplo de como recuar no tempo pode causar surpresas aos menos atentos. […] O resultado é uma importante apresentação, realizada de forma respeitosa e rigorosa, da obra de um artista hoje ausente da memória do grande público. É para isso que serve um museu.» (Ibid.)

Segundo Luísa Soares de Oliveira, a exposição poderá ainda ser vista como um retrato de uma época: Charrua, caso paradigmático do que representa ser artista durante o Estado Novo em Portugal. «Como era ser pintor em Portugal» é aliás o título do seu artigo. Elabora a jornalista: «[…] o percurso de Charrua foi particularmente exemplificativo daquilo que um artista em Portugal nos anos de 60 e 70 podia ou devia ser: plurifacetado. […] a tentativa de criar uma obra em consonância com as grandes inquietações internacionais num tempo em que a informação era escassa. […] atitude […] raríssima no tempo em Portugal. Sobretudo, quando assinada por artistas que, em vez de emigrar, aqui tinham escolhido viver.» (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 jun. 2015, p. 31)

A exposição obteve uma reação muito positiva junto do público, contando com um total de 29 970 visitantes.

Vera Barreto, 2018

António Charrua (1925-2008) was still alive when, in 2001, the Museu de Évora organised a major exhibition of his work, coordinated by António Bacalhau. We cannot neglect to mention this event, as one of the major motivations behind “X de Charrua” (X for Charrua), which took place at the Modern Art Centre (CAM) in 2015, was the “fall into obscurity” and/or “unfamiliarity” of the artist’s work, widely referenced in press coverage of the exhibition.

For many years, part of the CAM’s mission has been to showcase and research the work of major Portuguese modern and/or contemporary artists through initiatives such as retrospectives and the accompanying publications. With this in mind, it would be fair to say that António Charrua has been overlooked by Portuguese modern and contemporary art museums, the exhibition at the Museu de Évora being the first ever retrospective of his work. Consequently, there was a genuine need for institutional and museological recognition of a significant artist, not only due to the “clear need to showcase and further research an art career that is still largely unknown and reflect on the big questions the artist explored through his painting” (X de Charrua, 2015, p. 9 – which would have been reason enough –, but also Charrua’s influence on a generation of artists including Álvaro Lapa (1939-2006), António Palolo (1946-2000), Joaquim Bravo (1935-1990) and Henrique Ruivo (1935-2020), sometimes directly, sometimes indirectly, but always recognisable – “faced with certain works, it is impossible to deny what appear to be visual memories and echoes of the works of Charrua in the work of the artists who knew him, and were influenced by his tutelage (there are written accounts by Lapa, and oral ones by Palolo and Bravo)” (X de Charrua, 2015, p. 30).

Drawing on a prolific career spanning almost sixty years, the exhibition embraced a wide variety of disciplines, although his paintings naturally took centre stage. The exhibition was designed as a visual exploration of António Charrua, a painter who “used all types of mediums to make his artistic ideas a reality” (Porfírio, Expresso, p. 86). Occupying the two side galleries of the CAM building exhibition room, the carefully selected works traced the artistic evolution of the painter from the early years of his career in the late 1940s and early 1950s, to his final works after the turn of the millennium. The varied pieces on display included drawings, etchings, sculptures, ceramics and tapestry (the latter displayed in the café of the CAM building), organised in a way that “celebrates the painter but also provides glimpses of the printmaker, the ceramicist and the tireless draftsman who would fill sketchbook after sketchbook” (Porfírio, Expresso, p. 86).

The vast and multifaceted nature of Charrua’s oeuvre led the curatorial research team, headed by Ana Ruivo and Leonor Nazaré, to consider a varied and substantial array of materials, the relevance and consistency of which they sought to explore. From the outset, both curators shared a determination to bring Charrua to the public attention, once and for all. This thorough research into the artist’s career made it necessary to incorporate a quasi-historiographic documentary aspect into the exhibition itself, and not only the supporting materials. “During the research stage, the working processes behind the artworks and objects came into view, revealing Charrua’s conceptual framework. This explains the presence in the exhibition of pieces whose value was mainly documentary, such as models for paintings, […] digitalisations of the countless sketchbooks and drawings and […] the boats he would collect, paint and, sometimes incorporate into his paintings” (X de Charrua, 2015, p. 9).

