Tàpies. Celebració de la Mel

Exposição itinerante e individual do artista catalão Antoni Tàpies (1923-2012), realçando obras que têm no verniz um material destacado. Surgiu por iniciativa da Fundació Antoni Tàpies (Barcelona), concomitantemente à itinerante «Antoni Tàpies. Obras nas Colecções Europeias».
Travelling solo exhibition of the work of Spanish artist Antoni Tàpies (1923-2012) highlighting works that prominently featured materials in lacquer. The show stemmed from an initiative by the Fundació Antoni Tàpies (Barcelona) concurrently with the travelling exhibition “Antoni Tàpies. Works in European Collections”.

Durante o ano de 1991, a obra de Antoni Tàpies (1923-2012) figuraria em diversas exposições na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Começou por integrar a coletiva «A Colecção de Arte da Telefónica de España», entre 14 de setembro a 21 de outubro, merecendo, no final do ano, atenção mais exclusiva nas mostras «Obras de Antoni Tàpies nas Colecções Europeias» e esta «Tàpies. Celebració de la Mel» – itinerante internacional organizada pela própria Fundació Antoni Tàpies de Barcelona, cabendo a curadoria a Manuel J. Borja-Villel, então diretor do museu de arte contemporânea desse organismo.

A Fundação de Serralves (que também tinha exposto recentemente obras do artista na coletiva «A Arte Espanhola na Colecção da Fundació La Caixa», igualmente de 1991) assumiria uma parceria com a FCG para a organização destas duas primeiras individuais de Tàpies em Portugal. Apresentadas em simultâneo, ficariam primeiramente patentes no Porto, ao que tudo indica na Casa de Serralves (Expresso, 4 out. 1991, p. 3), entre 10 de outubro e 24 de novembro de 1991, rumando depois a Lisboa onde seriam apresentadas entre 19 de dezembro de 1991 e 26 de janeiro de 1992. Na Gulbenkian, a já referida «Obras de Antoni Tàpies nas Colecções Europeias» ocuparia o piso 0 da Galeria de Exposições Temporárias da Sede, enquanto «Tàpies. Celebració de la Mel» seria exposta no piso 01.

No caso de «Tàpies. La Celebració de la Mel», a tradução portuguesa do catálogo revela que, para esta passagem da exposição por Porto e Lisboa, foram selecionadas 58 peças das 92 originalmente listadas na conceção original deste acervo itinerante (Protocolo entre a Fundació Antoni Tàpies, a Fundação de Serralves e a Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, Arquivos Gulbenkian, CAM 00256). A utilização do verniz surgia como um dos fios condutores. Como um mel – em cor e viscosidade –, esse material industrial era assumido na coabitação com outras matérias mais porosas da obra de Tàpies. Contaminava as composições, disputando valores poéticos com as texturas acidentadas, as manchas furiosas, os objetos colados, o desenho das caligrafias e signos por codificar, numerologias, cruzes.

Afirmado plasticamente, fora da sua aplicação de mera preparação ou acabamento das superfícies, o verniz acarreta muitas vezes a duplicidade de ser cintilante, brilhante, sem nunca deixar de ser um material em bruto – tão «pobre» como tantos outros recursos a que nos habitua o restante vocabulário de Tàpies. Noutros casos, esse âmbar sintético funciona como uma grude gordurosa, absorvida pelos suportes como nódoas.

Expondo essa multiplicidade de aplicações expressivas, o texto curatorial que Borja-Villel publica no catálogo salienta como este universo de transparências fluidas, sobreposições e velaturas do verniz foi sendo entrecruzado, em várias fases do percurso de Tàpies, com as mais opacas pinturas matéricas e assemblagens do artista catalão – porventura a parte mais divulgada da sua obra (Tàpies. Celebració de la Mel, 1991, pp. 15-23).

Transmitia-se assim a ênfase conferida por Tàpies ao uso do verniz na década de 80, não esquecendo, como o curador realça, que a exploração plástica dessa matéria, fluida e expansiva, esteve subjacente a todo o percurso do autor, de um ou de outro modo, desde o final da década de 40. Aparece com autonomia estética logo na fase surrealista, alongando-se para a fase informalista, mais associada ao Tachisme, dos anos 50 – períodos dos quais também eram expostas algumas obras.

De resto, o catálogo apresenta o acervo a partir de dez núcleos, cujos títulos expressavam, por si só, alguns eixos e preocupações flagrantes em toda a obra de Tàpies: Origens; O Corpo; Vestígios; O Objecto e a Natureza; As Séries; A Pobreza do Material; A Resistência da Forma; Transparências; A Escrita; e, por fim, Celebració de la Mel – nome da mostra e de uma das peças lá integradas, com essa ideia de «mel» a surgir como uma ponte entre a materialidade do verniz e um caudal esotérico. O texto curatorial de Borja-Villel conecta essa aceção mais espiritualista do mel com o hinduísmo, citando um Upanishad (texto filosófico-religioso hindu). Salientava assim o declarado interesse de Tàpies por diversas culturas orientais (Ibid., pp. 18-19).

Antes da sua passagem por Portugal, «Tàpies. La Celebració de la Mel» terá sido apresentada no Centro Atlántico de Arte Moderno em Las Palmas, na ilha Grã-Canária (19 jul. – 1 set. 1991). Após ser exposta na FCG, a mostra seguiria para o Pabellón Mudéjar, em Sevilha (12 mar. – 10 mai. 1992), o Kunstverein St. Gallen Kunstmuseum, na Alemanha (5 jun. – 20 set. 1992), a Sala Rekalde, em Bilbau (6 out. – 3 dez. 1992), e a Fundació Antoni Tàpies, em Barcelona (29 jun. – 5 set. 1993).

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00256

Pasta com documentação referente à produção das exposições «Antoni Tàpies. Colecções Europeias» e «Tàpies. Celebració de la Mel». Contém orçamentos, informação relativa a seguros e transporte de obras e epistolografia diversa entre a qual se destaca a referente ao restauro de uma das peças do autor. 1988 – 1993

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00257

Pasta com documentação referente à produção das exposições «Antoni Tàpies. Colecções Europeias» e «Tàpies. Celebració de la Mel». Contém convites e folhetos das iniciativas no Porto e em Lisboa. Constam orçamentos, guias de seguros e transporte de obras e documentação relativa a empréstimos institucionais. 1990 – 1992

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0120-D02616

Coleção fotográfica: inauguração (FCG, Lisboa) 1991

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0120-D02617

Coleção fotográfica: aspetos (FCG, Lisboa) 1991

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0120-D02618

Coleção fotográfica: aspetos (FCG, Lisboa) 1991


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