As conversações para uma exposição individual de Antoni Tàpies (1923-2012) em Portugal remontam ao final da década de 1980. No verão de 1988, a correspondência trocada entre José Sommer Ribeiro, então diretor do Centro de Arte Moderna (CAM) e do Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Calouste Gulbenkian, e Miquel Tàpies, filho do artista catalão e fundador da Fundació Antoni Tàpies, deixa patente o entusiasmo em realizar uma itinerante entre Porto e Lisboa (Carta de Miquel Tàpies para José Sommer Ribeiro, 2 ago. 1988, Arquivos Gulbenkian, CAM 00256).

A iniciativa seria levada a cabo em 1991, em parceria com a Fundação de Serralves. As duas fundações portuguesas diligenciaram contactos com instituições e coleções particulares nacionais e estrangeiras, reunindo as 35 peças da exposição «Obras de Antoni Tàpies nas Colecções Europeias». Organizado com um espírito antológico, o acervo cobria um hiato temporal que ia de 1955 ao ano da mostra, 1991, projetando os desenvolvimentos de quatro décadas de trabalho: desde as pinturas matéricas das décadas de 50 e 60, próximas do informalismo do pós-guerra (sintonizadas com Jean Fautrier e Alberto Burri), às assemblagens dos anos 70, culminando no lirismo expressionista das décadas de 80 e 90. Revia-se assim a multiplicidade de materiais e recursos que caracterizam a linguagem de Tàpies, uma tômbola de texturas, vestígios, sinais, hieróglifos, poéticas.

O tratamento curatorial do acervo ficou a cargo de Fernando Pernes, então diretor cultural da Fundação de Serralves, e, especialmente, de Maria João Fernandes, curadora que assinaria um texto no catálogo – uma edição que também merece aqui destaque. Com o timbre da Fundação de Serralves, recebeu formato bilingue (português/inglês), e apresenta um grande fôlego de conteúdos. Além de várias e importantes contribuições e autorias específicas, o catálogo contava ainda com traduções de dois poemas dedicados a Tàpies – um do mexicano Octavio Paz (1914-1998) e outro do português António Ramos Rosa (1924-2013). Sobressaíam também os textos da autoria do artista e excertos das conversas que mantivera com Barbara Catoir, terminando com uma antologia de textos da crítica em que se destacam nomes como Michel Tapié (1909-1987) e Herbert Read (1893-1968), entre outros.

A exposição seria apresentada primeiro no Porto, na Casa de Serralves, entre 10 de outubro e 24 de novembro de 1991. A FCG recebê-la-ia, por sua vez, na Galeria de Exposições Temporárias da Sede (piso 0), entre 19 de dezembro de 1991 e 26 de janeiro de 1992. Em ambas as ocasiões seria apresentada também a mostra «Tàpies. La Celebració de la Mel», um conjunto de 58 peças em que a utilização plástica do verniz surgia como elemento destacado. Em Lisboa, esse segundo momento decorreria na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01). Do lado da FCG, Maria Helena de Freitas assumiria a coordenação da produção das mostras em Lisboa, em articulação direta com José Sommer Ribeiro.

Mário Soares, então presidente da República Portuguesa, deslocou-se oficialmente à inauguração da mostra em Lisboa (Ofício do Gabinete da Presidência da República para o Centro de Arte Moderna, 19 jul. 1991, Arquivos Gulbenkian, CAM 00256). O evento contaria com a presença do artista, que se reunira, nesse mesmo dia, com alguns críticos de arte portugueses a convite de Sommer Ribeiro (Arquivos Gulbenkian, CAM 00256).

Lamentavelmente, uma das peças seria danificada durante a montagem no Porto, na presença do próprio especialista em restauros de obras de Tàpies, Jesús Marull Dalmau. O artista daria o seu acordo para que Marull procedesse ao restauro da obra, sendo o assunto resolvido rapidamente com a seguradora responsável.

As exposições «Antoni Tàpies. Colecções Europeias» e «Tàpies, Celebració de la Mel» constituíram a primeira apresentação individual da obra de Tàpies em Portugal. Foram precedidas por «A Colecção de Arte da Telefónica de España». Patente na FCG entre setembro e outubro desse mesmo ano de 1991, essa coletiva teve um dos seus núcleos dedicado à obra do artista catalão, que assim exporia ao lado de Pablo Picasso (1881-1973), Juan Gris (1887-1927), Luis Fernández (1900-1973) e Eduardo Chillida (1924-2002).

Daniel Peres, 2018