As such, the two main outcomes of the curators’ research, the exhibition and its catalogue, proved to be a larger undertaking than originally anticipated: the publication of a catalogue that is far more than simply a record of the exhibition, more akin to an artist’s monograph; and an exhibition that offers a thoughtful look at Charrua’s trajectory as it was and could have been, considering his art in the broader context rather than offering a simple visual exploration. The curators of the exhibition therefore opted for a chronological approach, though not neglecting “visual links between periods or series, which also define the chosen themes, crossing temporal frontiers where necessary” (X de Charrua, 2015, p. 9), as well as the occasional example of grouping by discipline, for instance the ceramics displayed in a purpose designed case.

Evidence of this determination is seen in the scope of the exhibition: while substantial, the over-two-hundred works displayed represented just part of the material gathered by the two curators during the research phase. Many references were made in the press to the impact of the sheer scale of the exhibition: “the exhibition surprises us from the outset with the number of works that the two curators have gathered” (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 Jun 2015, p. 31); “It is a landmark exhibition in terms of the number of works, the space they occupy and their quality” (Porfírio, Expresso, 20 Jun 2015, p. 86).

In her catalogue text, Ana Ruivo identifies five loose themes, which provided the basic structure of the exhibition. Tracing a largely chronological path, these are: “early years”; “moments of transformation”; “the appeal of colour”; “the iconography of the author” and “restless restraint” (X de Charrua, 2015, pp. 9-28).

The first area of the lower floor of the exhibition explored the themes that “dominate the majority of the works produced by António Charrua in the early 1950s: figurative depictions of human forms and the spaces they inhabit” (X de Charrua, 2015, p. 10). Motifs such as boats, animals and scarecrows also feature prominently in the various drawings, sculptures, ceramics and paintings in this area, where you can feel the direct influence of Pablo Picasso and, later, Júlio Resende, strengthening Charrua’s “careful construction of shapes, restraint in the way he expresses a visual language profoundly linked to the real” (X de Charrua, 2015, p. 11). As a self-taught artist, these were “primarily formative years” (Ibid.) and form the first area of the exhibition: “early years”.

The second and third areas of the exhibition – “moments of transformation and “the appeal of colour” –, also on the lower floor feature work from the 1960s. 1960 marked a fundamental turning point in terms of Charrua’s free experimentation with form, after he was awarded a Calouste Gulbenkian scholarship enabling him to travel Europe. The early years of the decade would herald an “affinity with European gesturalism […] and Catalan informalism” (X de Charrua, 2015, p. 13), while the latter years saw a remarkable “permeability […] to American art, influenced by the Combine works of Rauschenberg, the abstract expressionism of Robert Motherwell, the minimal geometricism of Frank Stella, and the chromaticism of Kenneth Noland” (X de Charrua, 2015, p. 13). This would lead the artist down “avenues that would distance him from familiar reference points” (X de Charrua, 2015, p. 13), making way for significant convergences that would come to define his work: “the tension between order and impulse, squareness and energy, blackness and intense colour” (X de Charrua, 2015, p. 14), the large formats, the assemblages, the addition to his canvases of elements such as iron and wood, and the hand and footprints, a primitive mark of human intervention. In his paintings, this exploration of the boundaries of the discipline is reflected in the multitude of “precariously balanced panels, [the painting] invades the floor, becomes three dimensional, wrests itself from its support, breaking free from the wall” (X de Charrua, 2015, p. 15).

These were years of great experimentation and transformation, reflected in the third area of the exhibition, “the appeal of colour”. It was during this period, which marked his transition to artistic maturity, that we really begin to get a sense of the Charrua’s trademark gesture, the emergence of his artistic identity, taking his influences and forging them into his own visual language. His paintings from this era feature a palette mainly consisting of primary colours, in constant dialogue with the geometric shapes that would come to encapsulate his artistic maturity, from oblique lines (as seen in the iconic “Ameaças I, II and III” to the letter “X”. A recurring visual and symbolic motif, “X” is so synonymous with this artist’s work that it was chosen as the title for the exhibition: “X de Charrua” (X for Charrua). This title has a double meaning: the “X” is an iconic feature of his paintings, while “X” pronounced in Portuguese resembles the “Ch” sound (for Charrua). It also recalls Tàpies – a major influence on Charrua –, who explored his first initial, the letter “T”, as a sign. In the words of Ana Ruivo: “similarly, variations in palette are explored through a geometric vocabulary comprised of simple shapes, while a constant tension between two vital forces: gesture and sign, colour and shape, runs throughout the work. Charrua ultimately seems to have chosen colour as the mould for his work and shape as its backbone, in an attempt to reveal what lies beyond.” (X de Charrua, 2015, p. 18)

