Em meados de 1988, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) alia-se ao Ministério da Cultura de Espanha (MCE) para trazer a Lisboa uma extensa exposição antológica da obra do artista madrileno Lucio Muñoz (1929-1998). A mostra estava a ser organizada pelo Centro Nacional de Exposiciones da Dirección General de Bellas Artes y Archivo (CNE-DGBAA) e seria apresentada primeiramente no Centro de Arte Reina Sofía (atual Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía), em Madrid, a 14 de setembro de 1988.

O convite é dirigido à FCG ainda em julho de 1988 através de um ofício endereçado a José Sommer Ribeiro por Carmen Giménez, então diretora do CNE-DGBAA (Carta de Carmen Giménez para José Sommer Ribeiro, 20 jul. 1988, Arquivos Gulbenkian, SEM 000406). A Fundação assumiria a coprodução da mostra em Lisboa, firmando, a 8 de novembro, um acordo formal com o MCE, delineando os trâmites dessa organização conjunta (Acordo entre a FCG e MCE, 8 nov. 1988, Arquivos Gulbenkian, SEM 000406).

Após vários meses em articulação direta com Sonsoles Vallina, coordenadora de projetos internacionais do CNE-DGBAA, «Lucio Muñoz» inaugurou na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0) a 19 de janeiro de 1989. O artista marcou presença na inauguração, onde pôde contar com a companhia de Maria Barroso, então primeira-dama de Portugal, José de Azeredo Perdigão, presidente da FCG, e José Sommer Ribeiro, na qualidade de diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG, responsável pela produção e montagem da mostra em Lisboa.

Na Gulbenkian, foram apresentadas 84 das 93 peças que figuraram na exposição de Madrid. Balizadas entre 1952 e 1988, abrangiam toda a obra de maturidade do autor até então, que era subdividida em dois núcleos mais aprofundados: 1955-1965 e 1966-1985. Acompanhava-se assim o trabalho de um dos mais destacados informalistas espanhóis, corrente que, entre os contemporâneos de Muñoz, contou com Manolo Millares (1926-1972) ou o catalão Antoni Tàpies (1923-2012), todos eles vultos significativos do abstracionismo europeu do segundo pós-guerra. A passagem por Paris e a integração nesta frutuosa geração da neovanguarda espanhola foram tónicas constantes no catálogo que a FCG editaria na versão portuguesa.

A exposição encerraria a 19 de fevereiro de 1989. Durante o mês em que esteve patente, o público pode confrontar-se com o universo densamente matérico do expressionismo de Muñoz. A mostra teve merecido eco na imprensa portuguesa, embora longe do mediatismo que a exposição do recentemente criado Centro de Arte Reina Sofía atingira. Um dossiê de imprensa remetido à FCG dá conta dessa vasta cobertura em Espanha, onde, compreensivelmente, este projeto terá significado um importante momento de consagração nacional da obra deste artista madrileno (Arquivos Gulbenkian, SEM 00406).

Daniel Peres, 2018