«Craft Today USA» foi uma exposição organizada pelo American Craft Museum de Nova Iorque, patrocinada pela Philip Morris Internacional e apoiada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. A mostra inaugurou a 3 de dezembro de 1992 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), e esteve patente ao público até 31 de janeiro de 1993.

Registando alguns paralelos com a exposição «Craft Day: Poetry of the Physical», organizada para celebrar a abertura do American Craft Museum, em 1986, a exposição «Craft Today USA» visou homenagear o trabalho realizado nos Estados Unidos da América (EUA) durante a década de 1980 por alguns dos mais importantes artistas-artesãos com obra feita em cerâmica, vidro, fibras têxteis e vegetais, madeira e metal, numa apresentação que abrangeu novos artistas e profissionais conceituados. Pretendeu-se ainda «ilustrar a diversidade e a criatividade da arte americana contemporânea» (Craft Today USA, 1992, s.p.). Foram expostas mais de 200 obras de 181 artistas – a diferença entre este número e o número presente no catálogo da exposição ficou a dever-se à retirada do trabalho de dois artistas presentes no começo da itinerância europeia.

Se o termo «craft» surgiu associado à produção de objetos do dia-a-dia, com a industrialização da sociedade moderna ele adquire novos significados, representando hoje a união entre o trabalho manual e o espírito e trazendo de volta o elemento humano para o quotidiano.

Não se poderá falar do movimento Crafts contemporâneo sem referir o movimento inglês de meados do século XIX Arts & Crafts, ao qual foi buscar as suas bases filosóficas. Liderado por William Morris e influenciado pelo pensamento romântico de John Ruskin, o Arts & Crafts surgiu como manifesto contra a industrialização e o desaparecimento dos valores humanos na produção de objetos, sendo rapidamente divulgado nos EUA associado às artes decorativas.

A especialização resultante da proliferação de disciplinas inseridas nos cursos de belas-artes leva o artesanato norte-americano da década de 80 a definir-se por uma exploração dos métodos tradicionais de diversas culturas, que, apoiada pelos avanços tecnológicos, alia materiais tão distintos como pedras preciosas e tecidos sintéticos.

O resultado da junção destes elementos, presente na exposição, é uma produção marcada por uma «multiplicidade de tendências e [pel]a ausência de um estilo nacional predominante. A diversidade é, na realidade, a imagem de marca americana. A riqueza de inspiração que distingue estas obras reflecte a internacionalização das fontes a que os artistas recorreram graças a uma maior possibilidade de visitar países e museus estrangeiros e de participar em conferências e exposições internacionais» (Craft Today USA, 1992, s.p.).

Segundo Paul J. Smith, diretor emérito do American Craft Museum e comissário da exposição, o conjunto de obras selecionado reflete a sofisticação estética do artesanato artístico contemporâneo, fruto de um envolvimento espiritual entre o artista e o material utilizado.

Esta exposição esteve patente em catorze países europeus, constituindo a primeira grande exposição de obras americanas de artesanato artístico a ser apresentada internacionalmente desde «Objects: USA», mostra realizada nos anos 70, com a curadoria de Lee Nordness e Paul J. Smith.

Carolina Gouveia Matias, 2018