The upper floor of the exhibition focused on the artist in his maturity. Composed entirely of paintings, the two areas of this floor: “iconography of the author” and “restless restraint” saw a continuation of the tendencies that emerged at the end of the previous floor. The letter “T” now joins “X” as a favoured motif (perhaps derived from another recurring vertical presence in Charrua’s painting: ladders and forks), while the so-called “basic shapes”: the square, the circle and the triangle, remain. The use of shape and colour now carries a meaning beyond free adventure and experimentation. The last space, “restless restraint” is the ultimate expression of this artistic maturity: “In the final decades of his career, he achieved unrivalled drama and restraint […] There is a marked sense of space and time, more than the shape, what we see is movement.” (X de Charrua, 2015, p. 27)

Having been the recipient of a Calouste Gulbenkian Foundation scholarship, it would be reasonable to expect a large number of the featured works to belong to the CAM collection, as Luísa Soares de Oliveira notes in her article on the exhibition, remarking on the surprising number of lenders involved. Some Charrua pieces from the Modern Art Centre collection, such as Grande X II from 1972, and Terra Trabalhada from 1961, were included in the exhibition. Three sculptures by the artist were also added to the Collection that year. These pieces mainly dated from the same stage of his career, and the Collection lacked work from his mature period. This was reflected in the acquisition, the following year, of a 1996 piece entitled África. At the time of writing, this piece was on display as part of the CAM permanent exhibition. The contacts established during the production of the exhibition led to interesting correspondence with two galleries in Neuchâtel, Switzerland, Galeria Numaga II and Galeria Jonas, a reference note providing a valuable insight into Charrua’s success in Switzerland between 1975 and 1984.

The exhibition catalogue was a crucial part of the process. All of the material gathered by the two curators was included in the catalogue, whether or not it appeared in the final exhibition. As well as images of all known artworks, it documented pieces by Charrua in various public buildings, such as health centres and prisons; private homes and sculptures in public spaces. Graphic design work, including several book covers, is also included in the catalogue. A biography featuring images, interviews with the artist and contributions from his peers António Bacalhau, Pedro Chorão and João Canijo build an artistic and personal profile of Charrua. The latter, film director João Canijo, also refers to a screenplay for his film Filha da Mãe, illustrated by Charrua. The catalogue texts by the curators complete the task of painting a picture of the artist and the man. Ana Ruivo examines the significance of his formal experiments, granting him the historiographic recognition he previously lacked. Meanwhile, the piece by Leonor Nazaré reveals another side of Charrua, drawing interesting parallels with the work of Álvaro Lapa, António Areal, Joaquim Bravo, António Palolo and Henrique Ruivo, demonstrating the artist’s influence and fostering reflection on the context of his works and his inclusion in the never-fully-realised “Évora Group” of artists. No facet of the artist’s biography is neglected, providing ample food for thought, particularly given that Charrua’s work had, as we mentioned above, fallen into obscurity.

As well as the catalogue, a slideshow was produced for the exhibition, two screens embedded in a display cabinet showing images from Charrua’s countless “sketchbooks and notebooks”, the site of so many “experiments” for large canvases.

The CAM education department ran a series of activities alongside the exhibition, including “Em Contacto! – Artistas e curadores” (a conversation with Leonor Nazaré and Ana Ruivo) and “Appetizer – Um pouco de arte à hora de almoço (with Sandra Vieira Jürgens), in addition to the usual guided tours.

As we have already noted, the exhibition received very positive feedback in the press. Earning mainly five-star reviews, it garnered comments such as: “It is a landmark exhibition because of the number of works on display, the space they occupy and their quality. Spread over two floors, the exhibition begins on the lower floor with older works, […] and explodes into three large areas in the upper gallery, containing a monumental series of more recent pieces, by turns tense and expansive, in which the X, wisely chosen as the title of this show, is a constant presence.” (Porfírio, Expresso, 27 Jun 2015, p. 86)

Miguel Matos even called the exhibition a “must-see” (Matos, Time Out, 12 Aug 2015, p. 38). As well as praising the exhibition itself, particularly in terms of the “consistency and quantity of works displayed, insightfully arranged by theme” (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 Jun 2015, p. 31), coverage universally lauds the exhibition’s effort to shine a spotlight on an underrepresented, unknown or forgotten artist – a fact that is surprising having seen first-hand the quality and quantity of the works assembled in this exhibition. José Luís Porfírio referred to the work of Charrua as “rarely exhibited and almost forgotten” (Porfírio, Expresso, 27 Jun 2015, p. 86), while Luísa Soares de Oliveira called them “practically unknown to the general public” (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 Jun 2015, p. 31). Miguel Matos, referred to the artist’s “gradual fall into obscurity” (Matos, Time Out, 12 Aug 2015, p. 38) and Carlos Vidal gave his article on the exhibition the title: “António Charrua, um quase desconhecido” (António Charrua, almost an unknown” (Vidal, Sábado, 2015).

