Maia. Sob o Fascínio da China

Exposição individual da artista portuguesa Maria Celeste Bentley Maia (1941), organizada pela parceria da Missão de Macau em Lisboa com a Fundação Calouste Gulbenkian. A mostra apresentou, através de cerca de 30 pinturas, a visão da artista sobre as tradições e costumes da China, após uma estadia de dois meses em terras orientais.
Individual exhibition of the work of Portuguese artist Maria Celeste Bentley Maia (1941) organised in a partnership between the Macau Mission in Lisbon and the Calouste Gulbenkian Foundation. In a display of around 30 paintings, the show presented the artist’s vision of China’s traditions and customs, after a two-month journey through the East.

Exposição individual da pintora portuguesa Maria Celeste Bentley Maia (1941), realizada por iniciativa da artista, em conjunto com a Missão de Macau em Lisboa, contando com o apoio e a organização da Fundação Calouste Gulbenkian.

No breve texto que José Sommer Ribeiro escreveu para a apresentação do catálogo, o diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) dá conta do modo como travou contacto com o trabalho de Maia e de como este o cativou: «Em 1977, coincidindo com a deslocação a São Paulo para a Bienal, tive a oportunidade de apreciar pela primeira vez as obras de Celeste Maia. O seu trabalho […] tinha algo de muito pessoal, em que a figura humana somente se apercebia, por vezes apenas uns pés, roupas em desalinho, um prato com fruta, enfim as telas focavam essencialmente o quotidiano. E foi esse o trabalho que apresentámos na Fundação Calouste Gulbenkian em 1980. Posteriormente, a figura humana desaparece por completo, e foi com grande surpresa que pude apreciar as suas pinturas sobre a China, Macau e Hong-Kong, em que retrata com extraordinária verdade não só os usos e costumes dessas longínquas paragens do Extremo Oriente, como as suas gentes.» (Carta de José Sommer Ribeiro para Maria Celeste Maya, 10 dez. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00312)

Nascida em Moçambique, e com passagens por Roma, Washington, Praga, São Paulo ou Madrid, Maia cruza diversas influências culturais no seu trabalho. Como sugere Jonathan Turner no texto do catálogo da exposição, para Maia as cidades mais estimulantes são aquelas em que o velho se mistura com o novo – Lisboa, Xangai, Roma ou mesmo Macau –, levando-a a criar pinturas «que mostram um misto de factos arqueológicos e de ficção cheia de imaginação» (Maia. Sob o Fascínio da China, 1994). Dedicando-se não só à pintura, mas também à fotografia, Celeste Maia aproveita a estada de dois meses em terras do Oriente – Hong Kong, Macau e China – para fotografar «casas, pessoas e objectos nos lugares que visita, combinando-os depois com a sua imaginação» (Ibid.).

A mostra contou com cerca de 30 pinturas, de idênticas dimensões, que preencheram a Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP com as «visões» da artista sobre a China. Nesta sala, foi criada uma atmosfera evocativa das influências culturais do Oriente, para a qual contribuiu a presença de um telhado revirado chinês, instalado por Paulo-Guilherme d'Eça Leal sobre a porta da sala de exposições (Carta de Celeste Maia para José Sommer Ribeiro, 21 fev. 1994, Arquivos Gulbenkian, CAM 00321).

O catálogo da exposição incluiu a reprodução fotográfica das obras expostas, o pequeno texto de introdução da autoria de José Sommer Ribeiro e um texto do crítico de arte Jonathan Turner. No artigo que escreveu sobre a artista, Turner focou o percurso e as influências que Maia assimilou no decurso das suas viagens.

Fascinada pelo comportamento humano, pelas culturas alheias à sua e pela diferença de perspetiva entre a realidade e o sonho, Celeste Maia começou o seu percurso artístico com a realização de retratos, passando depois a pintar paisagens ou cenas do quotidiano com a presença da figura humana, a qual foi desaparecendo gradualmente da sua obra. No entanto, a presença do homem permanecia viva nas suas pinturas de uma maneira subtil, tal como descreve Jonathan Turner: «Ela tem muitas vezes aludido à presença humana, pintando portas abertas, roupas atiradas, almofadas amarrotadas e mesas postas para o café da manhã.» (Maia. Sob o Fascínio da China, 1994)

A artista pretendeu demonstrar o sentimento que tinha da «sua» China com a representação de personalidades fortes e contemporâneas, sem medo do futuro e do desconhecido, mas que mantinham as suas tradições e costumes, como retrata a pintura de uma mulher idosa que se senta à sombra de um edifício na Cidade Proibida: «Segurando uma bengala de bambu, ela observa o espectador, de costas voltadas para os antigos edifícios e velhos costumes. […] Esta mulher altiva e solitária é o símbolo de todas as tradições e paixões da China.» (Ibid.)

As pinturas de Maia, apesar de aparentarem uma interpretação «fácil», carregam inúmeras subtilezas, que contam uma história e requerem um olhar atento, começando desde logo nos títulos, que conduzem a uma reflexão mais profunda sobre cenas supostamente comuns e onde é captada, de acordo com Jonathan Turner, «uma nova dimensão», que, ao invés de surrealista, configura «a sua própria marca de realismo» (Ibid.).

Citando Jonathan Turner: «Maia consegue, por vezes, captar num único destes quadros chineses vários momentos fugazes de perfeição. Em cenas aparentemente calmas, estes quadros dão-nos emoções fortes, complexas e por vezes contraditórias.» E Turner exemplifica, aludindo a uma das «visões» de Maia: «Por exemplo, um homem agachado numa escadaria e uma jovem impassível aparecem juntos. O homem está envolto nas sombras, a jovem parece banhada dum foco teatral. "Ela é a minha Lolita", diz Maia. "Devia ter uns 12 anos, estava sentada num parque em Xangai, exactamente como a pintei. […] Ele olha-nos, nada transparecendo da sua expressão, segurando um saco vermelho. O que estará no saco? E qual é a relação entre eles? […]"» (Ibid.)

Na opinião de Maria Alexandre Gomes, coordenadora-geral da Missão de Macau em Lisboa, foi essencial que a mostra tivesse sido apresentada em Lisboa, pelo facto de Portugal ser visto como «a "porta" entre a Europa e o Oriente», mas também por Lisboa ter sido eleita Capital da Cultura em 1994, uma oportunidade para apresentar publicamente uma mostra sobre a realidade da China que pudesse ser um «tema de reflexão para o ano português» (Ofício de Maria Alexandra Gomes para José Sommer Ribeiro, 12 mai. 1993, Arquivos Gulbenkian, CAM 00312).

Depois de apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição passou por Madrid e Sevilha, seguindo depois para o Oriente – Macau, Hong-Kong e Pequim –, entre setembro e novembro de 1994.

Joana Atalaia, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00312

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém fotografias das obras da artista, correspondência entre a artista e a Fundação Calouste Gulbenkian e convite. 1993 – 1994


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1984 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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