In his article, Miguel Matos acknowledged the important role museums play in disseminating the work of artists, particularly in cases where a clear need exists: “It falls to museums to organise anthological and retrospective exhibitions that bring them into the public conscience.” (Matos, Time Out, 12 Aug 2015, p. 38) Miguel Matos confidently asserts that “[…] the Gulbenkian does this very well […]. The exhibition X de Charrua is the perfect example of how looking back can surprise the less attentive among us. […] The result is an important show of the works of an artist who is, today, largely forgotten by the general public, curated with respect and rigour. And that is what museums are for.” (Ibid.)

According to Luísa Soares de Oliveira, the exhibition could also be viewed as the portrait of an era: Charrua as the archetype of what it meant to be an artist under the Estado Novo dictatorship in Portugal. “Como era ser pintor em Portugal” (What it was like to be a painter in Portugal) is also the title of her article. In it, the journalist explains: “[…] Charrua’s career was particularly typical of what an artist in Portugal in the 1960s and 1970s could be or had to be: multifaceted. […] efforts to produce art that kept pace with major international concerns at a time when information was scarce. […] an attitude […] rare at the time in Portugal. Especially when produced by artists who, rather than emigrating, chose to stay here.” (Oliveira, Público. Ípsilon, 26 Jun 2015, p. 31)

The public response to the exhibition was very positive and it welcomed total of 29 970 visitors.


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

África

António Charrua (1925-2008)

África, 1996 / Inv. 16P1818

Apoiado Versus Suspenso

António Charrua (1925-2008)

Apoiado Versus Suspenso, 1969 / Inv. 15E1785

Grande X  II

António Charrua (1925-2008)

Grande X II, 1972 / Inv. 80P754

O Dragão

António Charrua (1925-2008)

O Dragão, 1968 / Inv. 15E1786

O Espantalho

António Charrua (1925-2008)

O Espantalho, 1959 / Inv. GP76

Sem título

António Charrua (1925-2008)

Sem título, n.d. / Inv. 15E1787

sem título (Armadura I)

António Charrua (1925-2008)

sem título (Armadura I), 1962 / Inv. GP1356

Tauromaquia

António Charrua (1925-2008)

Tauromaquia, 1961 / Inv. GP118

Terra Trabalhada

António Charrua (1925-2008)

Terra Trabalhada, 1961 / Inv. 61P1154

África

António Charrua (1925-2008)

África, 1996 / Inv. 16P1818

Apoiado Versus Suspenso

António Charrua (1925-2008)

Apoiado Versus Suspenso, 1969 / Inv. 15E1785

O Dragão

António Charrua (1925-2008)

O Dragão, 1968 / Inv. 15E1786

Sem título

António Charrua (1925-2008)

Sem título, n.d. / Inv. 15E1787


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

À Conversa com as Curadoras. Leonor Nazaré e Ana Ruivo

jun 2015
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

À Descoberta do CAM. Visitas de Domingo

jun 2015 – set 2015
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Appetizer. Um Pouco de Arte à Hora do Almoço

jul 2015
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Artur Santos Silva (à esq.), Ana Ruivo (ao centro) e Leonor Nazaré (à dir.)
Artur Santos Silva (à esq.), Leonor Nazaré (ao centro) e Ana Ruivo (à dir.)
Leonor Serpa Branco (à dir.)
Leonor Nazaré e Artur Santos Silva

Multimédia


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00705

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, relatório final de exposição temporária, estudo dos públicos, avaliação de satisfação de público, formulários de empréstimo, plantas arquitetónicas e listas variadas. 2014 – 2015

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00706

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém formulários de empréstimo. 2015

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00707

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém «condition reports» das obras. 2015 – 2015

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00708

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, fichas de empréstimo, material para o catálogo, lista de obras e lista com indicações da disposição das obras no espaço. 2015 – 2015

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 3348

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2015

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 3193

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2015


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